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Corrupção faz Brasil virar paraíso de megatraficantes
Lavagem de dinheiro e suborno de policiais são facilitados, dizem especialistas
A cooptação de laranjas e a compra de bens com dinheiro vivo também são motivos; em 11 dias, dois colombianos foram presos
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil tornou-se um dos
destinos prediletos de megatraficantes de cocaína. A principal evidência da mudança são
as prisões dos colombianos
Juan Carlos Ramírez Abadía e
Gustavo Durán Bautista num
período de 11 dias -o primeiro
no último dia 7, o outro, no dia
18. Se esticar o prazo para o ano
passado, pode acrescentar mais
um traficante de porte internacional na conta: o também colombiano Pablo Rayo Montano, preso em maio de 2006 pela PF em São Paulo.
A lista pode aumentar. A PF e
policiais dos Estados Unidos
têm indicações de que companheiros de cartel de Abadía podem estar no Brasil. Um dos
suspeitos integra o grupo dos
cinco traficantes mais procurados pelos EUA.
Não há uma única razão para
explicar por que os traficantes
preferem o Brasil. Mas há um
motivo que atravessa todas essas razões: a corrupção. O motivo é apontado por especialistas
da Polícia Federal, por juízes
federais e procuradores. Segundo eles, é a corrupção que
facilita a lavagem de dinheiro
em grande escala, o suborno de
policiais, a cooptação de laranjas e a compra de bens com dinheiro vivo.
As prisões de Abadía, apontado pelos EUA como o maior
traficante em atividade do
mundo, e Durán Bautista são
uma espécie de resumo da ópera das facilidades que o país
oferece a traficantes.
Abadía comprou uma mansão na Grande São Paulo, casas
de praia em Jurerê Internacional, em Florianópolis, e em Angra dos Reis, no sul do Rio de
Janeiro, um sítio em Minas Gerais e uma lancha de R$ 2 milhões sempre com dinheiro vivo. Só com imóveis, o traficante
teria gasto cerca de R$ 8 milhões, segundo depoimentos de
laranjas do traficante.
Não eram laranjas quaisquer
os de Abadía. Um deles tinha
uma loja de jet-ski em São Paulo. O outro era piloto e tinha
quatro empresas que o traficante usava para movimentar o
dinheiro sujo no país.
País das facilidades
"É muito fácil lavar dinheiro
no Brasil. O controle é muito
precário", diz o delegado da PF
Luiz Roberto Ungaretti Godoy,
que trabalha na Delegacia de
Repressão a Entorpecentes e
ajudou a investigar Durán Batista até sua prisão no Uruguai.
O Brasil, na opinião do delegado, é mais atraente para traficantes do que países supostamente mais seguros, como a
Venezuela, que não tem escritório do DEA (Drug Enforcement Administration, a agência antidrogas dos EUA) por
causa do anti-americanismo do
presidente Hugo Chávez.
Abadía estava na Venezuela
antes de vir para o Brasil há
quatro anos. Aparentemente,
saiu de lá porque temia ataques
de seus inimigos colombianos,
vizinhos de fronteira. Lá também não há a diversidade de
negócios que existe no Brasil.
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