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AMBIENTE
Sob calor de 40 ºC, bombeiros, soldados e voluntários tentam, sem sucesso, controlar fogo em área extrativista
Incêndio resiste e ameaça reserva no Acre
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM XAPURI
Há oito dias o Corpo de Bombeiros tenta, sem sucesso, controlar um incêndio na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. O
parque abrange quase 1 milhão de
hectares em cinco municípios.
Além dos bombeiros, soldados
do Exército, policiais militares,
moradores da reserva e voluntários participam dos trabalhos na
floresta em chamas, onde o calor
pode ultrapassar os 40 ºC.
Muitos deles carregam nas costas bombas com água que chegam
a pesar mais de dez quilos. Ao se
aproximar do fogo, é possível ouvir os estalos, semelhantes a tiros,
que a floresta faz ao queimar. O ar
está seco e o vento espalha a fumaça, dificultando a visibilidade.
"O incêndio está violento, e o
pessoal não dá conta de apagar.
Está vencendo a gente. Precisamos de aeronaves para combater
os focos em locais mais distantes.
Se não tivermos mais helicópteros, o estrago vai ser maior ainda", disse o major James Gomes,
do Corpo de Bombeiros, que comanda a operação.
Segundo a gerência do Ibama
no Acre, não há ainda uma estimativa do dano ambiental nem
material causado pelo fogo.
"Se o fogo durar mais 15 dias,
possivelmente vamos perder até
50% da nossa produção de borracha. Se seringueira queimar, não
produz mais. Isso é tão triste que é
difícil descrever. Essa reserva custou tantas vidas, tantas noites de
sono, fome e perseguições para
acontecer isso", disse o líder seringueiro Raimundo Mendes de
Barros, primo de Chico Mendes,
morto em 1988 por fazendeiros.
Sem previsão de chuva para os
próximos dias, o objetivo do combate tem sido evitar que o fogo se
alastre e chegue próximo ao município de Xapuri. Em razão da dificuldade de acesso e da distância,
a prioridade são os focos próximos da cidade, onde o comando
da operação está montado. Algumas áreas atingidas são acessíveis
apenas após duas horas de carro e
mais seis de caminhada.
Um helicóptero do Exército cedido pelo Ibama tem ajudado no
transporte de pessoal e equipamentos. Ontem, no entanto, ele
não apareceu. Para hoje está prevista a chegada de outros dois helicópteros, um do Exército e outro
do Ibama. Devem ser usados para
transportar os soldados aos locais
mais distantes na reserva.
Inicialmente, os bombeiros descerão de rapel em um ponto da
floresta, abrirão um pequeno heliponto e montarão um acampamento para abrigar a equipe.
Ontem pela manhã, dez equipes
e um total de 93 pessoas estavam
no combate dentro da mata. As
prioridades eram 21 focos de
queimadas identificados por GPS
em sobrevôos.
"Moro em Xapuri há mais de 18
anos e nunca vi um fogo como esse", disse o voluntário Raimundo
Ribeiro Freitas, que há seis dias
ajuda no combate ao fogo.
A alimentação das equipes é
fornecida pela Prefeitura de Xapuri, e o combustível para os carros que transportam o pessoal,
pelo Deracre (órgão estadual de
conservação das estradas).
Todas as noites, lideranças das
comunidades, bombeiros e policiais se reúnem na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Xapuri, no centro da cidade, para
fazer um balanço do trabalho e
programar as ações seguintes.
Segundo o major James, a
maior parte dos incêndios foi provocada por fazendeiros ou pequenos agricultores, alguns deles moradores da própria reserva, que
ateiam fogo para limpar o campo
desmatado. Como a vegetação está seca em razão da forte estiagem, o fogo se alastra.
As queimadas estão proibidas
pelo Ibama desde 17 de agosto. A
polícia florestal faz a fiscalização.
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