São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

PM e ambulantes se enfrentam no centro

Prefeitura paulistana tenta retirar camelôs irregulares da Feirinha da Madrugada para implantar projeto comercial

Manifestantes vão às ruas, queimam carros e são contidos a tiros de bala de borracha; protestos continuam

DE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


A prefeitura e a Polícia Militar deflagraram ontem uma guerra anunciada a cerca de 4.200 camelôs do entorno da Feirinha da Madrugada, no Pari, centro de São Paulo.
A megaoperação é conhecida há um mês. Ontem, PMs montaram barreiras nas ruas da região e impediram os camelôs de armarem as barracas. Houve quebra-quebra, e a confusão deve continuar pelos próximos dias. A prefeitura estima que o confronto entre PMs e camelôs deve se repetir todas as noites por pelo menos mais uma semana.
O objetivo é manter trabalhando só os 2.949 ambulantes com boxes legalizados dentro do Pátio do Pari, área do governo federal onde funciona a Feira da Madrugada.
O pátio é administrado desde novembro de 2010 pela prefeitura, mas há disputa de grupos sindicais e políticos pelo controle do local. No período, foram assassinados um dos líderes dos camelôs, Afonso José da Silva, 41, o Afonso Camelô, em dezembro, e o empresário Geraldo de Souza Amorim, 61, ex-administrador do local, em setembro.
A gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) quer fazer na área da feira um projeto estimado em R$ 400 milhões que inclui, além de um shopping popular, hotel, duas torres comerciais, estacionamentos para carros e ônibus de sacoleiros e casas populares. Descontentes com a ação da PM, 300 camelôs saíram em protesto pelas ruas na madrugada de ontem. Eles queimaram três carros, uma banca de jornal, viraram lixeiras e jogaram pedras em vitrines.
Para deter os ambulantes, cerca de 400 PMs usaram balas de borracha e bombas de efeito moral. Houve feridos leves. Três foram detidos.
"Ele [Kassab] diz que quer limpar a cidade, como se fôssemos lixo", afirmou a ambulante Maria Aparecida, 28. "O movimento na calçada ajuda o comerciante", disse Antônio Alves Santos, 48, dono de uma loja de bolsas.
"Tem que fazer isso mesmo para limpar", disse Miguel Dias, 34, funcionário de uma loja de bijouterias legalizada que fica na feirinha.
Com o bloqueio causado pelo protesto, clientes -a maioria sacoleiros de fora de São Paulo que vão à feira atrás de roupas e acessórios- relatam que não conseguiram fazer as compras que pretendiam. "Não tivemos liberdade nem de descer. Ficamos presos", afirmou Sônia Soares Dutra, 37, que, após 17 horas de viagem, esperou cinco horas para descer do ônibus.
Após a confusão inicial na madrugada, os camelôs permaneceram protestando. Na rua Oriente, principal via comercial da região, impediram as lojas de abrirem as portas. Os ambulantes marcaram novo protesto para hoje. "Já cancelei a próxima viagem [de sacoleiros]", disse o guia Juliano Gabriel da Silva, 29.
A prefeitura informou que a ação continuará e que os ambulantes que quiserem poderão ter cursos profissionalizantes e acesso a linhas de crédito.
(RAPHAEL SASSAKI, NATÁLIA CANCIAN, ELTON BEZERRA E EVANDRO SPINELLI)

Veja fotos do protesto
folha.com/fg5127



Texto Anterior: Vestibular: Ministério da Educação divulga gabaritos do Enem
Próximo Texto: Análise: Comércio informal precisa ser organizado, não reprimido
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.