São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Índices têm a sua utilidade, mas são vulneráveis a críticas

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

O que se pode dizer em favor de índices como o IFDM é que eles traduzem numa medida objetiva diferentes aspectos do desenvolvimento que julgamos relevantes. E consubstanciar essas várias dimensões num único número é útil quando se pretende acompanhar a evolução de uma cidade ou compará-la com a de outros municípios.
Trata-se, como quer o site da Firjan, de uma "ferramenta de gestão pública e de "accountability" democrática".
A moda dos índices começou nos anos 90, depois que, a pedido da ONU, um grupo de economistas, entre os quais o indiano Amartya Sen, criou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
A ideia era reduzir o peso excessivo que se dava à economia -o principal indicador usado era o PIB "per capita"- e incluir outras dimensões. Assim, o IDH leva em conta, além do PIB, expectativa de vida e educação. De lá para cá, foi uma verdadeira febre. Surgiram índices para medir democracia, sustentabilidade, igualdade de gênero e até qualidade de morte.
O problema com essas estatísticas compósitas é que elas são, por sua natureza, muito vulneráveis a críticas. Para cada item que incluem, deixam de fora um número muito maior de variáveis que poderiam perfeitamente ser consideradas uma medida de desenvolvimento. O IDH, por exemplo, é censurado por não trazer nenhum dado da dimensão ambiental.
Mesmo os tópicos que constam da fórmula podem ser contestados. A parte de educação do IFDM considera apenas dados da educação infantil e fundamental. Assim, os ensinos médio e superior, que tendem a tornar-se cada vez mais importantes no futuro, ficam de fora.
Na saúde isso é ainda pior. Das três variáveis utilizadas pelo IFDM, duas dizem respeito a maternidade/infância. Um município no qual a população esteja tão doente que as mulheres não conseguem engravidar e ter filhos teria bom desempenho.
Tal gênero de dificuldade parece ser uma limitação do próprio método. Como o economista Bryan Caplan jocosamente escreveu sobre o IDH: "Isso significa que um país com imortais e PIB infinito teria nota de 0,666 (menor que a da África do Sul e do Tadjiquistão), se sua população fosse analfabeta e não frequentasse a escola". Países escandinavos vêm sempre no topo, conclui o autor, "porque o IDH é basicamente uma medida de quão escandinavos são os países".


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