|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Livros Jurídicos
Em 2009, foram lançadas quase 600 trabalhos públicos e privados
DO COLUNISTA DA FOLHA
No começo eram três. Talvez quatro. Em São Paulo, Revista dos Tribunais e Saraiva,
muito ligadas ao universo jurídico paulistano. A Atlas chegou mais tarde, voltada para
os segmentos fiscais e empresariais. No Rio de Janeiro, a
Forense, a Freitas Bastos. Publicavam livros jurídicos, no
tempo heroico da composição
em chumbo. Assim se faz a súmula quantitativa dos anos
destes "Livros Jurídicos", do
último quarto do século 20, ao
segundo decênio do século 21,
que agora se abre.
Saíram em 2009, entre
obras isoladas e coleções, quase 600 trabalhos jurídicos,
nas áreas da iniciativa privada
e pública. Corresponderam a
criações de 1.500 escritores.
O tempo mudou tudo. Em
2009, nada menos que 104
(cento e quatro!) editores foram referidos. Empresas industriais, especializadas ou
não no mundo das leis e de
seus estudos, associações civis e culturais, tribunais, universidades, produziram os volumes. Serve de exemplo a revista do Colégio Notarial do
Brasil (São Paulo), na discussão dos direitos individuais.
Destaque em 2009, entre as
obras novas. Cabe à Fundação
Getulio Vargas, com sua Escola de Direito, nesta capital, desenvolvendo expressivo conjunto de tomos compactos,
mas qualificados, até com o
propósito pedagógico de satisfazer suas próprias necessidades de ensino.
O critério para o acolhimento dos autores nesta página foi o de satisfazer o contínuo interesse do leitor, mesmo com a contenção do espaço aberto. Ou, talvez, exatamente pelo espaço restrito.
Exceção feita a duas obras, a
coluna semanal tem até 3.350
toques de computador. Os limites são muito claros, conforme o leitor constata a cada
sete dias. São obras individuais e coletivas, coleções ou
séries e codificações anotadas, que se atualizam ano
após ano, com bom mercado,
mesmo em tempos de internet. Parece razoável que o sucesso também seja filiado à
preocupação de divulgar
obras acadêmicas, com teses
de pós-graduação e das carreiras do magistério.
Numa etapa de transformação, as contribuições culturais estrangeiras continuam
alimentando estudos e ensaios de nossos autores, mantendo a tendência da segunda
metade do século 20. A coluna
divulgou em números redondos 20 coleções, 95 obras coletivas, com média de 15 contribuintes por volume. Chamou a atenção para dez séries
de livros de temário homogêneo, predominando nelas a finalidade pedagógica.
Os autores têm sido solicitados para a avaliação jurídica
e sociológica de um número
crescente de leis penais, civis
e comerciais. No caso das primeiras, a literatura jurídica
gerou, de monografias acadêmicas a livros da prática forense. Na literatura jurídica, o
direito penal foi marcado pela
discussão entre autores que
reclamam leis mais severas,
penas mais longas, e os que
qualificam punições detentivas como escolas de criminalidade. Não destaco nenhum
dos lados, mas está na hora
das vigilâncias eletrônicas e
químicas, sob severo controle
social. A controvérsia subsiste
inflamada desde que Cesare
Beccaria publicou seu "Dos
Delitos e das Penas". Jamais
terminará.
Na órbita constitucional e
civil, direitos da personalidade parecem os prediletos das
editorias. Concorrem com os
avanços tecnológicos, proporcionados pela divulgação eletrônica, gerando dúvidas sobre a subsistência do volume
impresso. No sentido oposto,
tenho fila de livros impressos,
aguardando a vez.
Óbvio está que o número
dos textos profissionais predomina. São impulsionados
pelas muitas mudanças nas
leis comerciais (a da recuperação e de falência, por exemplo), no processo civil e pelos
caminhos do direito administrativo, no controle-descontrole em matéria de corrupção, de licitações e do cumprimento dos contratos. Também pelas variações da lei penal e processual penal. Tomado o exemplo de meus livros,
os ajustes e atualizações em
edições sucessivas constituem trabalho minudente na
correção de texto. Projeção
nova para assunto antigo está
nas obras e até monografias
sobre o agronegócio, tem impulsionado avaliações nas
áreas do direito.
Não parece que o fluxo editorial tenha sofrido danos
graves nascidos da crise econômica internacional. Leis
confusas, de aplicação
contrastada, não cumpridas
até pela administração pública que as edita, continuam
com sua consequência perversa de originar processos
judiciais e livros novos. O direito tributário cresce como
subproduto.
A dúvida no cumprimento
de princípios da Constituição,
pelos que os deveriam
resguardar, não interferiu
na publicação de livros. Estimulou-a.
Texto Anterior: Walter Ceneviva: Ventos do Legislativo Próximo Texto: Há 50 Anos Índice
|