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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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SAÚDE

Jamil Haddad pediu demissão do cargo de diretor-geral após intervenção de ministério; instituto é referência no combate ao câncer

Falta de remédios derruba diretoria do Inca

Domingos Peixoto/"O Globo"
Jamil Haddad, ex-diretor do Inca


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Uma crise de falta de medicamentos e a demissão de diretores insatisfeitos com a administração do Inca (Instituto Nacional do Câncer) levaram ontem o diretor-geral do instituto, Jamil Haddad, a deixar o cargo.
O Ministério da Saúde interveio no instituto, exonerando toda a diretoria do órgão. Uma equipe de técnicos foi enviada ao Rio, onde fica o Inca, para tentar restabelecer o estoque de medicamentos. Interinamente, assumirá o instituto o chefe de Gabinete de Haddad, Walter Roriz.
As mudanças foram anunciadas ontem por Haddad e pelo secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Jorge Solla. Segundo Solla, o ministério queria que Haddad permanecesse no cargo, mas que exonerasse toda a diretoria, nomeada por ele. Haddad afirmou que não teria condições de permanecer no cargo porque havia "perdido a confiança" em pessoas que ele havia indicado.
O ministro da Saúde, Humberto Costa, disse à Folha que apenas Solla falaria sobre o assunto em nome do governo federal.
A crise política e de desabastecimento no Inca começou em maio, mas ficou mais visível na sexta-feira passada, quando os cinco integrantes da Diretoria Executiva de Assistência pediram demissão, alegando não concordar com os procedimentos da Diretoria Executiva de Administração, comandada por Zélia Abdulmacih, que nunca havia atuado no Inca.
O grupo demissionário acusava Abdulmacih de inexperiência administrativa e relacionava sua nomeação à influência política do vereador Sami Jorge (PDT), seu marido. Haddad sempre negou a indicação política. Abdulmacih não foi localizada ontem.
Ontem, no mesmo momento em que Haddad e Solla anunciavam as mudanças no Inca, cerca de cem funcionários pediram exoneração de seus cargos, em solidariedade aos cinco diretores demissionários. No grupo estavam nove dos dez coordenadores de cirurgia do instituto.
Os funcionários afirmaram que continuarão trabalhando normalmente, apesar de não ocuparem mais os cargos de chefia.
O pedido de demissão coletiva foi encarado por Haddad como uma "punhalada nas costas". Ele disse que não foi informado da falta de medicamentos. "O problema do desabastecimento é real, mas isso não foi passado a mim nas reuniões quinzenais que tenho com todos os diretores. Infelizmente, sou obrigado a dizer que essa crise foi institucional e provocada por aqueles que não querem perder privilégios dentro da instituição", disse. Falando em nome do grupo que se demitiu, o diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea, Daniel Tabak, disse que o movimento não é político. "O que existe é uma preocupação com a saúde da população."
Segundo ele, o grupo alertou a direção sobre o risco de desabastecimento. "Esse processo [de desabastecimento] não aconteceu nos últimos cinco dias. O alerta foi soado há vários meses", disse.
O Inca é o maior centro público de referência no tratamento e prevenção de câncer no Brasil. Em 2002, fez 237.193 atendimentos.

Política
Jamil Haddad, que é filiado ao PSB, assumiu o cargo de diretor-geral do instituto em março. Ligado ao ex-presidente Itamar Franco, de quem foi ministro da Saúde, Haddad dizia que sua indicação veio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e não de seu partido.
Ele sofria resistências de um grupo do PT e da Afinca (Associação dos Funcionários do Inca), insatisfeitos com algumas das nomeações para as diretorias.


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