São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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Polícia de SP recupera mapas raros do Itamaraty

Obras, encontradas em São Paulo, foram furtadas de biblioteca no Rio há três anos

Gravuras são de um atlas de 1712 com apenas seis exemplares no mundo e que foi um dos primeiros guias de rotas marítimas

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Civil de São Paulo recuperou nove gravuras de um atlas raríssimo de 1712 que haviam sido furtadas da biblioteca do Itamaraty, no Rio, há três anos. Os sete mapas e duas alegorias (ilustrações) estavam no casebre de um porteiro desempregado na zona sul.
Uma única gravura do atlas editado pelo cartógrafo holandês Johanes van Keulen (1654-1715) vale mais do que a casinha do porteiro Erivaldo Tadeu dos Santos Nunes. A loja The Old Print Shop, de Nova York, oferece uma página avulsa do atlas de Van Keulen por US$ 7.500 (cerca de R$ 16 mil), enquanto a casa que abrigava a obra não atinge mais do que R$ 15 mil.
O atlas é valioso por duas razões: há seis exemplares dele no mundo e foi um dos primeiros guias de rotas marítimas. O delegado Fernando Gomes Pires prendeu o porteiro no final de setembro com os mapas do Itamaraty, um manuscrito de 1791 de Dona Maria 1ª, conhecida como "a rainha louca", 37 gravuras de Jean-Louis Prévost de 1805 e o livro "Ornithologie Brésilienne", do naturalista francês Jean-Théodore Descourtilz, impresso no Rio de Janeiro em 1855 (veja no quadro as obras recuperadas e identificadas). Uma gravura de Prévost pode custar até 4.800 euros (cerca de R$ 13 mil).
As obras formavam um quebra-cabeça porque ninguém sabia a que instituições pertenciam. Após um mês de pesquisa, os policiais descobriram de quais bibliotecas elas foram furtadas. O Itamaraty retirou o conjunto de mapas na última segunda-feira. Um representante da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio vem amanhã para retirar um livro do século 19 sobre pássaros.

Dupla conhecida
O porteiro preso -e depois liberado- é ex-cunhado de um restaurador da biblioteca Mário de Andrade há 25 anos, José Camilo dos Santos. Este, por sua vez, disse que guardava as obras para Ricardo Pereira Machado, um estudante de biblioteconomia que é apontado pela polícia como o mentor de furtos em série de obras raras.
A polícia acredita que Pereira Machado teria arquitetado os furtos contra a Biblioteca Nacional, a Biblioteca Mário de Andrade, o Museu Nacional, o Arquivo Histórico da cidade do Rio de Janeiro e a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele age em parceria com Laéssio Rodrigues de Oliveira, também estudante de biblioteconomia, segundo a polícia.
A Justiça recusou o pedido de prisão da dupla porque furto é considerado um delito de pouca gravidade. Em maio de 2004, a polícia prendeu Laéssio depois que um comerciante de livros da feira do Bexiga denunciou-o após comprar dele o livro "De Medicina Brasiliensi", editado em 1648, do holandês Willem Piso. A obra, impressa em Amsterdã, foi o primeiro livro sobre medicina brasileira e havia sido furtada da biblioteca do Museu Nacional. Valeria entre R$ 50 mil e R$ 70 mil.
Não foi a única vez que Ricardo e Laéssio tiveram seus nomes investigados pela polícia. Em julho do ano passado, quando foram furtadas cerca de 150 fotografias da Biblioteca Nacional, o diretor da instituição, Pedro Corrêa do Lago, fez um detalhado relatório que apontava para a dupla. A Polícia Federal do Rio recebeu cópia do texto, mas não conseguiu resultados na investigação. Em São Paulo, a dupla, o restaurador de livros e o porteiro desempregado foram indiciados pela polícia por receptação.
O maior lote de obras recuperadas pertence à biblioteca do Museu Nacional do Rio. Voltaram à instituição 49 gravuras. No final de 2003, foram furtadas 1.484 peças do acervo Foram recuperadas 37 gravuras do livro "Collection des Fleurs et des Fruits" (1805), do francês Jean Louis Prévost, e 12 estampas do livro "Avium Species Novae quas in Itinere Annis MDCCCXVII -MDCCCXX per Brasiliam", do alemão Johann Baptist von Spix, publicado em 1840. O livro de Prévost foi danificado para a retirada das gravuras.
O furto foi percebido no início de 2004, quando uma pessoa requisitou acesso a uma das obras. Após vasculhar o acervo, foi contabilizado o estrago: 1.484 peças haviam sido furtadas. Já foram recuperadas 567. Segundo a chefe da biblioteca, Vera de Figueiredo Barbosa, as gravuras de Prévost valem de 1.200 euros a 4.800 euros.


Colaborou TALITA FIGUEIREDO, da Sucursal do Rio


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