São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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Faculdades pagam ONGs e igrejas para captar novos alunos

Intermediários buscam candidatos entre trabalhadores de menor renda e recebem até R$ 100 por matriculado

Escolas contam que futuro universitário poderá financiar 100% de seu estudo pelo Fies (programa federal)

Juca Varella/Folhapress
Classe de pedagogia na Uniesp, uma das que têm modelo voltado para alunos pobres

ELVIRA LOBATO
EM SÃO PAULO

ANTONIO GOIS
DO RIO

Surgiu uma nova figura no meio universitário: o intermediário entre as faculdades privadas e os jovens trabalhadores de menor renda que se tornaram o principal público-alvo de algumas instituições.
Associações de moradores, líderes comunitários, ONGs e igrejas fazem parte da malha de captação de alunos. O fenômeno foi constatado pela Folha em bairros da periferia da Grande São Paulo.
As entidades intermediárias são remuneradas de duas formas: pelos alunos -que pagam uma taxa semestral ou anual para ter o nome incluído no cadastro para bolsas de estudo- e pelas faculdades, que chegam a pagar R$ 100 por matriculado.
As faculdades justificam a contratação da rede de intermediários dizendo que isso é mais eficiente e barato do que gastar com publicidade nas mídias convencionais.
Instituições de São Paulo como Uniban -recentemente adquirida pelo grupo Anhanguera-, Universidade de Guarulhos, UniRadial -ligada ao grupo Estácio de Sá-, Faculdade Sumaré e UniSant'Anna são algumas das que aderiram à prática.
Não há um padrão na contratação dos intermediários.
As faculdades mais agressivas recorrem a associações de moradores de comunidades carentes, contando que o futuro aluno poderá financiar 100% de seu estudo pelo Fies, do governo federal, ou por outras fontes de financiamento do governo de São Paulo ou privadas.
A Uniesp, por exemplo, contatou José Cecílio dos Santos, 43, presidente da associação de moradores do Jardim Boa Vista, na região administrativa do Butantã (zona oeste).
Neste ano, ele já encaminhou 200 candidatos para a faculdade, que remunerou a associação em R$ 100 por aluno matriculado. Além disso, a faculdade promete um notebook ao aluno que for aprovado no Fies.
Santos, que havia concluído o supletivo do ensino médio em 1998, matriculou-se em pedagogia e passou a divulgar a faculdade em outros bairros, como Freguesia do Ó, Vila Carrão e Itaquera. Hoje se apresenta como consultor de faculdades.
Outra liderança comunitária cooptada pela Uniesp foi Edna Loureiro, 54, do Jaraguá (zona norte). Auxiliar de enfermagem licenciada, hoje ela cursa pedagogia.
Edna indicou 160 alunos no ano passado, e mais 250 neste ano, mas diz que não recebeu pagamento por isso.

IGREJAS
Igrejas evangélicas e ONGs católicas também tornaram-se captadoras de alunos.
O Instituto Evangélico Pró-Educação anuncia convênios com quatro faculdades na capital: Sumaré, Mozarteum, Campos Elíseos e FMU.
Entre as ONGs, uma das pioneiras é a Educar para Vida, da Associação dos Trabalhadores Sem Terra, vinculada à Pastoral da Moradia e fundada pelo deputado estadual Marcos Zerbini (PSDB).
Ela é parceira de 18 faculdades, mas diz não ser remunerada por elas, apenas pelos alunos que encaminha para obtenção de bolsas de estudo, que lhe pagam uma taxa mensal de R$ 7.


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