São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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Maurício Knobel, os livros e a mente

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo o tempo livre ele passava ali, cercado pelos 3.000 livros de sua biblioteca. Volumes que não emprestava a ninguém, pois deles tinha ciúmes, o psiquiatra e psicanalista Maurício Knobel.
Médico especialista em psiquiatria infantil e professor livre-docente da Universidade Nacional de Buenos Aires, Knobel nasceu e viveu na capital argentina, onde ainda dirigiu o instituto de psicologia da universidade de La Plata.
Contava sempre que fora professor de Che Guevara, que, então, "não revelava inclinação para a política". Já seus filhos estavam envolvidos no movimento estudantil. Quando a tensão cresceu, a ditadura o "convidou" a deixar o país.
Os filhos foram para a Espanha e ele, para o Brasil, tendo aceito o convite da Unicamp para reorganizar seu departamento de psiquiatria. Era 1976. O Brasil também vivia a ditadura, "mas aqui era mais leve".
Naturalizado brasileiro em 1985, não quis mais deixar o país -nem quando a democracia foi retomada na Argentina. Até 1992, quando se aposentou compulsoriamente, deu aulas e coordenou cursos de especialização na Unicamp, como o de psicopatologia da adolescência.
Foi ainda vice-presidente da Federação Internacional de Psicoterapia e dirigiu comissões de saúde mundo afora, além de ter escrito 12 livros, um dos quais sobre psicoterapia breve, que ajudou a introduzir no país.
Só ficava envergonhado quando lhe perguntavam sobre o casamento. Sua mulher era sobrinha-neta do pai da psicanálise, Sigmund Freud, e ele, "um freudiano assumido". A resposta, sempre a mesma: "só soube depois".
Foi dito que não emprestava livros e era verdade. Até que, no ano passado, decidiu doar todos. Na Unicamp, o novo acervo leva o seu nome. Internado no hospital, morreu na terça, de causas naturais, aos 85.


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