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Sem-teto e classe média dividem edifícios
Condomínio no Jabaquara, zona sul de SP, teve 2 dos 4 prédios invadidos depois da falência da construtora, na década de 90
Cerca de 500 invasores já ergueram paredes e vêem discriminação dos com-teto, que reforçaram a segurança
e apontam desvalorização
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
De um lado, sem-teto moram
em dois prédios inacabados,
sem elevadores e com ligação
clandestina de energia e água.
De outro, pessoas de classe média habitam dois edifícios bem
pintados, com apartamentos
concluídos, piscina, sala de jogos e salão de festas.
Na verdade, os quatro prédios deveriam fazer parte do
mesmo condomínio, o Central
Park Jabaquara, na rua Cruz
das Almas, zona sul de São Paulo. A expectativa é que fossem
inaugurados em 1992.
Mas a construtora Caporrino
Vieira faliu e os blocos não foram concluídos. Duas construtoras terminaram o serviço nos
dois prédios que estavam com
as obras adiantadas. Os outros
foram abandonados, ocupados
irregularmente e hoje formam
um grande contraste na região.
Lá, enquanto os sem-teto citam discriminação, os com-teto dizem que a região foi desvalorizada. "Quando era só o esqueleto muita gente vinha se
drogar no prédio. Com a nossa
chegada, isso mudou. Mas os vizinhos acham que aqui só tem
bandido", diz o motorista Osmar Fidalgo, 53, sem-teto.
Ele e a maioria dos invasores
afirmam que aderiram à ocupação porque estavam com dificuldade de pagar aluguel.
Para Onias Martins de Oliveira Filho, instrutor de tênis
que mora na área concluída do
condomínio, os novos vizinhos
representam dor de cabeça.
"Agora até melhorou, mas eles
roubavam luz e água da gente e
jogavam esgoto aqui na nossa
área. Os apartamentos também
desvalorizaram muito. As pessoas têm vendido por R$ 50 mil
ou R$ 60 mil, metade do que valem, e vão embora", afirma.
No condomínio, as escadas
que levariam aos demais blocos
hoje acabam num muro, construído para separar os lados.
Enquanto as crianças do condomínio brincam nas duas piscinas ou no parquinho, as da invasão jogam pega-pega em
meio aos varais improvisados.
Na invasão, o que era esqueleto ganhou paredes internas e
externas, janelas de diferentes
tipos (madeira, papelão, vidro
ou metal) e portas (algumas novas, outras de ferro-velho).
Os fossos dos elevadores
-que não existem- foram fechados para evitar que crianças
caíssem. Mas há entulho e lixo
onde a garotada brinca e em alguns pontos a escuridão reina.
Há cerca de 30 famílias vivendo de forma precária na garagem. Eles fizeram banheiros
ali e o esgoto não é coletado.
A balconista Corina Medeiros, 25, vive há um ano com o
marido e o filho na invasão.
"Estava no Ipiranga. Houve
reintegração e resolvemos vir
para cá." Ela diz que ficou "dois
dias ao relento" no prédio,
"com vento na cara", porque só
tinham madeira como parede.
"Agora já colocamos piso,
porta, rebocamos. Aos poucos
vamos melhorando. Mas dá
medo investir porque não sabemos se seremos expulsos."
Do outro lado, alguns compraram dois apartamentos para ganhar mais espaço. Fizeram
três quartos, escritório e closet.
Outros condôminos tomaram medidas para evitar problemas de segurança. Um dos
proprietários alugou mais uma
vaga de garagem para poder receber os amigos -ele diz que
mais de cem carros tiveram os
vidros quebrados e o rádio furtado em frente ao prédio.
Apesar de considerar os prédios inacabados uma grande
"poluição visual", a dona-de-casa Carla França, 26, não reclama nem tem medo dos vizinhos. "Moro aqui há um ano e
meio e nunca aconteceu nada."
Segundo ela, a localização
compensa a feiúra da região.
"Fica perto do metrô Jabaquara. Também tem escola e lojas."
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