São Paulo, segunda-feira, 27 de abril de 2009

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Família usa abrigo provisório há 16 anos

Cerca de 500 famílias residem em oito alojamentos municipais na cidade de São Paulo à espera de moradia popular

Segundo vistorias feitas pela própria prefeitura, os abrigos têm rede de esgoto entupida, infiltrações e ligações elétricas irregulares


TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o aposentado Manoel Soares da Silva, 64, foi retirado da favela onde morava -porque no local seria construída uma rua-, teve a esperança de ganhar um teto.
Ele relata que recebeu, inclusive, uma senha da prefeitura, que garantia que seria contemplado por um novo projeto de moradia popular. Manoel continua a viver no mesmo local onde foi colocado pela administração municipal: um alojamento provisório. Passaram-se 16 anos. Ele deveria ter ficado apenas seis meses.
Assim como ele, aproximadamente 500 famílias, de acordo com a Secretaria Municipal de Habitação, vivem em abrigos provisórios da prefeitura -são pessoas que perderam seus barracos em incêndios, viviam em área de risco de desabamento ou moravam em local que deveria virar uma rua ou uma área verde. Algumas vivem nesses lugares desde que eles foram criados. Outros conseguiram ser atendidos, e parte desistiu de esperar e se mudou por conta própria.
Como os alojamentos deveriam ser provisórios, cada família teve direito a um espaço de cerca de 20 metros quadrados. Segundo vistorias feitas pela própria prefeitura, os abrigos estão em situação crítica. Telhados desgastados, rede de esgoto entupida, ligações elétricas irregulares -com fios expostos, que já pegaram fogo-, paredes com rachaduras e falta de escoamento da água da chuva são alguns dos problemas.
A Secretaria Municipal de Habitação afirma que as alternativas de moradias oferecidas não foram aceitas pelas famílias e que até o final da gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM), em 2012, nenhum desses locais deverá mais existir.
Manoel afirma que nunca recebeu proposta da prefeitura para deixar o alojamento.
Um dos abrigos em situação mais crítica é o Jardim Celeste, no Jardim São Savério (zona sul), que abriga 42 famílias. Elas viviam em uma área de risco e, para retirá-las de lá, a prefeitura ofereceu um terreno para que fizessem, provisoriamente, barracos.
Os moradores não puderam construir casas de alvenaria, já que ficariam no local por apenas seis meses. Até hoje, eles estão nos mesmos barracos de madeira. "Todo ano a prefeitura fala que vai nos levar daqui para um prédio da CDHU e que, se construirmos em concreto, vamos perder o dinheiro que investimos", conta a diarista Raquel Leonardo, 44. As telhas da casa dela já chegaram a desabar e, toda vez que chove, as fossas de esgoto transbordam e a água invade a residência.
No alojamento Jacaraípe, na Vila Prudente (zona leste), onde vivem cem famílias, os abrigos foram construídos em madeira pela prefeitura e apresentam umidade. Nos cômodos enfileirados em dois andares, as famílias vivem há seis anos, desde que parte da favela em que moravam, de mesmo nome do alojamento, pegou fogo.
Também na zona leste, o alojamento Jardim São Carlos tem esgoto que corre a céu aberto. Nele vivem 36 famílias há 14 anos, retiradas de uma favela próxima para a construção de uma grande área verde, contam os moradores. A prefeitura diz que eles estavam em área de risco. No lugar de onde foram retiradas as casas, existe hoje apenas um imenso matagal.


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