São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Policiais ocupam a fortaleza do tráfico

Traficantes fugiram a pé ou de moto da favela, na zona norte, para o vizinho Complexo do Alemão

"A comunidade [da Vila Cruzeiro] hoje pertence ao Estado", anunciou delegado, ao final da operação de ontem

Marcos Michael/EFE
Policiais entram em blindado na Vila Cruzeiro, no Rio

DO RIO

Uma operação conjunta do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), das polícias Militar e Civil, que contou ainda com o inédito apoio logístico da Marinha, expulsou ontem o tráfico da Vila Cruzeiro (zona norte), favela considerada a principal fortaleza do crime no Rio.
"A comunidade [da Vila Cruzeiro] hoje pertence ao Estado", anunciou ao fim das operações o delegado Rodrigo Oliveira, subchefe operacional da Polícia Civil.
Não havia informações sobre mortos nessa operação até o fechamento desta edição. Em outras ações ontem, houve 9 mortes em Jacarezinho e 2 em Rocha Miranda, totalizando 38 mortos no Estado desde domingo.
A ação, transmitida passo a passo ao vivo pelas TVs por meio de helicópteros, teve toques cinematográficos e foi o momento de maior tensão do quinto dia da onda de ataques criminosos no Rio.
Veículos blindados cedidos pela Marinha -dez no total, sendo seis do modelo americano M113, que foi usado na Guerra do Iraque- avançaram por ruas fechadas até chegarem à favela.
Sob aplausos de moradores, os veículos -cada um conduzido por dois fuzileiros navais e tripulado por homens do Bope- entraram na Vila Cruzeiro por volta de 12h30. Às 17h, foi decretada a "vitória", com a debandada dos traficantes para o vizinho Complexo do Alemão.
A operação na Vila Cruzeiro não impediu novas ações criminosas -pelo contrário. Depois da entrada dos policiais na favela, ao menos 23 novos veículos foram queimados em diversas partes da cidade e da região metropolitana. No dia inteiro, foram 37; desde domingo, são 80.
Por volta das 20h, bandidos atearam fogo a um ônibus na av. Presidente Vargas (principal ligação entre a zona norte e o centro), a 600 m da sede da Secretaria de Segurança, onde o secretário José Mariano Beltrame dava uma entrevista coletiva.
A operação da polícia contou com cerca de 450 policiais, sendo pelo menos 200 homens do Bope, 40 do 16º BPM e 60 da Polícia Civil. Sessenta fuzileiros navais foram postos à disposição.
"É isso aí, vamos botar ordem na casa", gritaram moradores no momento da ocupação policial.
Os bandidos tentaram retardar ao máximo a entrada da polícia na favela, incendiando um caminhão da loja Casas Bahia e usando blocos de concreto como barricada.
Os obstáculos não detiveram os blindados, à exceção de um, que parou por "problemas mecânicos" -embora tenha levado oito tiros.

FUGA
Com o avanço da polícia, os criminosos começaram a fugir para o vizinho Complexo do Alemão. Pelas imagens feitas dos helicópteros, foi possível acompanhar mais de cem homens, armados com fuzis, fugindo numa picape, em motos e a pé.
As câmeras flagraram ainda os bandidos numa longa fila subindo um morro.
Também foram filmados moradores da favela às janelas das casas com panos brancos, num pedido de paz.
O Alemão foi palco, em 27 de junho de 2007, de megaoperação policial com 1.350 agentes. Houve 19 mortos. (RODRIGO RÖTZSCH, LUIZA SOUTO e FELIPE CARUSO)


Próximo Texto: Secretário diz que "não há nada de ganho"
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.