São Paulo, quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GILBERTO DIMENSTEIN

Aula de solidariedade


Alunos, pais e professores fizeram alianças para evitar o fechamento da Escola Estadual Carlos Maximiliano

TUDO LEVAVA A CRER QUE o final deste ano seria um fracasso para um grupo de alunos. É que a escola pública em que eles estudam tinha data marcada para fechar, devido ao seu contínuo esvaziamento, provocado por uma crônica crise.
A diretora já preparava a sua aposentadoria, os professores não sabiam onde seriam recolocados e os estudantes buscavam outra escola. O abandono traduzia-se em salas sujas, com vidros quebrados, cadeiras empilhadas, vazamentos escorrendo pelas paredes -o auditório servia de depósito. Aliados a um grupo de pais e professores, os alunos receberam, neste Natal, uma lição de solidariedade, mas, antes, tiveram de transformar sua comunidade numa sala de aula.

 

Um grupo de alunos, pais e professores da Escola Estadual Carlos Maximiliano, em Pinheiros, todos inconformados com o iminente fechamento da instituição, fez uma série de alianças para atrair mais alunos e conter o esvaziamento. Com base nessas alianças, cuidou-se da limpeza e da pintura, criaram-se programas de reforço, bem como diversas oficinas, entre as quais a de moda, a de literatura, a de comunicação, a de cinema, a de música e a de teatro. Para o próximo ano, começam as oficinas para a formação de DJs. Uma sala será ocupada por um cursinho pré-vestibular mantido pela FIA (Fundação Instituto de Administração), da USP. Áreas abandonadas, a começar do auditório que virou um depósito, transformaram-se num centro cultural, onde, além das apresentações, são realizadas as oficinas. Em outubro, aquele grupo de resistência, munido de folhetos e cartazes, lançou uma campanha de marketing para o aumento do número de matrículas, uma das condições para evitar o desfecho trágico.
 

Na semana passada, o movimento já se traduzia em números, criando, desta vez, um novo problema -o excesso de procura. Teve de ser feita uma lista de espera. Afinal, com as oficinas, os estudantes do ensino fundamental passaram a desfrutar de tempo integral focado na experimentação.
 

Aquele punhado de resistentes acabou criando, por acaso, uma escola experimental. Como havia abundância de salas vazias e era necessário ocupá-las, começam, no próximo ano, cursos técnicos de informática gratuitos, oferecidos pelo Centro Paula Souza. É a primeira escola regular que mescla a sua grade curricular com a de cursos profissionalizantes, o que é visto, no governo estadual, como algo a ser replicado para melhorar a educação pública.
 

Com a agitação, a idéia do fechamento foi, pelo menos, postergada. Isso, entretanto, ainda não significa nem sucesso nem vitória. O sucesso mesmo só vai ser auferido, mais do que com o número de matrículas, com as notas dos testes. Ainda é cedo para saber quais os resultados dessa iniciativa, mas, por enquanto, já valeu a aula de solidariedade.

gdimen@uol.com.br


Texto Anterior: Pai retorna ao HC e encontra filha deitada no chão
Próximo Texto: A cidade é sua: Morador da zona sul reclama de depósito de entulho e pedra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.