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Polícia de SP recupera mapas raros do Itamaraty
Obras, encontradas em São Paulo, foram furtadas de biblioteca no Rio há três anos
Gravuras são de um atlas de 1712 com apenas seis exemplares no mundo e que foi um dos primeiros guias de rotas marítimas
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil de São Paulo
recuperou nove gravuras de um
atlas raríssimo de 1712 que haviam sido furtadas da biblioteca do Itamaraty, no Rio, há três
anos. Os sete mapas e duas alegorias (ilustrações) estavam no
casebre de um porteiro desempregado na zona sul.
Uma única gravura do atlas
editado pelo cartógrafo holandês Johanes van Keulen (1654-1715) vale mais do que a casinha
do porteiro Erivaldo Tadeu dos
Santos Nunes. A loja The Old
Print Shop, de Nova York, oferece uma página avulsa do atlas
de Van Keulen por US$ 7.500
(cerca de R$ 16 mil), enquanto a
casa que abrigava a obra não
atinge mais do que R$ 15 mil.
O atlas é valioso por duas razões: há seis exemplares dele
no mundo e foi um dos primeiros guias de rotas marítimas.
O delegado Fernando Gomes
Pires prendeu o porteiro no final de setembro com os mapas
do Itamaraty, um manuscrito
de 1791 de Dona Maria 1ª, conhecida como "a rainha louca",
37 gravuras de Jean-Louis Prévost de 1805 e o livro "Ornithologie Brésilienne", do naturalista francês Jean-Théodore
Descourtilz, impresso no Rio
de Janeiro em 1855 (veja no
quadro as obras recuperadas e
identificadas). Uma gravura de
Prévost pode custar até 4.800
euros (cerca de R$ 13 mil).
As obras formavam um quebra-cabeça porque ninguém sabia a que instituições pertenciam. Após um mês de pesquisa, os policiais descobriram de
quais bibliotecas elas foram
furtadas. O Itamaraty retirou o
conjunto de mapas na última
segunda-feira. Um representante da Escola de Belas Artes
da Universidade Federal do Rio
vem amanhã para retirar um livro do século 19 sobre pássaros.
Dupla conhecida
O porteiro preso -e depois
liberado- é ex-cunhado de um
restaurador da biblioteca Mário de Andrade há 25 anos, José
Camilo dos Santos. Este, por
sua vez, disse que guardava as
obras para Ricardo Pereira Machado, um estudante de biblioteconomia que é apontado pela
polícia como o mentor de furtos em série de obras raras.
A polícia acredita que Pereira
Machado teria arquitetado os
furtos contra a Biblioteca Nacional, a Biblioteca Mário de
Andrade, o Museu Nacional, o
Arquivo Histórico da cidade do
Rio de Janeiro e a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele age
em parceria com Laéssio Rodrigues de Oliveira, também estudante de biblioteconomia,
segundo a polícia.
A Justiça recusou o pedido de
prisão da dupla porque furto é
considerado um delito de pouca gravidade. Em maio de 2004,
a polícia prendeu Laéssio depois que um comerciante de livros da feira do Bexiga denunciou-o após comprar dele o livro "De Medicina Brasiliensi",
editado em 1648, do holandês
Willem Piso. A obra, impressa
em Amsterdã, foi o primeiro livro sobre medicina brasileira e
havia sido furtada da biblioteca
do Museu Nacional. Valeria entre R$ 50 mil e R$ 70 mil.
Não foi a única vez que Ricardo e Laéssio tiveram seus nomes investigados pela polícia.
Em julho do ano passado,
quando foram furtadas cerca
de 150 fotografias da Biblioteca
Nacional, o diretor da instituição, Pedro Corrêa do Lago, fez
um detalhado relatório que
apontava para a dupla. A Polícia
Federal do Rio recebeu cópia
do texto, mas não conseguiu resultados na investigação. Em
São Paulo, a dupla, o restaurador de livros e o porteiro desempregado foram indiciados
pela polícia por receptação.
O maior lote de obras recuperadas pertence à biblioteca do
Museu Nacional do Rio. Voltaram à instituição 49 gravuras.
No final de 2003, foram furtadas 1.484 peças do acervo
Foram recuperadas 37 gravuras do livro "Collection des
Fleurs et des Fruits" (1805), do
francês Jean Louis Prévost, e 12
estampas do livro "Avium Species Novae quas in Itinere Annis MDCCCXVII -MDCCCXX
per Brasiliam", do alemão Johann Baptist von Spix, publicado em 1840. O livro de Prévost
foi danificado para a retirada
das gravuras.
O furto foi percebido no início de 2004, quando uma pessoa requisitou acesso a uma das
obras. Após vasculhar o acervo,
foi contabilizado o estrago:
1.484 peças haviam sido furtadas. Já foram recuperadas 567.
Segundo a chefe da biblioteca,
Vera de Figueiredo Barbosa, as
gravuras de Prévost valem de
1.200 euros a 4.800 euros.
Colaborou TALITA FIGUEIREDO, da Sucursal do
Rio
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