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ESTRADAS
Das 185 vítimas registradas em 12 meses nas rodovias que ligam SP ao litoral sul, 69 estavam a até 250 m de travessia segura
37% são atropelados perto de passarelas
DA REPORTAGEM LOCAL
O motorista do carro vê um pedestre à sua frente, mas, a 100
km/h, não consegue evitar um
atropelamento. Perto do corpo,
uma passarela inutilizada.
A cena, frequentemente usada
para apontar que a imprudência
no trânsito não está só com quem
dirige -mas também com quem
anda a pé-, agora foi quantificada: nas estradas que dão acesso ao
litoral sul de São Paulo, 37,3% das
vítimas de atropelamentos nos últimos 12 meses, encerrados em
outubro de 2003, foram atingidas
a até 250 m de uma passarela.
Ou seja, para fazer a travessia
com segurança, elas perderiam
no máximo três minutos.
Somente nesse período, houve
185 vítimas de atropelamentos (55
morreram) na malha sob responsabilidade da concessionária Ecovias -uma a cada dois dias-, 69
das quais (14 das que morreram)
estavam próximas de uma das 52
passarelas do sistema rodoviário
formado pela Anchieta, Imigrantes, Cônego Domênico Rangoni e
Padre Manoel da Nóbrega.
Trata-se de um fenômeno em
crescimento. Nos 12 meses encerrados em outubro de 2002, houve
40 casos com esse perfil, que representavam 22,5% dos atropelamentos. Em um ano, portanto, a
alta foi de 72,5%.
"Comodidade"
O coordenador de tráfego da
Ecovias, Sidnei Torres, atribui os
resultados à "comodidade" adotada por alguns pedestres. Diz que
a maioria das ocorrências se concentra onde há mais pessoas,
principalmente perto da saída das
fábricas do ABC paulista.
Neste semestre, a concessionária passou a deslocar seus carros,
nos finais de tarde, para os pontos
considerados mais críticos, onde
seus funcionários abordam os pedestres imprudentes para dar recomendações. Ela também está
instalando no meio das estradas
algumas telas metálicas de 1,8 metro de altura que dificultam a travessia fora das passarelas.
Essa é uma medida que, para o
presidente da Abraspe (Associação Brasileira de Pedestres),
Eduardo Daros, já deveria ter sido
adotada antes. "Os pedestres não
têm consciência de sua fragilidade, sentem que a passarela é um
incômodo. É fundamental haver
barreiras para impedir que eles
atravessem pela pista", afirma.
"O motorista, para tirar a carteira, tem de se submeter a testes. O
pedestre é qualquer um. Há todo
tipo de gente, inclusive com problemas mentais", diz Daros. O
presidente da Abraspe lembra
que a "aparência assustadora" de
muitas passarelas também ajuda
a afastar os pedestres.
A redução dos atropelamentos
nas rodovias, diz Daros, também
passa por uma revisão urbanística do planejamento das viagens.
"Não faz sentido deixar construir
um supermercado de um lado da
estrada se a maioria dos moradores está do outro lado."
Ele defende ainda que os veículos deixem as luzes acesas mesmo
no período diurno -para facilitar sua visualização pelos pedestres- e que sejam distribuídos
materiais reflexivos para que pedestres de comunidades próximas a estradas coloquem em suas
roupas.
(ALENCAR IZIDORO)
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