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Depois dos fumantes, obesos são alvo de patrulhamento
Cobrança de poltrona extra para passageiros muito gordos na companhia aérea United Airlines, que tem voos no Brasil, amplia debate sobre restrições
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se em São Paulo a vida dos
fumantes está ficando mais difícil, com proibições ao cigarro
em bares e empresas, em outros países os obesos também
sofrem patrulhamento.
Os quilos a mais já custam
mais caro em várias companhias aéreas internacionais (algumas com voos no Brasil), nas
quais passageiros muito acima
do peso podem ter de pagar por
duas poltronas em voos cheios.
No Estado do Alabama
(EUA), o governo cobrará, a
partir de 2011, US$ 25 por mês
de obesos que não se cuidarem.
Na Inglaterra, um condado
motivou protestos ao passar a
cobrar, neste ano, 50% a mais
para enterrar corpos "maiores".
"Isso é cruel", diz Walmir
Coutinho, diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia. "Sei que as empresas não
querem prejuízo, mas a ciência
mostra que não é correto dizer
que só é gordo quem quer. Seria
algo como taxar mais os cadeirantes porque [eles] precisam
de mais auxílio."
A United Airlines cita reclamações de "cerca de 700 passageiros em 2008" que viajaram
"espremidos" para justificar a
criação, há duas semanas, da cobrança de poltrona extra para
obesos em voos lotados.
Nada será cobrado se houver
cadeiras disponíveis, diz a empresa. Outras oito companhias
americanas já faziam a cobrança. Algumas, como a Continental e a Delta, operam no Brasil,
onde as regras também valem,
assim como a United.
No Brasil, TAM e Gol dizem
que não adotam essa política.
O Procon de São Paulo condena a ideia. "Trata-se de atitude discriminatória em razão de
um aspecto físico, o que não
condiz com o princípio de igualdade estabelecido pela Constituição Federal", afirma a entidade em nota.
Para a atriz Fabiana Karla
(114 kg e 1,65m), 33, "as companhias deveriam ser acessíveis a
todos". "Não faço apologia da
gordura, sei que a obesidade
traz problemas [como maior
risco de hipertensão, diabetes,
infarto, derrames], mas é preciso entender as diferenças."
O atleta de sumô Willian Higuchi, 26, que vai a Taiwan em
julho para um campeonato, diz
que os lutadores chegam "moídos" das viagens. "Aqui não há
lutadores de sumô de 150 kg,
como no Japão. Mas peso 117 kg
e o desconforto é grande."
Cemitério
No condado inglês Houghton
Regis, o conselho de funerais
decidiu cobrar desde março
50% a mais para enterrar pessoas muito gordas. "O fundamento básico é que ocupam
mais espaço", disse à Folha o
conselheiro Steve Oliver.
A regra começou a vigorar
em março. Em vez da tarifa
normal de 129 libras (R$ 415), o
sepultamento de obesos custa
194 libras (R$ 625).
"Imposto de gordura"
Funcionários do governo estadual do Alabama (EUA) pagarão US$ 25 mensais se estiverem fora do peso e não se cuidarem. Para os outros, o plano
de saúde continua grátis.
Antes do "imposto de gordura", o governo já cobrava US$
25 de fumantes. "Houve polêmica, mas há resultados positivos. O total de empregados fumantes caiu de 23% para 21%",
disse à Folha Garry Mathews,
do governo local.
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