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Solto, "João negro" não pode
ter a carteira assinada por
ser, oficialmente, foragido
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mês depois de ter sido
solto, João Pereira da Silva,
34, o "João negro", que passou dez meses a mais na cadeia cumprindo pena no lugar de seu homônimo, conseguiu emprego. Mas não
pode começar a trabalhar
com carteira assinada.
Toda vez que vai tirar os
documentos, consta no sistema oficial de informações
que ele está sendo procurado
pela polícia. Não adianta explicar que não é ele, mas o
"João branco", 28, homônimo, com mesmo nome de pai
e mãe, que está foragido.
Em 1999, "João branco"
fugiu da penitenciária de
Hortolândia, região de Campinas, quando cumpria condenação de três anos e meio
por roubar, com uma arma,
R$ 162. Cinco anos depois,
"João negro" foi condenado
a um ano de prisão por furtar
uma carteira com R$ 10. A
Justiça, porém, aplicou a pena de "João branco" a ele,
que ficou um ano e dez meses preso. "João negro" foi
solto quando a Folha mostrou que exames datiloscópicos comprovaram que se
tratava de duas pessoas.
Ao sair da penitenciária de
Franco da Rocha, na Grande
São Paulo, na tarde de 25 de
agosto, "João negro" tinha
três desejos: ver o mar, cortar o cabelo e voltar a trabalhar como açougueiro. O primeiro ainda não foi realizado por falta de dinheiro. O
segundo acabou sendo colocado em prática imediatamente. "Cortei o cabelo no
primeiro fim de semana de
liberdade." O terceiro desejo
está no meio-termo.
João conseguiu trabalho
em um açougue na rua da Cantareira, mas não pode ser registrado enquanto sua situação
não for regularizada. "A juíza
me disse que ainda levará 20
dias para voltar ao normal, mas
não posso mais esperar", diz.
"Amanhã [hoje] vou lá no açougue ver se faço uns bicos."
Nesse primeiro mês em liberdade, João sobreviveu dormindo em albergues. Agora está no da Luz, centro da cidade.
Também recebeu um dinheiro
que a antiga firma em que trabalhava ficou lhe devendo.
"Mas só deu para comprar algumas roupas e um celular."
Enquanto isso, o advogado
da Pastoral Carcerária que o
ajudou, José de Jesus Filho,
afirma que deverá entrar com
uma ação indenizatória contra
o Estado. "Alguém tem de ser
responsabilizado pelo erro, já
que o tempo que João perdeu
não tem como ser recuperado."
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