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Dois irmãos são torturados e mortos na serra da Cantareira
Para polícia, Josenildo, 13, e Francisco, 14, foram vítimas de um maníaco
Policiais chegaram aos corpos após saber que outros três jovens tinham sido atacados por um homem
no mesmo dia e local
AFRA BALAZINA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois irmãos adolescentes foram encontrados mortos, na
manhã de ontem, na mata fechada da serra da Cantareira
(zona norte de São Paulo). A
polícia diz acreditar que os
dois, desaparecidos desde sábado, tenham sido torturados e
vítimas de abuso sexual.
Os corpos nus de Josenildo
José Ferreira de Oliveira, 13, e
Francisco Ferreira de Oliveira
Neto, 14, foram localizados
porque outros três garotos conseguiram fugir de um outro ataque na mata, também no sábado. Todos são moradores do
Jardim Paraná, zona norte, região de baixa renda com esgoto
a céu aberto e ruas de terra.
A polícia, que já fala na ação
de um "maníaco", diz que chegou aos corpos após saber, por
moradores da região, do ataque
contra os três meninos.
Segundo o capitão Luiz Fiori,
comandante do COE (Comando de Operações Especiais), da
Polícia Militar, um desses três
meninos disse que ele e os amigos foram abordados por um
homem negro que dizia estar
armado. O homem, que tinha
cerca de 1,70 m e 30 anos, segundo relato do menino, tentou amarrá-los com uma corda
-mas eles conseguiram fugir.
Sinais de tortura
Os irmãos Josenildo e Francisco, porém, não conseguiram
escapar. Segundo a polícia, o
mais novo tinha pelo menos 15
perfurações espalhadas pelo
corpo. Já o mais velho tinha o
braço direito quebrado, além
de um corte profundo no peito
e outras perfurações.
Segundo o delegado Raul
Machado Tilcher, do DHPP
(Departamento de Homicídios
e Proteção à Pessoa), os ferimentos foram feitos com arma
branca (faca, por exemplo).
Os corpos foram retirados da
mata separadamente por um
helicóptero da PM, entre as
16h15 e as 16h30 de ontem. Para possibilitar o resgate aéreo
dos corpos e evitar que os policiais os carregassem por 1,5 km
até sair da mata, foi necessário
cortar parte da vegetação.
Para o delegado César Camargo, da 4ª Seccional, uma
lança feita de madeira, não
muito contundente, pode ter
sido o instrumento usado para
machucar os irmãos. Para o delegado Nelson Camargo Rosa,
do 72º DP (Vila Penteado), só a
perícia poderá confirmar exatamente o que houve, "porque
os corpos já estão em adiantado
estado [de decomposição]".
Apesar de os delegados falarem na ação de um "maníaco",
Rosa diz acreditar que o criminoso tenha tido ajuda. "Uma
pessoa sozinha não teria como
segurar os dois rapazes."
Perto dos corpos havia uma
espécie de casa na árvore -a
cerca de dez metros de altura-
que pode ter sido usada pelo
criminoso. Também foram
achados embalagens de preservativo no local -o que, para a
polícia, pode ser um indício de
violência sexual.
De acordo com Rosa, o irmão
mais velho foi amarrado a uma
árvore e torturado. Há cordas e
sangue no local. Depois, ele foi
arrastado e atirado na ribanceira -onde ficou preso à vegetação-, segundo indica um rastro de sangue.
Perto de um dos garotos, a
polícia achou ainda uma arcada
dentária e um osso que parece
ser parte de um fêmur de criança. Os fragmentos estariam no
local há pelos menos um ano e
meio, segundo a perícia inicial.
"Eles só iam de casa para a escola e vice-versa. Não tinham
inimigos", disse Iracema Oliveira Costa, tia das vítimas. Ela
conta que os dois garotos foram
ver um pé de jaca perto da casa
onde moravam quando desapareceram. Outra tia, Lindalva da
Silva Barbosa, aos prantos, teve
de ser amparada ontem por um
filho e um vizinho.
Trilha
Para chegar até os corpos, a
polícia percorreu uma subida
bastante íngreme, onde era
possível ver, em diferentes trechos da trilha, um cobertor,
uma camisa xadrez e cinzas de
uma fogueira. Perto do local,
dois garotos andavam a cavalo
no meio da mata. "Medo quem
não tem? Mas venho sempre
passear com o cavalo e dar comida para ele aqui na mata",
disse um menino de 16 anos.
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