São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007

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Comerciante mata a mulher, os filhos e destrói 17 carros

Ataques foram feitos com um martelo, em favela de São Paulo; agressor chegou a depredar carro da polícia antes de ser morto

De acordo com a PM, que baleou o agressor, ele resistiu à prisão; crianças e a mãe foram mortas em casa, que foi toda destruída

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Pára-brisa de um dos 17 carros destruídos por Zelito Araújo, que matou a mulher e os filhos

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Armado com um martelo, o comerciante Zelito Jesus de Araújo, 41, assassinou a mulher, de 44 anos, e os dois filhos do casal, de 9 e 8 anos, dentro de casa, que ficou destruída. O crime foi ontem de madrugada, na favela Santa Terezinha, em Santo Amaro, zona sul de SP.
Ele ainda quebrou móveis, geladeira, fogão e o registro de água -inundando o local até o calcanhar. Depois, gritando palavras desconexas e girando o martelo sobre a cabeça, saiu da residência e, furioso, danificou 17 carros estacionados na rua Eduardo Magalhães.
Acordados pelo barulho das marteladas nos carros, os vizinhos chamaram a Polícia Militar. Araújo ainda quebrou as lanternas de um veículo da PM que se aproximava e quando se preparava para destruir o outro carro da corporação, um policial o baleou e o matou.
A PM diz que ele foi baleado porque resistiu à prisão.
Ontem, os vizinhos perguntavam o que motivou Araújo a golpear a cabeça de Maria Socorro Barboza Branco, numa laje, Gênesis, 9, na garagem, e Lucas, 8, no beliche.
"Antes das 3 horas ouvi gritos de socorro. Eram da família dele. Depois, ele saiu como um louco com o martelo na mão, gritando coisas sem sentido, como se estivesse com dores. Os vizinhos tentaram contê-lo, mas não deu. A solução foi chamar a polícia", disse a doméstica Vaná da Silva, 35, que assistiu à cena da frente de casa.

Problemas de saúde
Para Valter Carvalho, delegado do 98º Distrito Policial (Jardim Miriam), a suspeita maior é que o que crime tenha sido provocado em conseqüência do "problema de saúde do agressor, que era epiléptico, sofria crises, discutiu e ficou furioso".
Araújo deixara de tomar remédios controlados para conter as convulsões e discutia sempre com a mulher.
Parentes das vítimas e do agressor confirmaram à Folha que Araújo não tomava o medicamento Gardenal havia algumas semanas a pedido de um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus no bairro Pedreira, que ele freqüentava.
A igreja disse que os pastores não são orientados a estimular os freqüentadores a interromper tratamentos médicos.
Um dos motivos das brigas, de acordo com a polícia e os vizinhos, era o fato de ele não gostar dos outros dois filhos, de 18 e 20 anos, de outro relacionamento que Maria teve.
O irmão de Maria Branco, Antonio Barboza Neto, 48, disse que apesar de seu cunhado tê-la agredido pelo menos outras três vezes antes do crime, ele jamais imaginou que Araújo pudesse vir a matá-la.
"Ele tinha os problemas das convulsões. Falava com a gente e depois caia, tremendo todo. Depois quando voltava a si ficava nervoso e queria brigar. Mas achei que não ia além disso", afirmou Barboza Neto.
Antes de vender guarda-chuvas e balas na garagem de casa, Araújo trabalhava como pedreiro. Mas estava aposentado havia cinco anos da empresa por problemas de saúde.

Crises
Segundo ele, o comerciante teve crises epilépticas anteontem e no sábado, quando foi levado para uma consulta num hospital da região. Ele foi embora antes de ser atendido.
Para Elza Márcia Yacubian, neurologista da unidade de pesquisa e tratamento de epilepsias da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), "existe uma chance" de o agressor com o problema ter "um quadro de psicose pós-epiléptica e cometer ações graves" se não tomar medicação, "mas é raro".


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