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Diferença entre salários de analfabeto e de quem fez curso superior pode chegar a 636%; maior escolaridade ajudaria na distribuição de renda
Pesquisadores vinculam analfabetismo e economia
CAROLINA MANDL
DIEGO VIANA
DA EQUIPE DE TRAINEES
Apesar de estar entre as
maiores economias do
mundo, o Brasil tem
ainda 15 milhões de
analfabetos com idade
igual ou superior a 15 anos -o
que equivale à população do Chile ou três vezes a de Israel.
A alfabetização é um princípio
básico da cidadania que o Brasil
ainda não conquistou para 13,3%
dos seus habitantes. Fora isso,
29,4% da população do país é formada por analfabetos funcionais
-pessoas que não completaram
os quatro primeiros anos do ensino fundamental.
Além de ser um direito assegurado pela Constituição, a alfabetização dos brasileiros, bem como a
sua educação regular, seria crucial
para que o país implementasse o
crescimento econômico e melhorasse o seu índice Gini, que contabiliza a desigualdade social, um
dos piores do mundo (o Brasil
ocupa o 79º lugar entre os países).
É o que defende um número cada vez maior de economistas e
analistas sociais brasileiros que,
sem desconsiderar o fator humanístico ou político da alfabetização e da educação, têm concentrado suas análises no impacto
negativo causado à economia do
país pela má formação educacional do brasileiro.
Essa abordagem se baseia na
teoria do capital humano, formalizada em 1962 pelo economista
norte-americano Theodore
Schultz (1902-1998). Para ele, o
aumento da escolaridade seria essencial para a redução das desigualdades sociais.
No Brasil, a tese começou a se
difundir com mais força a partir
da década de 70. Para explicar por
que a média de rendimentos dos
trabalhadores brasileiros é de 3,9
salários mínimos, muitos economistas utilizam hoje os números
educacionais, ou seja, a média de
5,6 anos de estudo do brasileiro
-menos do que o ensino fundamental completo.
Dados do IBGE mostram que,
nas regiões brasileiras com maior
analfabetismo, os salários são
mais baixos. No Nordeste, onde a
alfabetização é a menor do país
(72,5%), o rendimento médio é de
apenas 2,4 salários. Já no Sudeste,
ao mesmo tempo em que a taxa
de pessoas alfabetizadas é de
91,9%, a remuneração cresce para
4,7 salários.
Dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), onde
atuam alguns dos principais defensores da tese, indicam que 40%
da desigualdade no país resulta da
diferença de nível educacional.
Segundo um estudo feito pela
PUC-RJ (Pontifícia Universidade
Católica), cada ano de estudo pode incrementar o salário em
11,25% ao ano. De acordo com esse dado, a diferença entre os salários de um analfabeto e de uma
pessoa que fez um curso superior
pode chegar a 636%.
"A educação parece ser o fator
mais importante na produção de
desigualdade de renda", afirma
Reynaldo Fernandes, professor
da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) de Ribeirão Preto, autor
do estudo "Grau de Cobertura e
Resultados Econômicos do Ensino Supletivo no Brasil".
Para muitos economistas, além
de aumentar os salários e diminuir a desigualdade de renda, a
educação pode gerar desenvolvimento econômico.
"Uma maior desigualdade age
como um freio no desenvolvimento porque produz uma mão-de-obra menos produtiva", diz o
professor Francisco Ferreira, da
PUC-RJ, que está preparando o
estudo "Por Que o Brasil é um
País tão Desigual?".
Outros pesquisadores e economistas, no entanto, contestam a
eficácia da educação no desenvolvimento. Eles afirmam que a educação sozinha não seria capaz de
gerar transformações tão radicais
no núcleo socioeconômico brasileiro (veja reportagem abaixo).
Para eles, sem alterar antes os
fatores que levam o Brasil a ter o
índice de Gini de 0,567 não é possível o país se desenvolver. O número varia de 0 a 1 (onde 0 indica
distribuição de renda perfeita).
Na opinião de Ricardo Paes de
Barros, diretor de estudos sociais
do Ipea, o impacto da diminuição
do analfabetismo e da consequente maior igualdade seria sentido
até no PIB (Produto Interno Bruto), com um incremento de 2%
(leia entrevista na pág. ao lado).
Para ele, é importante aliar o
acesso à educação a uma desconcentração de renda. Mas o economista afirma que, para o desenvolvimento econômico, é mais
importante investir em educação.
"Se eu tiver uma força de trabalho supereducada, vou mostrar
que tenho gente que sabe trabalhar, e outros vão investir aqui",
afirma Paes de Barros.
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