São Paulo, segunda, 27 de abril de 1998

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Essencialmente gramático

PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha

O professor Napoleão era agnóstico -escreveu vasta obra a respeito- e gramático -conservador, na opinião de muitos.
Ferrenho defensor do ensino da norma culta, Napoleão considerava inconcebível que a criança passasse menos de oito horas por dia na escola.
Descobri-o na adolescência, em sua coluna "Questões Vernáculas", publicada pelo jornal "O Estado de S. Paulo". A coluna nunca foi leitura fácil, já que normalmente era escrita em estilo preciosista, às vezes barroco, e constantemente calcada em explicações que contemplavam o saber linguístico erudito -latim e grego eram citações frequentes.
Talvez por isso, os linguistas autoproclamados de vanguarda o têm como conservador e consideram inútil o estudo de sua obra. Meticuloso, Napoleão era essencialmente gramático e como tal deve ser encarado. Muita gente o admira e respeita, sobretudo por seu curso de português e latim por correspondência.
Quando o entrevistei para o "Nossa Língua Portuguesa", contrariando o rótulo de conservador, Napoleão -simpático e bem-humorado- defendeu a idéia de que o timbre (abertura da vogal) é uma questão regional, no caso de "pôça" ou "póça", por exemplo.
Já no CD-ROM "Nossa Língua Portuguesa", pedi seu depoimento sobre o uso do verbo "ter" com o sentido de "existir". Dessa vez, Napoleão foi conservador. Condenou frases como "Tem gente na sala" ou "Não tem açúcar no café".
Uma coisa, porém, é incontestável: quem quiser estudar o português ortodoxo -para prestar concurso público, advogar, exercer a magistratura ou carreira diplomática- certamente precisará consultar a obra de Napoleão.



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