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Maurício Knobel, os livros e a mente
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo o tempo livre ele passava ali, cercado pelos 3.000
livros de sua biblioteca. Volumes que não emprestava a
ninguém, pois deles tinha
ciúmes, o psiquiatra e psicanalista Maurício Knobel.
Médico especialista em
psiquiatria infantil e professor livre-docente da Universidade Nacional de Buenos
Aires, Knobel nasceu e viveu
na capital argentina, onde
ainda dirigiu o instituto de
psicologia da universidade
de La Plata.
Contava sempre que fora
professor de Che Guevara,
que, então, "não revelava inclinação para a política". Já
seus filhos estavam envolvidos no movimento estudantil. Quando a tensão cresceu,
a ditadura o "convidou" a
deixar o país.
Os filhos foram para a Espanha e ele, para o Brasil,
tendo aceito o convite da
Unicamp para reorganizar
seu departamento de psiquiatria. Era 1976. O Brasil
também vivia a ditadura,
"mas aqui era mais leve".
Naturalizado brasileiro
em 1985, não quis mais deixar o país -nem quando a
democracia foi retomada na
Argentina. Até 1992, quando
se aposentou compulsoriamente, deu aulas e coordenou cursos de especialização
na Unicamp, como o de psicopatologia da adolescência.
Foi ainda vice-presidente
da Federação Internacional
de Psicoterapia e dirigiu comissões de saúde mundo
afora, além de ter escrito 12
livros, um dos quais sobre
psicoterapia breve, que ajudou a introduzir no país.
Só ficava envergonhado
quando lhe perguntavam sobre o casamento. Sua mulher
era sobrinha-neta do pai da
psicanálise, Sigmund Freud,
e ele, "um freudiano assumido". A resposta, sempre a
mesma: "só soube depois".
Foi dito que não emprestava livros e era verdade. Até
que, no ano passado, decidiu
doar todos. Na Unicamp, o
novo acervo leva o seu nome.
Internado no hospital, morreu na terça, de causas naturais, aos 85.
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