São Paulo, domingo, 26 de julho de 1998

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SAIA JUSTA
Mulher defende direito de ficar sem sexo
Evelson de Freitas/Folha Imagem
Rosa Marya Collin, que está sem sexo há dez anos, não se sente incomodada por isso e busca gastar energia e prazer em atividades como ioga e trabalho


MALU GASPAR
da Reportagem Local


Em tempos pós-liberação sexual, mulheres e homens gastam boa parte do tempo proclamando habilidades, frequência ou experiência sexual. Mas uma minoria, silenciosa, não faz questão de sexo e vive muito bem sem ele.
"Estou sem sexo há dez anos e isso não me incomoda nem um pouco. Tem gente que diz que eu sou louca, fria e que há algo de errado comigo. Mas me considero uma pessoa normal, não sou histérica nem angustiada", diz a cantora Rosa Marya Collin, 52.
Embora pudesse ter vida sexual regular se quisesse, o motivo da abstinência, segundo Rosa, é não ter encontrado alguém que realmente a tivesse conquistado.
"Quando era jovem até transei sem amar, mas, com o tempo, percebi que não era isso. Não acho legal considerar que o sexo é válido de qualquer maneira."
A atriz Lady Francisco supera a marca de Rosa. Neste ano, completa 11 sem sexo. "Posso até sentir atração, fico vermelhinha, mas aquele calor de tesão não sinto."
Segundo Lady, a falta de interesse por sexo vem de mais tempo. Ela também diz viver bem sem sexo, mas acha que isso não teria acontecido se os homens de sua vida não tivessem "contribuído".
"Tive uma educação muito repressora, e meu primeiro marido era muito estúpido. Em cinco anos de casamento, transei no máximo umas 20 vezes", diz a atriz.
Mas não são só as mulheres que se desinteressam do sexo. Segundo os terapeutas sexuais, os homens também passam por isso. "Mas, para eles, é muito mais difícil admitir", diz o terapeuta Oswaldo Rodrigues, do Instituto Paulista de Sexualidade.
Os terapeutas sexuais dizem que o desinteresse por sexo pode ser normal, conforme o paciente.
"Quem nunca faz tem algum problema, porque sexo é da natureza do homem. Mas há pessoas que têm libido diferenciada e menos necessidade", diz a terapeuta sexual Georgia Iema.
"Para alguns pacientes, o importante é saber que essa energia pode ser canalizada para outra coisa", diz Carmita Abdo, coordenadora do projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
Ioga, plantas e bichos
Nas vidas de Rosa e Lady, por exemplo, sai o sexo e entram a ioga, o trabalho, plantas e bichos. O lado espiritual bem desenvolvido também ajuda, dizem elas, que prezam o seu "lado místico" e a "relação com Deus".
Além de fazer ioga -"a ioga ensina a reverter sua energia sexual para outros canais"-, Rosa se ocupa do trabalho. Está lançando um novo CD, "Cores".
Já Lady diz ter se apaixonado por plantas e por bichos - tem sete deles, papagaio, maritaca, gato e cães. "Sou capaz de passar uma hora vendo abrir um ibisco".
Bem-casada
Há quem, mesmo tendo parceiro fixo e nenhum motivo aparente para evitar sexo, prefere a TV ou o computador. A relações-públicas Carmem (nome fictício), 38, se considera bem-casada, admira o marido e gosta dele. Não fosse por isso, diz, nem faria sexo. "Meu desinteresse é total."
Carmem não sabe quando deixou de se interessar por sexo -quando mais jovem gostava de transar. Mas, hoje, mais de dez anos depois de conhecer o marido, diz que sexo cansa.
O motivo também não está muito claro, mas não é o casamento. "Temos uma relação ótima, de confiança e admiração. Ele não passa uma semana sem me elogiar e dizer que me ama."



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