São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

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Marquise desaba em Copacabana e mata 2

Acidente ocorreu no Grande Hotel Canadá; pedestre de 80 anos e acompanhante foram atingidas e morreram no local

PMs afastaram as pessoas que tentavam ajudar com violência, lançando gás de pimenta. "Os curiosos só sairiam assim", disse policial

SÉRGIO RANGEL
ITALO NOGUEIRA

DA SUCURSAL DO RIO

Duas mulheres morreram e ao menos outras nove pessoas ficaram feridas ontem atingidas pela queda da marquise de um hotel, em Copacabana (zona sul do Rio). Nenhum dos feridos corre risco de morte.
A pedestre Maria Isabel Noronha de Souza Cardoso, 80, e sua acompanhante, identificada como Simone, morreram.
O desabamento da marquise do Grande Hotel Canadá, na avenida Nossa Senhora de Copacabana, a mais movimentada do bairro, ocorreu pouco depois das 11h. A fachada do hotel passa desde setembro por reforma -no fim de semana os andaimes foram retirados.
O advogado do hotel, Ely Machado, afirmou que os operários usavam a marquise para subir nos andaimes. A Secretaria Municipal de Urbanismo disse que não existe pedido de licença para obras na marquise.
À noite, o presidente do Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), Reynaldo Barros, afirmou que havia sobrepeso na estrutura, causado por entulhos e por uma impermeabilização feita com material de má qualidade. Segundo ele, também havia ferrugem na estrutura.
O Crea disse que a obra estava registrada no órgão e que o engenheiro Valdemiro de Freitas, responsável pela reforma, era vinculado ao conselho.
Segundo testemunhas, quatro pessoas trabalhavam na marquise, que tinha três metros de altura -um deles se pendurou numa janela e não se machucou. Bombeiros estimam que a armação pesava duas toneladas.
O desabamento levou o caos ao bairro. Dezenas de pessoas que passavam pela avenida corriam apavoradas, enquanto um grupo tentava ajudar os feridos -os três operários, uma turista e pedestres. O trânsito parou.
Policias militares afastaram a multidão com violência. Lançaram gás de pimenta nas pessoas. "Não tinha como fazer outra coisa. Os curiosos só sairiam assim", disse o subcomandante do 19º Batalhão de Polícia Militar, identificado como Eraldo.
"Faltou preparo à polícia para atuar numa situação desta. Jogar pimenta nas pessoas que queriam ajudar, não dá", disse o universitário Leandro Arent.
A queda da marquise também fechou as portas do hotel. Hóspedes e funcionários ficaram três horas confinados.
Alguns turistas deixaram o edifício nervosos. "Foi aterrorizante. Você se sente impotente diante de uma tragédia desta", disse o funcionário público Marcos Lima, 39, que perdeu o avião para Brasília.
O hotel tem classificação três estrelas -R$ 150 de diária. As vagas para o próximo fim de semana estão esgotadas.
O Instituto de Criminalística Carlos Éboli fará uma perícia para apontar em 15 dias as causas da queda. A polícia abriu inquérito, e a Secretaria Municipal de Urbanismo disse que aguardará o resultado para determinar penalidades.

Outro lado
Machado, o advogado do hotel, disse não saber precisar o motivo do desabamento, mas não descartou a possibilidade de a reforma ter abalado a estrutura. "Vamos investigar se, na obra, foi feito algo que sobrecarregou a marquise. Se isso ocorreu, vamos chamar os engenheiros à responsabilidade."
O advogado disse que a administração desconhecia problemas na marquise. Afirmou que o hotel poderá pagar indenizações às famílias, pois o seguro cobre acidentes como esse.
A Folha tentou falar com o representante da Art Plac, responsável pela reforma, mas um funcionário informou que o diretor não estava. Especializada em coberturas e revestimentos de fachadas, a Art Plac não foi identificada pelo presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Construção Pesada, Luiz Fernando Reis.


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