|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARIA INÊS DOLCI
Democracia digital
Os blogs e as trocas comunitárias de e-mails são, para os consumidores, forças ainda pouco exploradas
|
JOVENS DE antigamente -e
muitas, até hoje- costumavam
registrar suas alegrias e tristezas em um caderninho ou livreto, o
diário, que era fechado a sete chaves,
para que suas confissões não fossem
lidas por abelhudos, em casa ou na
escola.
A tecnologia da informação, com a
internet, os computadores de alta
capacidade de processamento, os
softwares avançados e a banda larga
(ainda que com muitas falhas) mudaram esse hábito. Hoje, proliferam
os diários digitais, os blogs, em que
as pessoas registram de opiniões sobre política, futebol e música a temas específicos, como defesa do
consumidor -sem a intenção de fazer propaganda em causa própria,
juro!, direito, jornalismo, automóveis etc.
Rapidamente, um tema ganha relevância, e até repercussão nacional
ou mundial, ao ser divulgado e comentado em um blog. Mas blogs e as
trocas comunitárias de e-mails são,
para os consumidores, forças ainda
pouco exploradas. Porque não há
como as empresas não se manifestarem sobre e-mails que se propagam
on-line, atestando problemas em
produtos ou serviços.
Da mesma forma, os blogs são veículos excelentes para discutir segurança veicular, liberdade para os testes comparativos de produtos e de
serviços, estatuto do torcedor, tarifas bancárias, dificuldade para cancelar um contrato de telefone celular ou de banda larga. Blogs de defesa do consumidor são olhos e ouvidos atentos às benesses pré-eleitorais, aos crimes contra os direitos de
quem adquire produtos e serviços,
públicos ou privados.
São as ágoras digitais, em que, a
exemplo dos primórdios da democracia na Grécia, se discute de tudo,
abertamente. Lamentavelmente, o
clima de confronto político que se
instaurou no Brasil, nos últimos
anos, propiciou o surgimento de
uma "tropa de vigilantes partidários", que acompanha todas as manifestações do pensamento na internet, refutando com raiva, violência e deselegância comentários baseados em fatos.
Quem tem um blog com alguma
repercussão sabe exatamente a que
me refiro. Essa é uma subutilização
dos diários, pois as discussões de temas que interessam ao eleitor, ao
contribuinte, ao consumidor são esteios de sua cidadania. Tratá-los como uma briga entre seguidores de
seitas políticas é lastimável, uma
perda de tempo e de oportunidade.
Temos não só que participar dos
debates dos blogs, intensificando a
cobrança de nossos direitos de consumidores, como estimular a criação de outros espaços como os que já
existem (hoje, principalmente, vinculados aos grandes jornais). E cobrar das empresas às quais emprestamos nossa fidelidade de compra
que se exponham também com
blogs -estima-se, hoje, que dezenas
de milhares de companhias, em todo o mundo, tenham diários digitais.
Críticas, sugestões, dúvidas e elogios -por que não?- chegam on-line a quem de direito, publicamente,
o que é muito mais eficaz. A liberdade de expressão é o melhor antídoto
à tentação, às vezes confessada em
jantares íntimos, de restringir a democracia. Ponto para a tecnologia e
para seus usuários.
NA INTERNET -
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br
Texto Anterior: Delegado espera decisão da Justiça Próximo Texto: Consumo: Consumidora protesta contra cobrança de boleto bancário Índice
|