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USP guarda 160 mil livros amontoados em caixas há 2 meses
Acervo da Faculdade de Direito está em caixas de papelão fragilmente lacradas e empilhadas em prédio no centro
Alunos e professores reclamam que estão sem acesso às obras; direção da faculdade alega que a mudança era necessária
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
No terceiro e quarto andares
do prédio 205 da rua Senador
Feijó, no centro, mais de 100
mil livros de direito amontoam-se em caixas de papelão fragilmente lacradas e empilhadas.
Desde 25 de janeiro, quando
foi feita a transferência do acervo da Faculdade de Direito da
USP, os alunos se deparam com
estantes desmontadas, fitas
adesivas pelo chão e caixas.
"Estamos perdendo trabalhos, e o aproveitamento do
curso está sendo prejudicado",
diz Vanderley Sampaio Jr., 37,
aluno do segundo ano. "No curso de história do direito, por
exemplo, temos um trabalho
para 20 de abril que depende
dos livros da biblioteca."
A precariedade das instalações e a falta de acesso de alunos e professores ao acervo mobilizaram a comunidade acadêmica. Na quarta-feira, a procuradora Ana Cristina Bandeira
Lins vistoriou o local e recomendou ao diretor da faculdade
que os livros estejam disponíveis em um prazo de 30 dias.
"Essa mudança se deu sem
acompanhamento de ninguém
da biblioteca, sem empresa especializada. As caixas estão rasgando porque não suportam o
peso dos livros, que foram acondicionados de qualquer forma,
tratados como tijolo", diz ela.
O imbróglio começou em janeiro, quando os 160 mil livros
das bibliotecas circulante e departamentais foram levados
para o prédio da Senador Feijó,
que foi desapropriado pelo governo em 29 de dezembro.
A direção alegou que a mudança era necessária para que o
espaço ocupado pelos livros na
faculdade no largo São Francisco desse lugar a salas de aula.
Em 15 de março, uma pequena parte do acervo -a biblioteca circulante, composta sobretudo por códigos de direito, que
podem ser emprestados-, foi
aberta ao público. Os acervos
departamentais, que não circulam, continuam fechados.
Na noite de quinta, numa
reunião entre alunos e docentes, Eduardo Cesar Silveira Vita
Marchi, ex-diretor da faculdade, leu uma carta em que acusa
a direção de descaso, falta de
planejamento e de ter feito a
mudança sem licitação.
"É triste o que está acontecendo. A universidade não é
apenas um espaço de transmissão, mas também de produção
de conhecimento, cujo cerne é
pesquisa. Para isso, as bibliotecas são fundamentais", diz Helcio Madeira, também professor.
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