São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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COMPORTAMENTO

Celebrações infantis ganham detalhes e orçamento maior para contemplar sonhos e exibir conquistas da família

Pais utilizam festa dos filhos como vitrine

PAULO SAMPAIO
DA REVISTA

A festa de aniversário está decidida. Começa com coquetel às 13h, almoço para 150 convidados, mesa com 1.200 doces e várias atrações, como os "covers" de Sandy e Júnior. Ao longo da tarde, cinco barracas oferecerão pizza, pastel, cachorro-quente, pipoca e hambúrguer. O parabéns está previsto para as 17h, depois de um videoclipe com os melhores momentos da aniversariante. Detalhe: a personagem em questão, Marcela*, está fazendo um ano.
"A festa do primeiro aninho da criança não é para ela, mas para a mãe. É a hora em que a gente apresenta o filho para a sociedade", explica a empresária Luiza*, 39, mãe da menina.
Nesses casos, quanto mais espetáculo, melhor. No de Marcela, a extensa programação marcada no convite inclui 3.000 balões, mágicos, gincanas, competições e cinco máquinas eletrônicas. Um telão exibirá o tempo todo histórias de princesas, tema da festa, mescladas com a da aniversariante, que será filmada ao vivo.
"A síndrome da celebridade tomou conta do cenário infantil", diz a recreadora de festas infantis Sílvia Paulita, 41, no mercado há 26 anos. "Sei que tenho responsabilidade grande, por isso não toco Xuxa nem Eliana. Mas não adianta brincadeira educativa. Um de meus personagens de maior sucesso é o "fotógrafo de Caras". As crianças adoram posar para ele."
Nessas quase três décadas no ramo, Sílvia teve de gastar seus neurônios para atender à demanda cada vez maior de pais que querem estréia espetacular para os pimpolhos. Chegou a vestir-se de "Mamãe Noel" para levar uma jóia de família a uma criança que ainda não tinha nascido. O pai nem sequer sabia o sexo do bebê. "A mãe, grávida, recebeu a jóia. Quando a menina nasceu, ele me chamou de novo para levar um relógio suíço Bulova", diz Sílvia.
O mercado da criança-evento aplaude de pé. Não existe solicitação absurda o suficiente para intimidá-lo. Vale vestir o bebê de Elvis Presley; colocar um animal selvagem (ou quase) circulando; produzir livrinhos infantis personalizados com o nome de cada convidado na capa. Seja qual for a grande idéia dos pais -a mãe é mais criativa, de acordo com os relatos-, há sempre um profissional para tocar a fantasia.
"As festas chegaram a um ponto de aprimoramento que não dá para preparar tudo sozinha", conta a artista plástica Genny Gari, 50, que há 15 anos trocou a produção de desenhos animados pela de painéis em festinhas infantis.
Fotografar ou filmar em vídeo doméstico também é coisa antiga: bacana é contratar um "videomaker" para fazer um clipe. Ou um show de rock com canhões de luz.
Também pega bem o aniversariante, que lá pelo meio da festa já dormiu, agradecer a presença dos convidados com um presente -o livrinho de histórias com edição limitada, por exemplo.
Para criar o "Animal Kingdom", com cenário de selva que imita o parque da Disney, a empresária de eventos Andréa Guimarães, 34, cobrou R$ 32 mil.


* Nomes trocados

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