São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Prédios vazios em SP ainda guardam histórias da cidade

Hilton, Prestes Maia e outros edifícios integram a paisagem desabitada da capital

Índice de imóveis vagos no centro da cidade ficou em 9% no primeiro semestre, segundo uma consultoria do mercado imobiliário

DA REVISTA DA FOLHA

A Bienal do Vazio, assim apelidada em razão do andar livre que esta Bienal de Artes de São Paulo deixou no prédio do Ibirapuera, encontra paralelo em uma infinidade de imóveis ocos que a cidade esconde. A estimativa da prefeitura é que haja de 300 a 400 prédios completamente desocupados em São Paulo. A maioria fica no centro.
Os dados são da gestão da ex-prefeita Marta Suplicy.
A Colliers, uma das principais consultorias do mercado imobiliário, diz que a vacância do centro (índice que mede a porcentagem de imóveis desocupados) ficou em 9% no primeiro semestre. É um índice alto, mas menor do que os 12% do último semestre de 2007.
Os casos resgatados pela Folha esboçam a paisagem criada pelo fenômeno dos prédios vazios. Mais do que tijolos empilhados, eles são personagens de uma cidade em movimento.

Edifício Prestes Maia
Esta antiga sede da Companhia Nacional de Tecidos, que faliu em 1991, acabou se transformando em algo próximo ao cenário dos escombros de uma guerra civil. São 23 andares, vazios e repletos de destroços.
A entrada está lacrada com tijolos e cimento, mas é possível ter acesso ao prédio pela parte de trás, por um estacionamento. Entre 2002 e 2005, mais de 400 famílias ligadas ao movimento dos sem-teto ocuparam o lugar. Os proprietários do prédio devem de IPTU ao governo mais de R$ 5 milhões.
O piso corre o risco de desabar. Roupas velhas, móveis estragados, infiltrações e paredes pichadas funcionam como um verdadeiro atestado de óbito do prédio. Tapumes espalhados demarcam o território dos "apartamentos" improvisados. Formavam uma favela vertical.
Barricadas de escombros, erguidas para prevenir uma invasão da polícia, se espalham pelos andares. Os invasores resistiram a 18 ações de despejo.

Antigo Hilton
A construção de formato cilíndrico passou cinco anos em desuso e ainda hoje desponta no início da avenida Ipiranga como algo sem vida.
A ameaça de se tornar mais um prédio oco, no entanto, foi descartada quando o Tribunal de Justiça de São Paulo resolveu alugá-lo por R$ 670 mil. A intenção é instalar ali 126 gabinetes de desembargadores. A nova ocupação deveria ter sido feita em 2007, mas a reforma proposta atrasou. A nova data está marcada para dezembro.
Projetado pelo arquiteto Mário Bardelli, o edifício é um marco arquitetônico, vizinho a dois outros prédios modernos de peso -o Copan e o Itália. Já em sua inauguração, em 1971, ele foi ocupado pela primeira rede internacional de hotéis a chegar à São Paulo, o Hilton.
Segundo o secretário do TJ, Eduardo Alcântara, o prédio será ocupado pelo tribunal devido aos preços favoráveis e à revalorização do centro. Cada gabinete vai ocupar o espaço de três quartos do antigo hotel. O teatro e o jardim projetado por Burle Marx foram preservados.


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