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Impasse sobre barracas deixa orla de Salvador com "jeito de favela"
Após embargo em 2006, praias estão repletas de material de construção
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Um dos principais destinos
turísticos do país, Salvador
convive com a favelização das
barracas de praia desde setembro de 2006, quando a Justiça
Federal e o Ibama (Instituto
Nacional do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis) embargaram as obras de
reconstrução de 227 barracas,
de um total de 488 espalhadas
por 51 km de orla.
Por falta de autorização da
União e de licença ambiental, o
projeto, bancado por três cervejarias, está suspenso.
"Quem vai à praia em Salvador convive com pedaços de
madeira, restos de concreto,
alvenaria, sacos de cimento
e outros materiais de construção, o que transforma a orla
em uma verdadeira favela",
afirma Raimundo Damasceno,
um dos representantes dos
barraqueiros.
"Pelo terceiro verão consecutivo, justamente a época em
que os barraqueiros mais geram empregos temporários e
faturam, vamos trabalhar em
um cenário deprimente", diz
Damasceno. "Nos últimos dois
anos, 70% dos nossos clientes
cativos simplesmente deixaram de vir à praia."
Areia
Além da falta de autorização
da União e da licença ambiental, os barraqueiros enfrentam
outro problema: em Salvador,
os estabelecimentos foram
construídos na areia, em faixa
que pertence à Marinha, fato
que também está sendo contestado pela Justiça.
"Este é um erro histórico que
estamos tentando corrigir",
afirma o procurador-geral da
Prefeitura de Salvador, Pedro
Guerra. De acordo com ele, o
projeto de "requalificação" da
orla da capital baiana prevê
uma redução de 50% no número de barracas.
"Criamos três modelos de estabelecimentos: o pequeno, o
médio e o grande, todos padronizados. Agora, só podemos
concluir o trabalho quando o
embargo for suspenso."
O procurador-geral diz que,
após o recesso da Justiça, haverá reunião entre todas as partes
envolvidas no litígio. "A nossa
intenção é entregar aos turistas
e aos baianos uma orla funcional e atraente. Do jeito que está
é que não pode continuar", diz.
"Além de comprometer a visão do mar e a beleza da orla, as
barracas que estavam sendo
construídas na área foram
transformadas à noite em dormitórios de moradores de rua e
até mesmo traficantes", afirma
José Eusébio Santana, gerente
de um estabelecimento na
praia de Patamares.
Alheios aos problemas enfrentados pela maioria dos seus
colegas, 41 barraqueiros que
trabalham na praia do Flamengo -uma das mais procuradas
pelos turistas- não têm do que
reclamar. Seus estabelecimentos foram remodelados antes
de a Justiça determinar o embargo das obras.
"Depois da reforma, o movimento aumentou pelo menos
50%", diz Pedro Ribeiro, atendente de uma barraca na praia
do Flamengo.
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