|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ricos e pobres comem mal, aponta pesquisa
Estudo da Unifesp em parceria com a USP mostra que faltam cálcio, magnésio e as vitaminas A, C, D e E na mesa do brasileiro
Entre entrevistados das classes A e B, o índice de sobrepeso/obesidade encontrado foi maior que entre as classes C, D e E
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em pelo menos uma questão,
pobres e ricos no Brasil estão
no mesmo patamar: consomem pouca quantidade de vitaminas e minerais e estão com
sobrepeso. Pesquisa da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo) em parceria com a USP,
divulgada ontem, mostra que
em todas as classes sociais a
dieta do brasileiro é ruim.
Entre os nutrientes importantes que estão em falta na
mesa do brasileiro estão as vitaminas C (encontrada nas frutas
cítricas), A (vegetais de pigmento amarelo), D (gema de
ovo e fígado) e E (óleos vegetais
e soja, por exemplo), cálcio (leite e verduras escuras) e magnésio (cereais em grãos).
Entre entrevistados das classes A e B, o índice de sobrepeso/obesidade encontrado foi de
60%, oito pontos percentuais
acima da taxa de pessoas das
classes C, D e E (52%). Baixo
peso (IMC inferior a 18,5) só foi
encontrado em 3% dos pesquisados, sem diferenças de gênero ou classe social.
O estudo foi patrocinado pela
multinacional Wyeth Consumer Healthcare, que produz
suplementos vitamínicos e nutricionais. Foram ouvidas
2.420 pessoas (entrevistas de
porta em porta), em 150 municípios das cinco regiões do país.
"A gente esperava que nas
classes A e B houvesse um consumo melhor de vitaminas e
minerais. Mas não houve diferença nem entre as classes sociais nem entre as regiões do
país. Isso mostra que o problema não é econômico, mas sim
de hábito cultural", afirma o
reumatologista Marcelo Pinheiro, professor da Unifesp e
coordenador do estudo.
A única diferença entre as
classes sociais está no consumo
de cálcio. Entre as classes A e B,
a média é de 650 mg diários. Já
entre o público D e E, é de 350
mg/dia. A média nacional é de
400 mg/dia, um terço da recomendação internacional.
Um copo de leite tem, em
média, 300 mg do mineral, e
meia xícara de brócolis cozido
tem outros 187 mg. O cálcio
previne a osteoporose e reduz o
risco de hipertensão.
Segundo Pinheiro, o prato típico do brasileiro (arroz, feijão
e bife) está adequado em quantidade de macronutrientes
(proteínas, gordura e carboidratos), mas precisa ser incrementado com mais hortaliças,
legumes, frutas e leite. "E não
basta uma folha de alface. Tem
de colocar todos os vegetais folhosos, ricos em vitaminas."
Para Andrea Ramalho, professora de saúde pública da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro e consultora do Ministério da Saúde, a população sabe o que é uma dieta equilibrada, mas, em geral, não põe o conhecimento em prática.
"E não o faz porque diz que
não tem tempo, não tem onde
comer, não gosta. Mudar padrão alimentar não é uma tarefa fácil
nem obtida em
curto espaço de tempo", afirma.
Na sua opinião, quando não
há mudança no tipo de alimentação recomendada, estratégias como suplementação vitamínica ou alimentos enriquecidos devem ser adotadas. "Se há
alterações bioquímicas nos
exames de sangue, não dá para
deixar o indivíduo padecer por
uma carência que pode ser revertida em 48 horas."
Ela cita o exemplo de uma
gestação. "Se você encontra
uma mãe no pré-natal com carência de vitamina A, ácido fólico e ferro, não há tempo para
mudar o padrão alimentar, é
preciso sim lançar mão de outras estratégias."
O nutrólogo Edson Credidio,
diretor da Sociedade Brasileira
de Nutrologia, diz que "o melhor polivitamínico é a quitanda ou o varejão, e não o remédio". "Não adianta usar megadoses de vitaminas e nutrientes. O excesso sai na urina."
Para Credidio, a carência de
vitaminas está relacionada ao
fato de que muitas pessoas pararam de consumir leite ou
ovos, por exemplo, por acreditarem que eles fazem mal à saúde. "É um erro grotesco."
Texto Anterior: Chamada de inútil por Serra, ponte estaiada custará R$ 71 mi a mais Próximo Texto: Estudo foi pago por fabricante de vitaminas Índice
|