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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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COMPORTAMENTO

Aparelho age em contato com a pele ou com superfície tocada pela pessoa; especialistas criticam uso

Detector de droga será vendido em farmácia

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pais de usuários de drogas vão contar com um novo e polêmico aliado a partir do próximo mês: um aparelho que detecta o consumo de entorpecentes sem que o filho saiba. O detector de drogas será vendido nas farmácias de todo país, com autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Para utilizá-lo, basta passar uma das extremidades do aparelho na pele da pessoa suspeita ou numa superfície com a qual ela tenha tido contato -telefone, volante do carro, mouse de computador, alça de bolsa ou roupa suada. O aparelho possui anticorpos específicos para cada tipo de droga, que apontam a presença de quantidades mínimas da substância.
O resultado -se for positivo, o visor fica vermelho- aparece em dois minutos. O aparelho verifica se houve consumo de drogas até cinco dias anteriores ao teste.
Segundo Linaldo Guimarães Pimentel, diretor da SecureTech, empresa alemã fabricante do aparelho, o detector deverá custar entre R$ 40 e R$ 50. A expectativa é que sejam vendidas nos próximos dois anos 1,4 milhão de unidades.
Para o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, 47, coordenador do Proad (Programa de Orientação e Assistência a Dependentes), ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), esse tipo de aparelho desrespeita a individualidade das pessoas, além de ter eficácia contestada.
Segundo Silveira, os resultados não especificam se a pessoa usou drogas apenas naquele dia, se é um usuário eventual ou se é um dependente químico. "O que o pai vai fazer com uma informação isolada? Isso só cria uma paranóia dentro de casa", avalia o médico.
Silveira classifica como "lamentável" uma relação familiar em que os pais precisam lançar mão de um detector de drogas para fiscalizar o filho.
Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Drogas), o teste pode ser um bom instrumento de diagnóstico para profissionais que trabalham com dependentes de drogas. Monitorar por meio de exames se o paciente está ou não consumindo drogas é um dos meios para verificar a eficácia do tratamento, segundo o psiquiatra.
Porém, ele não concorda que os pais façam uso de um detector de drogas para monitorar os filhos. "Isso ultrapassa a competência da família e demonstra total falta de controle da situação. Se há desconfiança, os pais devem procurar ajuda profissional", afirma.
Na opinião de Linaldo Pimentel, o detector de drogas funciona como "instrumento de aproximação" entre pais e filhos. "Ele auxilia em situações em que não há mais diálogo", afirma.
De acordo com ele, às vezes o jovem precisa de ajuda para abandonar as drogas mas não têm coragem de se abrir com a família. "No fundo, muitos até querem que os pais saibam", diz.
O aparelho possui quatro versões que detectam diferentes tipos de droga: maconha e derivados, como o haxixe; opiáceos, como a morfina e a heroína; cocaína. em todas as formas; e o grupo das anfetaminas, que inclui o ecstasy. Cada detector só pode ser usado uma vez.
Inventado na Alemanha em 1997, o aparelho teve eficácia comprovada pela DEA (agência nacional antidrogas dos Estados Unidos). Países como Inglaterra, Alemanha e França usam o detector junto com o bafômetro para checar o estado físico dos motoristas, segundo Pimentel.


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