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"Divulgador" de mortes no interior de SP anuncia
seu próprio falecimento
Sidnei Ricardo/Divulgação
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Nelson Fortunato durante as gravações de documentário feito em sua homenagem, em 2006
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
Por longos anos, a voz de
Nelson Fortunato saiu de um
alto-falante e percorreu a pequena Nova Europa, no interior de SP, para anunciar as
mortes ocorridas na cidade. O
serviço, de utilidade pública,
que divulgava ainda achados
e perdidos, era voluntário.
Anteontem, a voz já conhecida ecoou pelo município para o último anúncio de Fortunato: o da própria morte.
"Estou anunciando o meu
falecimento. Falecimento de
Nelson Fortunato. Como foi
gravado com antecedência,
não tem a hora do enterro,
mas o mais importante é que
todos saibam que morri."
E assim todos souberam do
fato, por uma gravação que
ele, brincalhão, deixara.
Eduardo, o neto, diz que o
avô morreu de velhice, aos 90
anos, com a saúde prejudicada por pneumonia, problemas renais e diabetes.
Agitador, Fortunato é reconhecido pela dedicação à cidade. Foi vereador, trabalhou
com vacinação no centro de
saúde e cuidou de três cinemas. Quando um deles desabou, ele apontou os projetores para o muro de casa e continuou passando os filmes.
Mas, para seu infortúnio, o
muro também caiu.
Em 2006, o jornalista Paulo Augusto Vieira fez o documentário "O Alto Comunicador Falante", sobre ele. Paulo
diz que não conseguia tirar
uma frase séria de seu personagem. "A única parte em que
ele se emociona é quando fala
do cinema, sua paixão, que
acabou na cidade", afirma.
Fortunato fazia também
anualmente um enorme presépio, que era aberto à visitação -com sua morte, não deve ser montado neste ano.
Deixa viúva, duas filhas, quatro netos e cinco bisnetos.
Em seu enterro, também
ocorrido anteontem, um carro de som acompanhou o cortejo, tocando a música "Il Silenzio", que ele usava para
anunciar sessões de cinema.
Ouça o anúncio da morte
de Nelson Fortunato
www.folha.com.br/0932911
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