São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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AMBIENTE

Sob calor de 40 ºC, bombeiros, soldados e voluntários tentam, sem sucesso, controlar fogo em área extrativista

Incêndio resiste e ameaça reserva no Acre

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM XAPURI

Há oito dias o Corpo de Bombeiros tenta, sem sucesso, controlar um incêndio na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. O parque abrange quase 1 milhão de hectares em cinco municípios.
Além dos bombeiros, soldados do Exército, policiais militares, moradores da reserva e voluntários participam dos trabalhos na floresta em chamas, onde o calor pode ultrapassar os 40 ºC.
Muitos deles carregam nas costas bombas com água que chegam a pesar mais de dez quilos. Ao se aproximar do fogo, é possível ouvir os estalos, semelhantes a tiros, que a floresta faz ao queimar. O ar está seco e o vento espalha a fumaça, dificultando a visibilidade.
"O incêndio está violento, e o pessoal não dá conta de apagar. Está vencendo a gente. Precisamos de aeronaves para combater os focos em locais mais distantes. Se não tivermos mais helicópteros, o estrago vai ser maior ainda", disse o major James Gomes, do Corpo de Bombeiros, que comanda a operação.
Segundo a gerência do Ibama no Acre, não há ainda uma estimativa do dano ambiental nem material causado pelo fogo.
"Se o fogo durar mais 15 dias, possivelmente vamos perder até 50% da nossa produção de borracha. Se seringueira queimar, não produz mais. Isso é tão triste que é difícil descrever. Essa reserva custou tantas vidas, tantas noites de sono, fome e perseguições para acontecer isso", disse o líder seringueiro Raimundo Mendes de Barros, primo de Chico Mendes, morto em 1988 por fazendeiros.
Sem previsão de chuva para os próximos dias, o objetivo do combate tem sido evitar que o fogo se alastre e chegue próximo ao município de Xapuri. Em razão da dificuldade de acesso e da distância, a prioridade são os focos próximos da cidade, onde o comando da operação está montado. Algumas áreas atingidas são acessíveis apenas após duas horas de carro e mais seis de caminhada.
Um helicóptero do Exército cedido pelo Ibama tem ajudado no transporte de pessoal e equipamentos. Ontem, no entanto, ele não apareceu. Para hoje está prevista a chegada de outros dois helicópteros, um do Exército e outro do Ibama. Devem ser usados para transportar os soldados aos locais mais distantes na reserva.
Inicialmente, os bombeiros descerão de rapel em um ponto da floresta, abrirão um pequeno heliponto e montarão um acampamento para abrigar a equipe.
Ontem pela manhã, dez equipes e um total de 93 pessoas estavam no combate dentro da mata. As prioridades eram 21 focos de queimadas identificados por GPS em sobrevôos.
"Moro em Xapuri há mais de 18 anos e nunca vi um fogo como esse", disse o voluntário Raimundo Ribeiro Freitas, que há seis dias ajuda no combate ao fogo.
A alimentação das equipes é fornecida pela Prefeitura de Xapuri, e o combustível para os carros que transportam o pessoal, pelo Deracre (órgão estadual de conservação das estradas).
Todas as noites, lideranças das comunidades, bombeiros e policiais se reúnem na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, no centro da cidade, para fazer um balanço do trabalho e programar as ações seguintes.
Segundo o major James, a maior parte dos incêndios foi provocada por fazendeiros ou pequenos agricultores, alguns deles moradores da própria reserva, que ateiam fogo para limpar o campo desmatado. Como a vegetação está seca em razão da forte estiagem, o fogo se alastra.
As queimadas estão proibidas pelo Ibama desde 17 de agosto. A polícia florestal faz a fiscalização.


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