São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

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Impasse sobre barracas deixa orla de Salvador com "jeito de favela"

Após embargo em 2006, praias estão repletas de material de construção

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Um dos principais destinos turísticos do país, Salvador convive com a favelização das barracas de praia desde setembro de 2006, quando a Justiça Federal e o Ibama (Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) embargaram as obras de reconstrução de 227 barracas, de um total de 488 espalhadas por 51 km de orla.
Por falta de autorização da União e de licença ambiental, o projeto, bancado por três cervejarias, está suspenso.
"Quem vai à praia em Salvador convive com pedaços de madeira, restos de concreto, alvenaria, sacos de cimento e outros materiais de construção, o que transforma a orla em uma verdadeira favela", afirma Raimundo Damasceno, um dos representantes dos barraqueiros.
"Pelo terceiro verão consecutivo, justamente a época em que os barraqueiros mais geram empregos temporários e faturam, vamos trabalhar em um cenário deprimente", diz Damasceno. "Nos últimos dois anos, 70% dos nossos clientes cativos simplesmente deixaram de vir à praia."

Areia
Além da falta de autorização da União e da licença ambiental, os barraqueiros enfrentam outro problema: em Salvador, os estabelecimentos foram construídos na areia, em faixa que pertence à Marinha, fato que também está sendo contestado pela Justiça.
"Este é um erro histórico que estamos tentando corrigir", afirma o procurador-geral da Prefeitura de Salvador, Pedro Guerra. De acordo com ele, o projeto de "requalificação" da orla da capital baiana prevê uma redução de 50% no número de barracas.
"Criamos três modelos de estabelecimentos: o pequeno, o médio e o grande, todos padronizados. Agora, só podemos concluir o trabalho quando o embargo for suspenso."
O procurador-geral diz que, após o recesso da Justiça, haverá reunião entre todas as partes envolvidas no litígio. "A nossa intenção é entregar aos turistas e aos baianos uma orla funcional e atraente. Do jeito que está é que não pode continuar", diz.
"Além de comprometer a visão do mar e a beleza da orla, as barracas que estavam sendo construídas na área foram transformadas à noite em dormitórios de moradores de rua e até mesmo traficantes", afirma José Eusébio Santana, gerente de um estabelecimento na praia de Patamares.
Alheios aos problemas enfrentados pela maioria dos seus colegas, 41 barraqueiros que trabalham na praia do Flamengo -uma das mais procuradas pelos turistas- não têm do que reclamar. Seus estabelecimentos foram remodelados antes de a Justiça determinar o embargo das obras.
"Depois da reforma, o movimento aumentou pelo menos 50%", diz Pedro Ribeiro, atendente de uma barraca na praia do Flamengo.


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