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São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2003

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ÁGUA

Assoreamento causado por ações irregulares "secou" 286 bilhões de litros da represa, que abasteceriam São Paulo por quase oito meses

Billings perde 22% do volume em 30 anos

Ormuzd Alves/Folha Imagem
Vista da represa Billings, maior reservatório da Grande SP, que sofre com ocupação irregular


MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Por causa da ocupação desordenada e irregular das margens dos rios e córregos que a formam, a represa Billings, maior reservatório da Grande São Paulo, que abastece 1,2 milhão de pessoas na região metropolitana, perdeu, nos últimos 30 anos, 22% de sua capacidade de armazenar água -o que corresponde a 286 bilhões de litros, que poderiam atender todos os moradores da capital paulista por quase oito meses.
A redução do volume ocorre devido ao assoreamento (obstrução) do leito dos rios, causado por depósitos irregulares de material de construção, escorregamento de solo de áreas desmatadas e poluição difusa, principalmente lixo.
O diagnóstico está no "Dossiê Billings 2003", do coletivo de ONGs Campanha Billings, Eu Te Quero Viva, que acompanha a situação da represa desde 93 e usa dados da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia, a quem pertence a Billings) e de visitas de monitoramento in loco.
A degradação da represa, causada também pelo despejo de esgoto das áreas habitadas, significa o desperdício de uma fonte potencial de abastecimento público para 4,5 milhões de pessoas, segundo o relatório "Billings 2002" do Instituto Socioambiental (ISA).
A Grande São Paulo encarou racionamentos em 2000, 2001 e início de 2002 e usa água da bacia do rio Piracicaba (interior do Estado). O manancial não-explorado mais próximo da região está a uma serra do Mar de distância.
O "Dossiê Billings 2003" lançado hoje, quando faz 78 anos a assinatura do decreto que criou a represa, aponta, por exemplo, o quase sumiço do córrego do Alvarenga (em São Bernardo do Campo) e do braço do Eldorado (em Diadema) e o forte assoreamento na área do Jardim Primavera (zona sul de São Paulo).
Apesar de ser uma área extremamente pesquisada (além dos dois estudos já citados, o ISA tem ainda um "plano diretor" para a região, elaborado num seminário no ano passado), a bacia da Billings é palco de poucas intervenções localizadas. "Falta colocar em prática o que vem sendo sugerido", afirma Carlos Bocuhy, coordenador da Campanha Billings, Eu Te Quero Viva e membro do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente).
Uma possibilidade de uso defendida pelos ambientalistas é a do ecoturismo e do lazer náutico, com a legalização e urbanização de algumas áreas consolidadas. "Mas é preciso também ter medidas de controle que parem a ocupação", ressalta Bocuhy.
A perspectiva é que, só com a verticalização das casas, mais 50 mil se mudem para a Billings nos próximos anos. A região tem cerca de 700 mil moradores.

Recuperação
Para tentar contra-atacar a destruição dos mananciais da região metropolitana, um plano de recuperação das bacias do Alto Tietê, que inclui a Billings, deve ser detalhado neste ano por um grupo de técnicos do governo estadual e das prefeituras da região. A verba para isso, US$ 1 milhão (ou cerca de R$ 3,4 milhões), está assegurada por um banco japonês, afirma o secretário da Habitação e do Meio Ambiente de São Bernardo do Campo, Osmar Mendonça.
O município do ABC, que tem a maior porcentagem de área da Billings, vem obtendo algumas vitórias na batalha pela preservação da represa. Uma delas é a inauguração hoje da primeira estação de esgotos numa área de manancial do Estado, resultado de acordo com o Ministério Público e a população do bairro de Pinheirinho, que vai pagar a obra e o tratamento do efluente do próprio bolso.
"O problema do assoreamento é grave", reconhece Mendonça. Para combatê-lo, a prefeitura tem estimulado as denúncias de despejos irregulares de entulho, feito campanhas educativas, pavimentado ruas com um asfalto poroso (que absorve mais a água) e firmado acordos judiciais para congelar a ocupação em determinadas áreas. Na região do Alvarenga, porém, ainda não há pacto.

Regata
No sábado e no domingo, o aniversário da represa será comemorado com a Semana de Vela, primeira regata oficial no reservatório desde os anos 70.
As inscrições para as provas, com início às 14h, serão feitas no próprio local. Podem participar pessoas com mais de oito anos, sejam velejadores federados ou não. A entrada é gratuita.


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