São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Corrupção faz Brasil virar paraíso de megatraficantes

Lavagem de dinheiro e suborno de policiais são facilitados, dizem especialistas

A cooptação de laranjas e a compra de bens com dinheiro vivo também são motivos; em 11 dias, dois colombianos foram presos

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tornou-se um dos destinos prediletos de megatraficantes de cocaína. A principal evidência da mudança são as prisões dos colombianos Juan Carlos Ramírez Abadía e Gustavo Durán Bautista num período de 11 dias -o primeiro no último dia 7, o outro, no dia 18. Se esticar o prazo para o ano passado, pode acrescentar mais um traficante de porte internacional na conta: o também colombiano Pablo Rayo Montano, preso em maio de 2006 pela PF em São Paulo.
A lista pode aumentar. A PF e policiais dos Estados Unidos têm indicações de que companheiros de cartel de Abadía podem estar no Brasil. Um dos suspeitos integra o grupo dos cinco traficantes mais procurados pelos EUA.
Não há uma única razão para explicar por que os traficantes preferem o Brasil. Mas há um motivo que atravessa todas essas razões: a corrupção. O motivo é apontado por especialistas da Polícia Federal, por juízes federais e procuradores. Segundo eles, é a corrupção que facilita a lavagem de dinheiro em grande escala, o suborno de policiais, a cooptação de laranjas e a compra de bens com dinheiro vivo.
As prisões de Abadía, apontado pelos EUA como o maior traficante em atividade do mundo, e Durán Bautista são uma espécie de resumo da ópera das facilidades que o país oferece a traficantes.
Abadía comprou uma mansão na Grande São Paulo, casas de praia em Jurerê Internacional, em Florianópolis, e em Angra dos Reis, no sul do Rio de Janeiro, um sítio em Minas Gerais e uma lancha de R$ 2 milhões sempre com dinheiro vivo. Só com imóveis, o traficante teria gasto cerca de R$ 8 milhões, segundo depoimentos de laranjas do traficante.
Não eram laranjas quaisquer os de Abadía. Um deles tinha uma loja de jet-ski em São Paulo. O outro era piloto e tinha quatro empresas que o traficante usava para movimentar o dinheiro sujo no país.

País das facilidades
"É muito fácil lavar dinheiro no Brasil. O controle é muito precário", diz o delegado da PF Luiz Roberto Ungaretti Godoy, que trabalha na Delegacia de Repressão a Entorpecentes e ajudou a investigar Durán Batista até sua prisão no Uruguai.
O Brasil, na opinião do delegado, é mais atraente para traficantes do que países supostamente mais seguros, como a Venezuela, que não tem escritório do DEA (Drug Enforcement Administration, a agência antidrogas dos EUA) por causa do anti-americanismo do presidente Hugo Chávez.
Abadía estava na Venezuela antes de vir para o Brasil há quatro anos. Aparentemente, saiu de lá porque temia ataques de seus inimigos colombianos, vizinhos de fronteira. Lá também não há a diversidade de negócios que existe no Brasil.


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