São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2006

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MARIA INÊS DOLCI

Democracia digital


Os blogs e as trocas comunitárias de e-mails são, para os consumidores, forças ainda pouco exploradas

JOVENS DE antigamente -e muitas, até hoje- costumavam registrar suas alegrias e tristezas em um caderninho ou livreto, o diário, que era fechado a sete chaves, para que suas confissões não fossem lidas por abelhudos, em casa ou na escola.
A tecnologia da informação, com a internet, os computadores de alta capacidade de processamento, os softwares avançados e a banda larga (ainda que com muitas falhas) mudaram esse hábito. Hoje, proliferam os diários digitais, os blogs, em que as pessoas registram de opiniões sobre política, futebol e música a temas específicos, como defesa do consumidor -sem a intenção de fazer propaganda em causa própria, juro!, direito, jornalismo, automóveis etc.
Rapidamente, um tema ganha relevância, e até repercussão nacional ou mundial, ao ser divulgado e comentado em um blog. Mas blogs e as trocas comunitárias de e-mails são, para os consumidores, forças ainda pouco exploradas. Porque não há como as empresas não se manifestarem sobre e-mails que se propagam on-line, atestando problemas em produtos ou serviços.
Da mesma forma, os blogs são veículos excelentes para discutir segurança veicular, liberdade para os testes comparativos de produtos e de serviços, estatuto do torcedor, tarifas bancárias, dificuldade para cancelar um contrato de telefone celular ou de banda larga. Blogs de defesa do consumidor são olhos e ouvidos atentos às benesses pré-eleitorais, aos crimes contra os direitos de quem adquire produtos e serviços, públicos ou privados.
São as ágoras digitais, em que, a exemplo dos primórdios da democracia na Grécia, se discute de tudo, abertamente. Lamentavelmente, o clima de confronto político que se instaurou no Brasil, nos últimos anos, propiciou o surgimento de uma "tropa de vigilantes partidários", que acompanha todas as manifestações do pensamento na internet, refutando com raiva, violência e deselegância comentários baseados em fatos.
Quem tem um blog com alguma repercussão sabe exatamente a que me refiro. Essa é uma subutilização dos diários, pois as discussões de temas que interessam ao eleitor, ao contribuinte, ao consumidor são esteios de sua cidadania. Tratá-los como uma briga entre seguidores de seitas políticas é lastimável, uma perda de tempo e de oportunidade.
Temos não só que participar dos debates dos blogs, intensificando a cobrança de nossos direitos de consumidores, como estimular a criação de outros espaços como os que já existem (hoje, principalmente, vinculados aos grandes jornais). E cobrar das empresas às quais emprestamos nossa fidelidade de compra que se exponham também com blogs -estima-se, hoje, que dezenas de milhares de companhias, em todo o mundo, tenham diários digitais.
Críticas, sugestões, dúvidas e elogios -por que não?- chegam on-line a quem de direito, publicamente, o que é muito mais eficaz. A liberdade de expressão é o melhor antídoto à tentação, às vezes confessada em jantares íntimos, de restringir a democracia. Ponto para a tecnologia e para seus usuários.

NA INTERNET - http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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