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Fundo do governo banca marcha antiaborto
Evento que acontecerá no domingo recebeu R$ 143 mil de dinheiro público administrado pelo Ministério da Cultura
Para ONG que defende
a descriminalização do aborto, uso de verba pública em evento que tem fins religiosos não faz sentido
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma manifestação antiaborto, que quer mobilizar Brasília
no domingo, foi financiada com
dinheiro público. A 3ª Marcha
Nacional da Cidadania Pela Vida recebeu R$ 143 mil do Fundo Nacional da Cultura, um
fundo público do Ministério da
Cultura para financiar projetos
e ações culturais.
A liberação de recursos do
fundo cultural para o evento
provocou reação em diversos
segmentos. "Utilizar verba pública em evento que tem fins
religiosos não faz sentido, sendo o Brasil um país laico", criticou Beatriz Galli, assessora de
direitos humanos do Ipas, ONG
que defende os direitos reprodutivos da mulher.
O projeto "Cultura, Cidadania e Vida", que garantiu os recursos para a marcha, foi apresentado no ano passado pela
ONG Estação da Luz, do Ceará,
e teve recursos garantidos por
uma emenda parlamentar do
deputado Luiz Bassuma (PT-BA), que preside a Frente Parlamentar em Defesa da Vida e
Contra o Aborto.
O presidente da Estação da
Luz, Sidney Girão, disse que a
ONG procurou o deputado Bassuma para pedir apoio ao evento, que, até agora, custou cerca
de R$ 180 mil, segundo ele. A
expectativa é que de 50 mil a 80
mil pessoas compareçam, disse. "[A marcha] é mais uma sensibilização. Não queremos dogmatizar ninguém."
Questionado pela reportagem, Girão afirmou que a entidade não é ligada a nenhuma
religião específica, embora o site da ONG informe que sua
missão "é difundir a cultura da
paz, da vida e da espiritualidade". Entre os projetos da Estação da Luz estão a "Semana
Chico Xavier" e a realização do
filme "Bezerra de Menezes - O
Diário de um Espírito".
Em Brasília, um dos articuladores do evento é o Movimento
Nacional da Cidadania Pela Vida - Brasil sem Aborto. "O movimento é da sociedade e parte
do princípio que a vida humana
tem início na fecundação", disse Jaime Ferreira, um dos organizadores.
O site do movimento traz a
mensagem: "A vida depende do
seu voto; escolha candidatos
que são contra o aborto".
O deputado Miguel Martine
(PHS-MG), que também faz
parte da Frente Parlamentar
em Defesa da Vida, defendeu o
uso de dinheiro público no
evento. "O SUS gasta dinheiro
até para fazer cirurgias de mudança de sexo. Se a lei permite,
por que não usar dinheiro público em defesa da vida?"
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) é uma
das entidades que divulga a
marcha do próximo domingo.
Para o padre Luiz Antônio Bento, o evento irá focar "na beleza
da vida e não só na questão do
aborto".
Um dos enfoques será o julgamento do Supremo Tribunal
Federal sobre a possibilidade
de mães de fetos anencéfalos
terem a permissão para fazer
aborto. Hoje, a lei só permite
suspensão da gestação em caso
de estupro ou risco para mãe.
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