São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007

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Ricos e pobres comem mal, aponta pesquisa

Estudo da Unifesp em parceria com a USP mostra que faltam cálcio, magnésio e as vitaminas A, C, D e E na mesa do brasileiro

Entre entrevistados das classes A e B, o índice de sobrepeso/obesidade encontrado foi maior que entre as classes C, D e E

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em pelo menos uma questão, pobres e ricos no Brasil estão no mesmo patamar: consomem pouca quantidade de vitaminas e minerais e estão com sobrepeso. Pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em parceria com a USP, divulgada ontem, mostra que em todas as classes sociais a dieta do brasileiro é ruim.
Entre os nutrientes importantes que estão em falta na mesa do brasileiro estão as vitaminas C (encontrada nas frutas cítricas), A (vegetais de pigmento amarelo), D (gema de ovo e fígado) e E (óleos vegetais e soja, por exemplo), cálcio (leite e verduras escuras) e magnésio (cereais em grãos).
Entre entrevistados das classes A e B, o índice de sobrepeso/obesidade encontrado foi de 60%, oito pontos percentuais acima da taxa de pessoas das classes C, D e E (52%). Baixo peso (IMC inferior a 18,5) só foi encontrado em 3% dos pesquisados, sem diferenças de gênero ou classe social.
O estudo foi patrocinado pela multinacional Wyeth Consumer Healthcare, que produz suplementos vitamínicos e nutricionais. Foram ouvidas 2.420 pessoas (entrevistas de porta em porta), em 150 municípios das cinco regiões do país.
"A gente esperava que nas classes A e B houvesse um consumo melhor de vitaminas e minerais. Mas não houve diferença nem entre as classes sociais nem entre as regiões do país. Isso mostra que o problema não é econômico, mas sim de hábito cultural", afirma o reumatologista Marcelo Pinheiro, professor da Unifesp e coordenador do estudo.
A única diferença entre as classes sociais está no consumo de cálcio. Entre as classes A e B, a média é de 650 mg diários. Já entre o público D e E, é de 350 mg/dia. A média nacional é de 400 mg/dia, um terço da recomendação internacional.
Um copo de leite tem, em média, 300 mg do mineral, e meia xícara de brócolis cozido tem outros 187 mg. O cálcio previne a osteoporose e reduz o risco de hipertensão.
Segundo Pinheiro, o prato típico do brasileiro (arroz, feijão e bife) está adequado em quantidade de macronutrientes (proteínas, gordura e carboidratos), mas precisa ser incrementado com mais hortaliças, legumes, frutas e leite. "E não basta uma folha de alface. Tem de colocar todos os vegetais folhosos, ricos em vitaminas."
Para Andrea Ramalho, professora de saúde pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consultora do Ministério da Saúde, a população sabe o que é uma dieta equilibrada, mas, em geral, não põe o conhecimento em prática.
"E não o faz porque diz que não tem tempo, não tem onde comer, não gosta. Mudar padrão alimentar não é uma tarefa fácil nem obtida em curto espaço de tempo", afirma.
Na sua opinião, quando não há mudança no tipo de alimentação recomendada, estratégias como suplementação vitamínica ou alimentos enriquecidos devem ser adotadas. "Se há alterações bioquímicas nos exames de sangue, não dá para deixar o indivíduo padecer por uma carência que pode ser revertida em 48 horas."
Ela cita o exemplo de uma gestação. "Se você encontra uma mãe no pré-natal com carência de vitamina A, ácido fólico e ferro, não há tempo para mudar o padrão alimentar, é preciso sim lançar mão de outras estratégias."
O nutrólogo Edson Credidio, diretor da Sociedade Brasileira de Nutrologia, diz que "o melhor polivitamínico é a quitanda ou o varejão, e não o remédio". "Não adianta usar megadoses de vitaminas e nutrientes. O excesso sai na urina."
Para Credidio, a carência de vitaminas está relacionada ao fato de que muitas pessoas pararam de consumir leite ou ovos, por exemplo, por acreditarem que eles fazem mal à saúde. "É um erro grotesco."


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