São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007

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Dois irmãos são torturados e mortos na serra da Cantareira

Para polícia, Josenildo, 13, e Francisco, 14, foram vítimas de um maníaco

Policiais chegaram aos corpos após saber que outros três jovens tinham sido atacados por um homem no mesmo dia e local

AFRA BALAZINA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois irmãos adolescentes foram encontrados mortos, na manhã de ontem, na mata fechada da serra da Cantareira (zona norte de São Paulo). A polícia diz acreditar que os dois, desaparecidos desde sábado, tenham sido torturados e vítimas de abuso sexual.
Os corpos nus de Josenildo José Ferreira de Oliveira, 13, e Francisco Ferreira de Oliveira Neto, 14, foram localizados porque outros três garotos conseguiram fugir de um outro ataque na mata, também no sábado. Todos são moradores do Jardim Paraná, zona norte, região de baixa renda com esgoto a céu aberto e ruas de terra.
A polícia, que já fala na ação de um "maníaco", diz que chegou aos corpos após saber, por moradores da região, do ataque contra os três meninos.
Segundo o capitão Luiz Fiori, comandante do COE (Comando de Operações Especiais), da Polícia Militar, um desses três meninos disse que ele e os amigos foram abordados por um homem negro que dizia estar armado. O homem, que tinha cerca de 1,70 m e 30 anos, segundo relato do menino, tentou amarrá-los com uma corda -mas eles conseguiram fugir.

Sinais de tortura
Os irmãos Josenildo e Francisco, porém, não conseguiram escapar. Segundo a polícia, o mais novo tinha pelo menos 15 perfurações espalhadas pelo corpo. Já o mais velho tinha o braço direito quebrado, além de um corte profundo no peito e outras perfurações.
Segundo o delegado Raul Machado Tilcher, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), os ferimentos foram feitos com arma branca (faca, por exemplo).
Os corpos foram retirados da mata separadamente por um helicóptero da PM, entre as 16h15 e as 16h30 de ontem. Para possibilitar o resgate aéreo dos corpos e evitar que os policiais os carregassem por 1,5 km até sair da mata, foi necessário cortar parte da vegetação.
Para o delegado César Camargo, da 4ª Seccional, uma lança feita de madeira, não muito contundente, pode ter sido o instrumento usado para machucar os irmãos. Para o delegado Nelson Camargo Rosa, do 72º DP (Vila Penteado), só a perícia poderá confirmar exatamente o que houve, "porque os corpos já estão em adiantado estado [de decomposição]".
Apesar de os delegados falarem na ação de um "maníaco", Rosa diz acreditar que o criminoso tenha tido ajuda. "Uma pessoa sozinha não teria como segurar os dois rapazes."
Perto dos corpos havia uma espécie de casa na árvore -a cerca de dez metros de altura- que pode ter sido usada pelo criminoso. Também foram achados embalagens de preservativo no local -o que, para a polícia, pode ser um indício de violência sexual.
De acordo com Rosa, o irmão mais velho foi amarrado a uma árvore e torturado. Há cordas e sangue no local. Depois, ele foi arrastado e atirado na ribanceira -onde ficou preso à vegetação-, segundo indica um rastro de sangue.
Perto de um dos garotos, a polícia achou ainda uma arcada dentária e um osso que parece ser parte de um fêmur de criança. Os fragmentos estariam no local há pelos menos um ano e meio, segundo a perícia inicial.
"Eles só iam de casa para a escola e vice-versa. Não tinham inimigos", disse Iracema Oliveira Costa, tia das vítimas. Ela conta que os dois garotos foram ver um pé de jaca perto da casa onde moravam quando desapareceram. Outra tia, Lindalva da Silva Barbosa, aos prantos, teve de ser amparada ontem por um filho e um vizinho.

Trilha
Para chegar até os corpos, a polícia percorreu uma subida bastante íngreme, onde era possível ver, em diferentes trechos da trilha, um cobertor, uma camisa xadrez e cinzas de uma fogueira. Perto do local, dois garotos andavam a cavalo no meio da mata. "Medo quem não tem? Mas venho sempre passear com o cavalo e dar comida para ele aqui na mata", disse um menino de 16 anos.


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