São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2008

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Estado submerso

Em desespero, população de SC saqueia supermercados; mortos já chegam a 84

"Há muito mais mortos debaixo da terra", diz delegado que trabalha no resgate de presos; 54 mil pessoas deixaram suas casas

Não é possível saber ao certo o total de pessoas desaparecidas; desabastecimento de água afeta principalmente Itajaí


Patrick Rodrigues/Ag.RBS/Folha Imagem
Moradores carregam gôndola com alimentos saqueados de casas e supermercados e observam os estragos em meio às ruas alagadas da cidade de Itajaí, onde não há água potável, luz ou comida

DA AGÊNCIA FOLHA

A situação é de calamidade em Santa Catarina. O número de mortos e desabrigados por conta da pior enchente do Estado desde 1974 não pára de crescer: são ao menos 84 pessoas mortas e 54 mil obrigadas a abandonar suas casas.
O número de mortos na tragédia "deve aumentar muito", segundo avaliação do coordenador do SAT (Serviço Aerotático) no Estado, delegado Jonas Santana, que trabalha no resgate de moradores isolados. "Há muito mais mortos debaixo da terra", diz o delegado.
Isolados, sem água potável, luz e comida, moradores de Itajaí e Blumenau, duas das oito cidades mais afetadas pelas águas, saquearam supermercados em busca de alimentos.
Resgatados de helicópteros, moradores gritam a jornalistas e pessoas que trabalham nos resgates em busca de notícias dos parentes. Não é possível saber ao certo o total de desaparecidos, embora o governo do Estado estime em cerca de 30.
Ao menos cinco supermercados de Itajaí (93 km de Florianópolis) foram saqueados. Funcionários da rede Daiane relataram que quatro lojas foram invadidas. "Alguns supermercados estavam fechados, mas as pessoas ameaçaram invadir se não abríssemos. Eles enfrentaram os seguranças com paus e tijolos", disse uma funcionária que se identificou.
A prefeitura informou que uma loja da rede Wal-Mart foi saqueada por moradores, o que a rede não confirmou.
A Polícia Militar de Blumenau (162 km de Florianópolis) também registrou oito ocorrências de pequenos furtos de alimentos em lojas da cidade.
Itajaí era considerada ontem pela Defesa Civil de Santa Catarina como o caso mais grave de desabastecimento de água. Os serviços telefônicos também estavam comprometidos.
Os trabalhos de resgates de pessoas isoladas, buscas de corpos e distribuição de mantimentos agora contam com 12 helicópteros, cedidos por outros Estados e pela União.
A principal meta da Defesa Civil era garantir a distribuição de água potável, mas a necessidade de distribuição de alimentos persistia. Além de precisar abastecer 22.952 pessoas que se encontram em abrigos, a desobstrução de vias e a diminuição das enchentes aumentou a demanda para se levar suprimentos a comunidades isoladas e a outras regiões afetadas.
Blumenau, com 20 vítimas, registra o maior número de mortos. É seguida por Ilhota (18), Gaspar (15), Jaraguá do Sul (12), Rodeio, Luiz Alves (ambas com 4), Rancho Queimado, Benedito Novo, Itajaí (todos com 2) e, com um morto, Brusque, Pomerode, Bom Jardim da Serra, São Pedro de Alcântara e Florianópolis.
Em Itajaí, as cheias dos rios Itajaí-Açu e Itajaí Mirim chegaram a alagar 80% da cidade.

Segurança reforçada
O comandante da PM em Blumenau, César Luiz Dalri, disse que a cidade receberá o reforço de 70 policiais da capital. Também será montado um sistema de monitoramento móvel por câmeras. Ao todo, 200 policiais foram enviados às cidades atingidas.
Os danos à rede de abastecimento no Vale do Itajaí transformaram a água em "artigo precioso" em Blumenau. Carros-pipa começaram a chegar aos abrigos -a cota é de cinco litros por pessoa.
A prefeitura solicitou aos moradores que utilizem a menor quantidade possível de água e divulgou um comunicado com instruções para o consumo de água de piscina.

Resgates
As operações de buscas em Gaspar (140 km de Florianópolis) localizaram ontem mais sete corpos. Pessoas que antes estavam isoladas continuam sendo retiradas de áreas de risco.
O prefeito Adílson Schmitt (PSB) disse que moradores subiam morros para acenar aos helicópteros e pedir ajuda.
Com o apoio do Corpo de Bombeiros do PR, a Defesa Civil abriu uma trilha na mata para retirar cerca 300 turistas que ainda estavam em um parque aquático em Gaspar.
Oito municípios continuam isolados. Três pontos da BR-101, principal ligação entre Florianópolis e o restante do litoral catarinense, continuavam totalmente interditados por rochas e terra que caíram com o deslizamento de encostas. Outras duas rodovias federais e dez estaduais continuavam com bloqueios.
(PABLO SOLANO, GUSTAVO HENNEMANN, RENATA BAPTISTA, CRISTINA MORENO DE CASTRO, MATHEUS PICHONELLI, RACHEL AÑÓN e MARTHA ALVES)


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