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Presas são vítimas de abuso em 5 Estados, diz relatório
Há casos de detentas que dividem celas com travestis e adolescentes homens
Documento preparado por entidades de defesa das mulheres foi entregue à OEA; na Bahia, duas ficaram
grávidas dentro da cadeia
KLEBER TOMAZ
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A violência sexual sofrida por
uma jovem presa numa cela
com 20 homens em Abaetetuba
(137 km de Belém) não é um fato isolado e exclusivo do Pará.
Um relatório produzido por
entidades brasileiras de defesa
das mulheres e entregue à OEA
(Organização dos Estados
Americanos) em março deste
ano aponta situações de abuso
e violência contra presas em
pelo menos cinco Estados. O
Pará não foi citado na época.
No Rio Grande do Norte e na
Bahia, as mulheres têm de dividir a cela com travestis e adolescentes homens. O documento relata que, em Mato Grosso
do Sul, onde há uma cadeia
mista na cidade de Amambai
(porém com celas separadas
por sexo), um funcionário
manteve relações sexuais com
uma presa dentro da cela, na
presença de dez mulheres.
Há ainda casos de cadeias femininas em que só há funcionários do sexo masculino.
O relatório cita problemas
em outros dois Estados: Rio e
Pernambuco. Apesar de não estar no relatório enviado à OEA,
em São Paulo há ao menos uma
cadeia mista (homens e mulheres na mesma unidade, em celas separadas), em Ubatuba.
Além da Pastoral Carcerária
Nacional, participaram da elaboração do relatório o Centro
de Justiça e Direito Internacional e o Grupo de Estudos e Trabalho Mulheres Encarceradas.
Os dados do documento são
de 2006, mas, de acordo com a
advogada Luciana Zaffalon
Cardoso, coordenadora do grupo interministerial criado para
discutir políticas públicas para
mulheres presas, a situação encontrada nos presídios continua inalterada. "Não se observou nenhuma mudança ainda
em relação às denúncias."
As entidades relatam que as
detentas são às vezes obrigadas
a fazer sexo com os próprios
presos ou com os funcionários.
Assim como a jovem do Pará
que disse ter feito sexo com os
presos em troca de comida, as
detentas violentadas também
trocam o corpo por benefícios,
segundo o documento. "As mulheres que sofrem violência sexual ou trocam relações sexuais
por benefícios ou privilégios
não denunciam os agressores
por medo, uma vez que vão seguir sob a tutela de seus algozes", diz trecho do relatório.
O texto sugere que os problemas podem não ser limitados
aos cinco Estados, ao citar a falta de dados oficiais "sobre
quantas e quais são as unidades
prisionais que ainda possibilitam essa convivência". E destaca que as presas não estão livres
de abuso mesmo onde há a separação de sexo por celas.
Em Paulo Afonso (BA), por
exemplo, duas presas ficaram
grávidas dentro da cadeia (onde não são permitidas visitas
íntimas). Lá, elas são trancadas
com adolescentes infratores no
mesmo pavilhão -que é separado do espaço dos outros presos por uma grade. Há um carcereiro para 80 pessoas presas.
O delegado titular de Paulo
Afonso, Idelbrando Alves da
Silva, 46, afirma que, mesmo
com a separação, há poucas semanas um preso e uma detenta
foram flagrados fazendo sexo
na grade. "A presa passou a noite algemada para não fazer
mais isso."
A divisão foi construída há
seis meses. Antes, ficavam todos no mesmo pavilhão -mulheres e adolescentes no pátio;
homens adultos, nas celas.
Na cadeia de Mossoró (RN),
travestis são presos com mulheres pois não são aceitos pelos presos. E em Mesquita (RJ)
e Recife não há carcereiras.
A Defensoria Pública de São
Paulo diz que não é rara a necessidade de intervenção do órgão para remover detentas em
unidades destinadas para homens. Para os defensores, uma
das preocupações é ocorrer rebeliões, e, no tumulto, as mulheres serem violentadas.
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