São Paulo, segunda-feira, 27 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Depois dos fumantes, obesos são alvo de patrulhamento

Cobrança de poltrona extra para passageiros muito gordos na companhia aérea United Airlines, que tem voos no Brasil, amplia debate sobre restrições

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se em São Paulo a vida dos fumantes está ficando mais difícil, com proibições ao cigarro em bares e empresas, em outros países os obesos também sofrem patrulhamento.
Os quilos a mais já custam mais caro em várias companhias aéreas internacionais (algumas com voos no Brasil), nas quais passageiros muito acima do peso podem ter de pagar por duas poltronas em voos cheios.
No Estado do Alabama (EUA), o governo cobrará, a partir de 2011, US$ 25 por mês de obesos que não se cuidarem.
Na Inglaterra, um condado motivou protestos ao passar a cobrar, neste ano, 50% a mais para enterrar corpos "maiores".
"Isso é cruel", diz Walmir Coutinho, diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia. "Sei que as empresas não querem prejuízo, mas a ciência mostra que não é correto dizer que só é gordo quem quer. Seria algo como taxar mais os cadeirantes porque [eles] precisam de mais auxílio."
A United Airlines cita reclamações de "cerca de 700 passageiros em 2008" que viajaram "espremidos" para justificar a criação, há duas semanas, da cobrança de poltrona extra para obesos em voos lotados.
Nada será cobrado se houver cadeiras disponíveis, diz a empresa. Outras oito companhias americanas já faziam a cobrança. Algumas, como a Continental e a Delta, operam no Brasil, onde as regras também valem, assim como a United.
No Brasil, TAM e Gol dizem que não adotam essa política.
O Procon de São Paulo condena a ideia. "Trata-se de atitude discriminatória em razão de um aspecto físico, o que não condiz com o princípio de igualdade estabelecido pela Constituição Federal", afirma a entidade em nota.
Para a atriz Fabiana Karla (114 kg e 1,65m), 33, "as companhias deveriam ser acessíveis a todos". "Não faço apologia da gordura, sei que a obesidade traz problemas [como maior risco de hipertensão, diabetes, infarto, derrames], mas é preciso entender as diferenças."
O atleta de sumô Willian Higuchi, 26, que vai a Taiwan em julho para um campeonato, diz que os lutadores chegam "moídos" das viagens. "Aqui não há lutadores de sumô de 150 kg, como no Japão. Mas peso 117 kg e o desconforto é grande."

Cemitério
No condado inglês Houghton Regis, o conselho de funerais decidiu cobrar desde março 50% a mais para enterrar pessoas muito gordas. "O fundamento básico é que ocupam mais espaço", disse à Folha o conselheiro Steve Oliver.
A regra começou a vigorar em março. Em vez da tarifa normal de 129 libras (R$ 415), o sepultamento de obesos custa 194 libras (R$ 625).

"Imposto de gordura"
Funcionários do governo estadual do Alabama (EUA) pagarão US$ 25 mensais se estiverem fora do peso e não se cuidarem. Para os outros, o plano de saúde continua grátis.
Antes do "imposto de gordura", o governo já cobrava US$ 25 de fumantes. "Houve polêmica, mas há resultados positivos. O total de empregados fumantes caiu de 23% para 21%", disse à Folha Garry Mathews, do governo local.


Texto Anterior: Meta da gestão municipal é acabar com os oito alojamentos da cidade até 2012
Próximo Texto: Mais larga, poltrona especial do metrô de SP
suporta 250 kg

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.