São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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EVENTO FOLHA

Em debate, Saraiva Felipe relaciona o aumento de casos de mortalidade por câncer à falta de qualificação profissional

Ministro vê falta de preparo na rede básica

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Saúde, Saraiva Felipe, atribuiu o aumento crescente do número de casos de mortalidade por câncer no país à falta de diagnóstico precoce da doença e à falta de qualificação dos profissionais que atuam, sobretudo, na rede básica de saúde.
Hoje, o câncer é a segunda causa de morte no Brasil, atrás apenas das doenças cardiovasculares. Segundo o ministério, em 2002 foram registradas 130 mil mortes por câncer no país -sendo 70 mil homens e 60 mil mulheres.
A avaliação do ministro foi feita no debate "Qualidade do tratamento de câncer no SUS", realizado no auditório da Folha na quinta-feira passada. Além do ministro, participaram do evento o secretário da Saúde do Estado de São Paulo, Luiz Roberto Barradas Barata, a secretária municipal da Saúde, Maria Cristina Cury, a presidente da Sociedade Paulista de Oncologia Clínica, Nise Yamaguchi, e o presidente da Associação Médica Brasileira, Eleuses Paiva. A mediação foi da repórter da Folha Cláudia Collucci.
Somente no Estado de São Paulo, calcula-se que 39 mil pessoas morram de câncer todos os anos, segundo Barradas Barata.
A organização do atendimento oncológico no Brasil foi regulamentada em 1999, com a instituição da Política Nacional de Controle do Câncer. "Foram criados os Cacons [Centros de Alta Complexidade em Oncologia]", lembrou Felipe. Hoje, são 380 instituições dentro do Cacon, sendo 180 hospitais e o restante serviços de quimioterapia e de radioterapia. No entanto, seis anos depois, o atendimento ainda está abaixo da necessidade da população.
Saraiva Felipe ressaltou que o Ministério da Saúde vem aumentando os recursos para o tratamento de câncer. "Apesar do aumento de gastos, há mais pessoas que chegam com cânceres avançados para tratamento", disse ele. "Os médicos e os profissionais de saúde envolvidos na atenção básica não estão preparados para fazer a detecção precoce do câncer e não fazem com regularidade os exames de prevenção."
O secretário estadual da Saúde rebateu a declaração dizendo que o Estado de São Paulo é "vítima de seu sucesso". "Temos 22% da população brasileira no Estado, mas realizamos 30% dos procedimentos radioterápicos do SUS. Costumo dizer que na área do câncer e em outras áreas da saúde, São Paulo é vítima do seu sucesso."
A secretária municipal de Saúde, Maria Cristina Cury, concordou. "O que São Paulo precisa é reestruturar os encaminhamentos da rede, pois muitas vezes o paciente tem o diagnóstico na mão, mas há a difícil tarefa de encontrar onde fazer o tratamento."
Barradas Barata defende que o ministério mude a forma de dar acesso à assistência farmacêutica aos pacientes, copiando o modelo de sucesso que o ministério implantou na área da Aids. "A minha proposta é que o ministério compre os remédios e os distribua aos centros especializados do mesmo jeito que é feito com o programa de Aids, reconhecido no mundo inteiro como sendo um programa de qualidade." O ministro da Saúde disse achar "extremamente interessante a proposta".


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