São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

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MARIA INÊS DOLCI

Melhor ou pior idade


O Estatuto do Idoso é um "PAC da Terceira Idade". Define o que os outros vão fazer, sem contrapartida do governo

VOCÊ SE olha no espelho, e percebe que o tempo passou muito mais rapidamente do que esperava aos 13, 14 anos, com pressa de completar 18 anos, para ganhar a chave de casa, a habilitação de motorista e o direito de ir ao cinema em "filmes para adultos". É claro que essa realidade mudou para os nascidos a partir dos anos 1970, mas todos nós temos a impressão de que nunca envelheceremos, tão longe estamos, na infância e adolescência, dos 70, 80, 90 anos.
Com a redução combinada da natalidade e o aumento da longevidade, até países como o Brasil, em que predominavam os jovens, têm mais idosos. A diferença é que, ao contrário dos europeus, dos japoneses, envelhecemos sem ter garantido os direitos básicos, fundamentais, dos recém-nascidos, das crianças, dos adolescentes, dos jovens e dos maduros. Muito menos dos idosos!
O Estatuto do Idoso é um "PAC da Terceira Idade". Define muito bem o que os outros vão fazer pelos idosos, sem a contrapartida de ações governamentais que viabilizem as propostas de benefícios para os mais velhos.
É perfeitamente viável melhorar as condições de vida daqueles que mereceriam mais conforto, mais segurança, mais tranqüilidade e, acima de tudo, mais respeito e dignidade, na velhice.
Para que não fiquemos somente na constatação do caos, algo fácil em um país em que a ação mais importante é "compor um ministério aliado", vamos às propostas. Se interessarem a alguma autoridade, ainda haverá esperança para todos nós, mais distantes ou próximos da terceira e, quem sabe, com os avanços da medicina, de uma "quarta idade":
1. É urgente a migração de uma previdência "atuarial" em que quem trabalha hoje paga os benefícios dos que se aposentaram ontem, grosso modo por uma previdência "acumulativa", em que cada um receba de acordo com o que poupou, ressalvados os de baixíssima renda, que terão de ser mantidos pelo Tesouro, pois impostos não existem somente para pagar a aposentadoria de mensaleiro;
2. Regulamentar, urgentemente, o funcionamento das filas para idosos, gestantes e portadores de necessidades especiais, para que não sejam subtraídas, e sim acrescentadas, às demais;
3. Definir reduções ou isenções de impostos que custeiem benefícios como passagem de ônibus gratuita para idosos e a isonomia de pagamento de planos de saúde para os que superarem os 50 anos;
4. Estabelecer um fundo financeiro com recursos definidos, para cumprir itens do Estatuto do Idoso, como a criação de unidades geriátricas de referência e o direito a atendimento domiciliar (capítulo IV);
Todos nós devemos modificar a forma de avaliar as pessoas, como elementos de produção e de consumo, somente. Governo algum ensinará filhos a respeitarem pais idosos, em lugar de considerá-los um estorvo, pela doença ou pela carência financeira. Essa lição de casa é de cada um de nós, brasileiros, pois todos que conseguirem se livrar de serem vítimas da violência viverão e chegarão lá.

NA INTERNET
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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