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Família usa abrigo provisório há 16 anos
Cerca de 500 famílias residem em oito alojamentos municipais na cidade de São Paulo à espera de moradia popular
Segundo vistorias feitas pela própria prefeitura, os abrigos têm rede de esgoto entupida, infiltrações e ligações elétricas irregulares
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando o aposentado Manoel Soares da Silva, 64, foi retirado da favela onde morava
-porque no local seria construída uma rua-, teve a esperança de ganhar um teto.
Ele relata que recebeu, inclusive, uma senha da prefeitura,
que garantia que seria contemplado por um novo projeto de
moradia popular. Manoel continua a viver no mesmo local
onde foi colocado pela administração municipal: um alojamento provisório. Passaram-se
16 anos. Ele deveria ter ficado
apenas seis meses.
Assim como ele, aproximadamente 500 famílias, de acordo com a Secretaria Municipal
de Habitação, vivem em abrigos provisórios da prefeitura
-são pessoas que perderam
seus barracos em incêndios, viviam em área de risco de desabamento ou moravam em local
que deveria virar uma rua ou
uma área verde. Algumas vivem nesses lugares desde que
eles foram criados. Outros conseguiram ser atendidos, e parte
desistiu de esperar e se mudou
por conta própria.
Como os alojamentos deveriam ser provisórios, cada família teve direito a um espaço de
cerca de 20 metros quadrados.
Segundo vistorias feitas pela
própria prefeitura, os abrigos
estão em situação crítica. Telhados desgastados, rede de esgoto entupida, ligações elétricas irregulares -com fios expostos, que já pegaram fogo-,
paredes com rachaduras e falta
de escoamento da água da chuva são alguns dos problemas.
A Secretaria Municipal de
Habitação afirma que as alternativas de moradias oferecidas
não foram aceitas pelas famílias e que até o final da gestão
do prefeito Gilberto Kassab
(DEM), em 2012, nenhum desses locais deverá mais existir.
Manoel afirma que nunca recebeu proposta da prefeitura
para deixar o alojamento.
Um dos abrigos em situação
mais crítica é o Jardim Celeste,
no Jardim São Savério (zona
sul), que abriga 42 famílias.
Elas viviam em uma área de risco e, para retirá-las de lá, a prefeitura ofereceu um terreno para que fizessem, provisoriamente, barracos.
Os moradores não puderam
construir casas de alvenaria, já
que ficariam no local por apenas seis meses. Até hoje, eles
estão nos mesmos barracos de
madeira. "Todo ano a prefeitura fala que vai nos levar daqui
para um prédio da CDHU e que,
se construirmos em concreto,
vamos perder o dinheiro que
investimos", conta a diarista
Raquel Leonardo, 44. As telhas
da casa dela já chegaram a desabar e, toda vez que chove, as
fossas de esgoto transbordam e
a água invade a residência.
No alojamento Jacaraípe, na
Vila Prudente (zona leste), onde vivem cem famílias, os abrigos foram construídos em madeira pela prefeitura e apresentam umidade. Nos cômodos enfileirados em dois andares, as
famílias vivem há seis anos,
desde que parte da favela em
que moravam, de mesmo nome
do alojamento, pegou fogo.
Também na zona leste, o alojamento Jardim São Carlos
tem esgoto que corre a céu
aberto. Nele vivem 36 famílias
há 14 anos, retiradas de uma favela próxima para a construção
de uma grande área verde, contam os moradores. A prefeitura
diz que eles estavam em área de
risco. No lugar de onde foram
retiradas as casas, existe hoje
apenas um imenso matagal.
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