São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2006

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Solto, "João negro" não pode ter a carteira assinada por ser, oficialmente, foragido

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um mês depois de ter sido solto, João Pereira da Silva, 34, o "João negro", que passou dez meses a mais na cadeia cumprindo pena no lugar de seu homônimo, conseguiu emprego. Mas não pode começar a trabalhar com carteira assinada.
Toda vez que vai tirar os documentos, consta no sistema oficial de informações que ele está sendo procurado pela polícia. Não adianta explicar que não é ele, mas o "João branco", 28, homônimo, com mesmo nome de pai e mãe, que está foragido.
Em 1999, "João branco" fugiu da penitenciária de Hortolândia, região de Campinas, quando cumpria condenação de três anos e meio por roubar, com uma arma, R$ 162. Cinco anos depois, "João negro" foi condenado a um ano de prisão por furtar uma carteira com R$ 10. A Justiça, porém, aplicou a pena de "João branco" a ele, que ficou um ano e dez meses preso. "João negro" foi solto quando a Folha mostrou que exames datiloscópicos comprovaram que se tratava de duas pessoas.
Ao sair da penitenciária de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, na tarde de 25 de agosto, "João negro" tinha três desejos: ver o mar, cortar o cabelo e voltar a trabalhar como açougueiro. O primeiro ainda não foi realizado por falta de dinheiro. O segundo acabou sendo colocado em prática imediatamente. "Cortei o cabelo no primeiro fim de semana de liberdade." O terceiro desejo está no meio-termo.
João conseguiu trabalho em um açougue na rua da Cantareira, mas não pode ser registrado enquanto sua situação não for regularizada. "A juíza me disse que ainda levará 20 dias para voltar ao normal, mas não posso mais esperar", diz. "Amanhã [hoje] vou lá no açougue ver se faço uns bicos."
Nesse primeiro mês em liberdade, João sobreviveu dormindo em albergues. Agora está no da Luz, centro da cidade. Também recebeu um dinheiro que a antiga firma em que trabalhava ficou lhe devendo. "Mas só deu para comprar algumas roupas e um celular."
Enquanto isso, o advogado da Pastoral Carcerária que o ajudou, José de Jesus Filho, afirma que deverá entrar com uma ação indenizatória contra o Estado. "Alguém tem de ser responsabilizado pelo erro, já que o tempo que João perdeu não tem como ser recuperado."

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