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Prefeitura vai à Justiça para retomar área do MuBE
Gestão Kassab afirma que museu de escultura pratica "desvio de finalidade"
Instituição, localizada em área de 700 mil m2 no Jardim Europa, admite promover eventos no local e diz estar em dificuldade financeira
RICARDO GALLO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo
quer retomar na Justiça uma
área de 700 mil m2 onde está
instalado o MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), no Jardim Europa, uma das regiões
mais nobres da cidade. O governo sustenta que o museu
pratica "desvio de finalidade"
-ao alugar, por exemplo, o local para eventos particulares.
"É uma área da prefeitura
usada comercialmente para
venda de automóveis, de jet-ski", afirmou ontem o secretário da Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo.
"É um desvio de finalidade
muito grande. Vamos retomar
o espaço para que ele seja utilizado [pelo município]." O novo
uso não foi definido.
O museu admite promover
eventos no local, mas informou
estar em dificuldades financeiras. Não quis, no entanto, questionar as declarações de Matarazzo. O vice-presidente do
museu, Luiz Seraphico, afirmou que procuraria o secretário, de quem disse ser "amigo
pessoal", para esclarecimentos.
Em funcionamento desde
1995 na avenida Europa, cercado por concessionárias de automóveis importados, o MuBE
foi projetado pelo arquiteto
Paulo Mendes da Rocha. Os
jardins são do paisagista Burle
Marx (1909-1994). Mendes da
Rocha é, ao lado de Oscar Niemeyer, integrante do conselho
internacional do museu.
A proposta da prefeitura,
idéia do ex-prefeito José Serra
(PSDB), é rever a licença do
museu, válida por 99 anos e dada por decreto pelo então prefeito Jânio Quadros em 1987. É
a licença que permite ao MuBE
ocupar o terreno do Jardim
Europa. O argumento é que "as
contrapartidas sociais" são pequenas. Ainda não há prazo definido para pedir a retomada.
"O MuBE é um equipamento
num terreno que custou à prefeitura R$ 30 milhões [à época], um investimento e tanto.
Ele tem que ser viabilizado como espaço público", afirmou
Matarazzo, que critica a precariedade do acervo -que tem
poucas esculturas e não é fixo.
Segundo a Folha apurou, a
Secretaria da Cultura encaminhou à Secretaria dos Negócios
Jurídicos um pedido para revogar o decreto da posse. A avaliação da prefeitura, porém, é que
a remoção do MuBE pode ser
onerosa, já que a direção do
museu pode pedir ressarcimento financeiro por melhorias feitas na área.
Na opinião do arquiteto e
professor da FAU (Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da
USP) Lúcio Gomes Machado,
atualmente o Mube não tem
mais uma função pública. "A
direção do museu não tem primado pelo espírito público, o
que é muito triste. É um desperdício", disse. O calendário
atual oferece cursos como
"olhar fotográfico" e "história
da arte contemporânea".
Para ele, o prédio do Mube é
um dos mais importantes do
país e deve continuar abrigando um museu.
Segundo Marco Gianetti,
pintor e professor da ECA (Escola de Comunicações e Artes
da USP), o Mube é conhecido
como "museu do bufê". "São
realizados no local eventos sem
critério artístico e sem caráter
cultural", disse ele, que já deu
cursos no local.
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