São Paulo, quarta, 27 de janeiro de 1999

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OPINIÃO

Obesidade infanto-juvenil

CLÓVIS FRANCISCO CONSTANTINO
FABIO ANCONA LOPEZ

A prevalência da obesidade cresce em todo o mundo e preocupa cada vez mais os médicos. Mesmo em países pobres, onde a desnutrição é uma tradição endêmica, esse mal se manifesta como sério problema de saúde. Na Inglaterra, o governo pretende reduzir a obesidade entre homens e mulheres em 25% e 33% respectivamente até 2005. Nos Estados Unidos, a meta é diminuir em 23% o número de pessoas obesas nos próximos dois anos, de acordo com o projeto Healthy People 2000. Entretanto, em meados da década que se encerra, houve um aumento de 30% na parcela da população obesa.
Essa tendência aponta para a necessidade imperiosa de combate e controle da obesidade desde a infância e adolescência. Em geral, o aumento da obesidade infanto-juvenil é agravado pela forma de tratamento equivocada adotada em muitos casos, tratando-a com esquemas semelhantes aos dos adultos, ao invés de esperar que o crescimento da criança leve a uma adequação do seu peso com relação à altura. As repercussões que o excesso de peso acarreta a médio e longo prazos na saúde são, entre outras, aumento do colesterol, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, diabetes, alterações dermatológicas e complicações ortopédicas e da função pulmonar.
A obesidade é um distúrbio do metabolismo energético, em que ocorre armazenamento excessivo de energia sob a forma de gordura no tecido subcutâneo. Como beira o caráter de epidemia, trata-se mais de um problema de saúde pública do que estético. O Brasil, que não superou um problema de Terceiro Mundo, a desnutrição infantil, absorveu este das nações ricas -a obesidade. Pesquisa realizada na cidade de São Paulo mostra que, entre jovens de 10 a 12 anos, uma média de 25% têm excesso de peso.
O melhor caminho para não se tornar obeso é a prevenção, começando pelo aleitamento materno e mantendo uma alimentação controlada durante toda a vida. Entretanto, estabelecida a obesidade, o tratamento requer uma abordagem multidisciplinar, clínica, psicológica, nutricional e de educação física. Na criança, o uso de qualquer medicamento traz riscos.
É necessário educar. A obesidade é um fator de risco não apenas para a mortalidade prematura, como para condições crônicas que levam à incapacidade e perda de produtividade e comprometimento da qualidade de vida e do funcionamento desta e de futuras gerações.


Clóvis Francisco Constantino, 50, é coordenador do Curso de Ética e Bioética do Conjunto Hospitalar do Mandaqui e presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

Fabio Ancona Lopez, 59, é professor titular de Nutrição do Departamento de Pediatria da Unifesp/EPM e vice-presidente da SPSP.



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