São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 2011

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ANÁLISE

Tecnologia cria mundo onde é quase impossível contar mentiras

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Câmaras inteligentes, radares de velocidade, softwares de reconhecimento biométrico, testes de drogas. A tecnologia vai criando um mundo onde é virtualmente impossível mentir.
De um lado, essa é uma boa notícia. Os gadgets possibilitam ambientes mais seguros, com menos fraudes eletrônicas e mortes no trânsito, por exemplo. De outro, inibem o que parece ser um instinto humano: a mentira.
A afirmação é meio forte, mas mentir é parte da natureza humana. Como mostra o psicólogo Robert Feldman em "The Liar in Your Life" (o mentiroso em sua vida), estudos sugerem que bebês de apenas seis meses já simulam choro e gargalhadas para atrair a atenção dos pais.
Entre os três e o sete anos, crianças submetidas a experimentos em que se comprometem a não espiar escondidas um objeto desobedecerão à regra em 82% das ocasiões. Pior, mentirão sobre isso até 95% das vezes.
As coisas não melhoram quando crescemos: no curso de uma conversação de meros dez minutos em que dois adultos se apresentam, eles mentem uma média de três vezes cada.
É claro que há mentiras e mentiras. Existem desde as inverdades socialmente necessárias, como elogiar a comida da sogra, até as ostensivamente fraudulentas, como falsificar dinheiro.
Distinguir entre os dois tipos e seus intermediários é uma tarefa que exige habilidades sociais inatas. O risco de transferir a empreitada para máquinas, incapazes de enxergar a diferença entre cortesia e crime, é tornar a vida social ainda mais difícil.
Em resumo, há mentiras que não queremos descobrir.


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