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Belga é "dono" de paraíso ecológico no RN
Praia do Calcanhar, praticamente ignorada pelo turismo nacional, pertence a engenheiro florestal e não é explorada por turistas
Localidade abriga ainda um monumento abandonado projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e o mais alto farol da Marinha no país
Fernando Donasci/Folha Imagem
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Praia do Calcanhar (RN); engenheiro florestal belga é dono de quase toda a faixa de terra à beira-mar
ALENCAR IZIDORO
FERNANDO DONASCI
ENVIADOS ESPECIAIS À BR-101
O marco zero da BR-101, no
litoral potiguar, esconde uma
praia semidesértica e um cenário paradisíaco praticamente
ignorados pelo turismo nacional, mas que já conquista ingleses, holandeses, americanos.
O lugar, na esquina do Brasil,
no município de Touros (RN),
dá acesso à praia do Calcanhar.
"É a praia do "seu Yan'", brinca
uma vizinha, em referência ao
apelido do engenheiro florestal
belga que virou dono de quase
toda a faixa de terra à beira-mar.
Uma área que toma conta de
três quilômetros de orla foi adquirida por Yan -Johannes
Leopold Bartholomeus Mallants, 50 e poucos anos ("precisa dizer a idade mesmo?", pergunta)-, nos anos 1990, quando
ele diz ter ficado encantado com
a região, após prestar consultoria ao Ibama.
Ele faz mistério do preço que
pagou na época por terrenos
que somam 6 milhões de metros
quadrados (quase quatro parques Ibirapuera), mas a Folha
apurou que é próximo de US$ 1
milhão (hoje, R$ 1,8 milhão).
Diz que sua intenção é "preservar esta beleza toda". Atualmente, constrói numa área a
200 metros da praia um condomínio que já vendeu metade dos
50 lotes com casas, a partir de
R$ 100 mil, principalmente para ingleses e holandeses.
O empreendimento, divulgado na internet (www.myhouseinparadise.com), já recebia
neste mês alguns moradores
com cabelos e olhos claros que
destoam dos da vizinhança.
"Quero ficar aqui sempre de
outubro a março, caminhando,
lendo", diz a holandesa Betty
Nijman, 58, que trabalha com
turismo. "Não temos TV, ar-condicionado, carro. Só tem essa piscina que acabamos de
inaugurar", afirmou ela à Folha no começo do mês, exibindo fotos da festa que deu às
crianças da vizinhança.
A celebração era pelo Sinterklaas, uma tradição holandesa
antes do Natal. Filhos de caseiros pobres e de trabalhadores
braçais da região, seis meninos
e meninas de Touros trajavam
chapéu e roupa vermelhos em
homenagem a São Nicolau.
Na praia do Calcanhar não
existe Réveillon ou Carnaval
que deixe as areias lotadas de
turistas. Ver mais de cinco deles na praia num dia quente de
verão é motivo de espanto.
Além de um monumento
abandonado do arquiteto Oscar
Niemeyer no começo da BR-101, a atração famosa nas imediações, visitada com alguma
frequência (250 pessoas num
mês), é a torre de 62 metros que
abriga as instalações do mais alto farol da Marinha no país.
Inaugurada em 1912 para se
tornar uma referência de navegação, a construção já tem apelido até entre os militares.
"O farol aqui é do "seu Yan".
Estamos no quintal dele. Daqui
a pouco vamos receber ordem
de despejo", brincou Marcio
Passarelli Noronha, 39, sargento da Marinha que trabalha no
local, ao receber a visita da Folha na companhia do belga.
Quando comprou terrenos
na região, o belga diz que foi
considerado "louco". "Perguntavam pra mim se eu era doido
de comprar dunas. A estrada
não chegava até aqui, tinha que
vir a pé ou de buggy", lembra.
Nesta década, ele montou
uma pousada na frente da
praia, mas que não era aberta
para qualquer um. Só recebia
grupos voltados a atividades de
ioga, meditação e massagens.
A pousada Paraíso Farol foi
fechada dois anos depois. É lá
que Yan mora sozinho (a família e os dois filhos seguem na
Bélgica), na companhia de funcionários -ele ainda tem planos de um parque eólico.
A presença dele por lá é controversa. "O homem é dono de
tudo. Dizem que só quer gringo
por aqui", comenta Zumira Cabral, 58. "A vinda de estrangeiros é de grande valia, gera emprego e renda", defende Edivânia Câmara, secretária de Administração de Touros.
O empresário belga enfrenta
na Justiça questionamento sobre um pedaço equivalente a
um sexto de suas terras, adquiridas de um francês.
"Ele deve ter comprado de
boa-fé. Mas quem vendeu não
era dono, houve adulteração
em cartório", diz José Dantas
Lira Jr. , advogado que move
ação para a família de um médico que morreu nos anos 80 e
que dizia ser dono da área.
Veja a cobertura completa
sobre a BR-101
www.folha.com.br/093511
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