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São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

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ESTRADAS

Das 185 vítimas registradas em 12 meses nas rodovias que ligam SP ao litoral sul, 69 estavam a até 250 m de travessia segura

37% são atropelados perto de passarelas

DA REPORTAGEM LOCAL

O motorista do carro vê um pedestre à sua frente, mas, a 100 km/h, não consegue evitar um atropelamento. Perto do corpo, uma passarela inutilizada.
A cena, frequentemente usada para apontar que a imprudência no trânsito não está só com quem dirige -mas também com quem anda a pé-, agora foi quantificada: nas estradas que dão acesso ao litoral sul de São Paulo, 37,3% das vítimas de atropelamentos nos últimos 12 meses, encerrados em outubro de 2003, foram atingidas a até 250 m de uma passarela.
Ou seja, para fazer a travessia com segurança, elas perderiam no máximo três minutos.
Somente nesse período, houve 185 vítimas de atropelamentos (55 morreram) na malha sob responsabilidade da concessionária Ecovias -uma a cada dois dias-, 69 das quais (14 das que morreram) estavam próximas de uma das 52 passarelas do sistema rodoviário formado pela Anchieta, Imigrantes, Cônego Domênico Rangoni e Padre Manoel da Nóbrega.
Trata-se de um fenômeno em crescimento. Nos 12 meses encerrados em outubro de 2002, houve 40 casos com esse perfil, que representavam 22,5% dos atropelamentos. Em um ano, portanto, a alta foi de 72,5%.

"Comodidade"
O coordenador de tráfego da Ecovias, Sidnei Torres, atribui os resultados à "comodidade" adotada por alguns pedestres. Diz que a maioria das ocorrências se concentra onde há mais pessoas, principalmente perto da saída das fábricas do ABC paulista.
Neste semestre, a concessionária passou a deslocar seus carros, nos finais de tarde, para os pontos considerados mais críticos, onde seus funcionários abordam os pedestres imprudentes para dar recomendações. Ela também está instalando no meio das estradas algumas telas metálicas de 1,8 metro de altura que dificultam a travessia fora das passarelas.
Essa é uma medida que, para o presidente da Abraspe (Associação Brasileira de Pedestres), Eduardo Daros, já deveria ter sido adotada antes. "Os pedestres não têm consciência de sua fragilidade, sentem que a passarela é um incômodo. É fundamental haver barreiras para impedir que eles atravessem pela pista", afirma.
"O motorista, para tirar a carteira, tem de se submeter a testes. O pedestre é qualquer um. Há todo tipo de gente, inclusive com problemas mentais", diz Daros. O presidente da Abraspe lembra que a "aparência assustadora" de muitas passarelas também ajuda a afastar os pedestres.
A redução dos atropelamentos nas rodovias, diz Daros, também passa por uma revisão urbanística do planejamento das viagens. "Não faz sentido deixar construir um supermercado de um lado da estrada se a maioria dos moradores está do outro lado."
Ele defende ainda que os veículos deixem as luzes acesas mesmo no período diurno -para facilitar sua visualização pelos pedestres- e que sejam distribuídos materiais reflexivos para que pedestres de comunidades próximas a estradas coloquem em suas roupas. (ALENCAR IZIDORO)


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