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Indústria alimentícia faz restrição tímida à publicidade infantil
Acordo entre empresas só vale para programas cuja audiência seja predominantemente de crianças, o que quase não existe na TV
Em nenhum programa da TV aberta comercial o público de até 11 anos supera 30%; limitação também não vai atingir canais pagos infantis
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
ÂNGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Um grupo de 24 empresas do
setor alimentício, entre elas
McDonald's, Coca-Cola e Kellogg's, assinou ontem um acordo comprometendo-se a não
fazer publicidade voltada a
crianças de 0 a 12 anos em programas de TV em que 50% ou
mais da audiência seja constituída por esse público. A regra
vale para todas as mídias, como
jornal, rádio, revista e internet.
A medida, contudo, pode se
tornar inócua caso o documento seja seguido ao pé da letra.
Isso porque nenhum programa
da TV aberta comercial tem
mais de 30% de seu público formado por pessoas de 4 a 11
anos, segundo dados do Ibope
na Grande SP -que não mede
audiência de telespectadores
com menos de quatro anos.
Na TV Cultura, só dois programas ("Tudo sobre Animais"
e "X-Tudo Mágica") se enquadram na restrição. Mas a Cultura, desde o final de 2008, não
veicula publicidade comercial
em sua programação infantil.
A limitação nem sequer consegue atingir canais pagos feitos especialmente para crianças. De cada cem telespectadores do Discovery Kids, na média das 7h às 18h, só 31 têm de 4
a 11 anos. No Cartoon Network,
essa participação é um pouco
maior: de cada cem telespectadores, 41 têm de 4 a 11 anos, segundo a medição do Ibope nos
oito maiores mercados de TV
paga, de janeiro a 2 de agosto.
O anúncio é feito quando a
Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) realiza
consulta pública de uma proposta com mais restrições -como veto ao uso de desenhos na
propaganda de alimentos com
muito açúcar ou gordura.
A autorregulamentação
anunciada ontem é semelhante
a acordos firmados na União
Europeia e nos EUA em relação
à publicidade de alimentos para crianças.
A Anvisa e órgãos de defesa
do consumidor consideraram a
medida positiva. Porém, dizem
que não é suficiente, principalmente porque deixa brechas.
"Não deixa de ser um reconhecimento de que as crianças
são mais vulneráveis e precisam ser protegidas", disse Isabella Henriques, do Projeto
Criança e Consumo do Instituto Alana (ONG que atua na área
de educação e cultura).
Isabella e a advogada Daniela
Trettel, do Idec (Instituto de
Defesa do Consumidor), contudo, dizem que é necessária a regulamentação por parte da Anvisa, porque evitará brechas.
A Anvisa aprovou a iniciativa,
mas criticou o percentual mínimo de público infantil estabelecido. A resolução da entidade
deve ser publicada neste ano.
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