São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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USP guarda 160 mil livros amontoados em caixas há 2 meses

Acervo da Faculdade de Direito está em caixas de papelão fragilmente lacradas e empilhadas em prédio no centro

Alunos e professores reclamam que estão sem acesso às obras; direção da faculdade alega que a mudança era necessária

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

No terceiro e quarto andares do prédio 205 da rua Senador Feijó, no centro, mais de 100 mil livros de direito amontoam-se em caixas de papelão fragilmente lacradas e empilhadas.
Desde 25 de janeiro, quando foi feita a transferência do acervo da Faculdade de Direito da USP, os alunos se deparam com estantes desmontadas, fitas adesivas pelo chão e caixas.
"Estamos perdendo trabalhos, e o aproveitamento do curso está sendo prejudicado", diz Vanderley Sampaio Jr., 37, aluno do segundo ano. "No curso de história do direito, por exemplo, temos um trabalho para 20 de abril que depende dos livros da biblioteca."
A precariedade das instalações e a falta de acesso de alunos e professores ao acervo mobilizaram a comunidade acadêmica. Na quarta-feira, a procuradora Ana Cristina Bandeira Lins vistoriou o local e recomendou ao diretor da faculdade que os livros estejam disponíveis em um prazo de 30 dias.
"Essa mudança se deu sem acompanhamento de ninguém da biblioteca, sem empresa especializada. As caixas estão rasgando porque não suportam o peso dos livros, que foram acondicionados de qualquer forma, tratados como tijolo", diz ela.
O imbróglio começou em janeiro, quando os 160 mil livros das bibliotecas circulante e departamentais foram levados para o prédio da Senador Feijó, que foi desapropriado pelo governo em 29 de dezembro.
A direção alegou que a mudança era necessária para que o espaço ocupado pelos livros na faculdade no largo São Francisco desse lugar a salas de aula.
Em 15 de março, uma pequena parte do acervo -a biblioteca circulante, composta sobretudo por códigos de direito, que podem ser emprestados-, foi aberta ao público. Os acervos departamentais, que não circulam, continuam fechados.
Na noite de quinta, numa reunião entre alunos e docentes, Eduardo Cesar Silveira Vita Marchi, ex-diretor da faculdade, leu uma carta em que acusa a direção de descaso, falta de planejamento e de ter feito a mudança sem licitação.
"É triste o que está acontecendo. A universidade não é apenas um espaço de transmissão, mas também de produção de conhecimento, cujo cerne é pesquisa. Para isso, as bibliotecas são fundamentais", diz Helcio Madeira, também professor.


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