São Paulo, segunda, 27 de abril de 1998

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MAGIA NEGRA
Eram acusadas de matar garoto
Juíza absolve acusadas de rito macabro

JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Londrina

Celina e Beatriz Abagge, mãe e filha, acusadas pelo assassinato, em abril de 1992, do garoto Evandro Ramos Caetano, foram absolvidas na madrugada de ontem em São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba), no mais longo julgamento da história da Justiça brasileira.
Na entrada do 35º dia consecutivo de sessões, o Corpo de Jurados, à 0h25 de ontem, decidiu absolver Celina Abagge por 4 votos contra 3, e Beatriz Abagge (5 votos contra 2) por co-autoria nos crimes de sequestro, cárcere privado, homicídio e ocultação de cadáver.
Mãe e filha eram acusadas, juntamente com o pai-de-santo Oswaldo Marcineiro e outras quatro pessoas, pela morte de Evandro Caetano Ramos, então com seis anos, em um ritual de magia negra em 7 de abril de 1992.
Celina e Beatriz, mulher e filha do prefeito de Guaratuba (litoral do PR) na época, Aldo Abagge, chegaram a confessar o crime. Ao final do julgamento, a defesa conseguiu mostrar aos jurados que a confissão de ambas havia sido conseguida sob tortura.
A Promotoria anunciou, ao final do julgamento, que irá recorrer da sentença. Marcineiro e os outros quatro acusados serão levados a julgamento a partir de maio.
A juíza Marcelise Weber Lorite, além de absolver as duas, determinou a instauração de inquérito para apurar crime de falso testemunho contra o artesão Edésio Silva, que disse ter visto o menino Evandro Caetano em um carro com Celina e Beatriz Abagge no dia do crime. Lorite determinou ainda abertura de novo inquérito para confirmar a identidade do corpo.
A prisão dos acusados e as confissões foram feitas pela P-2 (polícia secreta da Polícia Militar do Paraná), que não teria, de acordo com o advogado de defesa, Antonio Figueiredo Basto, atribuição legal para exercer funções "próprias da polícia civil".
A Defesa mostrou, através de computação gráfica, que foram feitos 23 cortes em uma fita cassete de 21 minutos que registra a confissão de Celina e Beatriz Abagge. Se podia ouvir uma voz ao fundo orientando a confissão de Beatriz. "Confesse direitinho que nós não lhe pomos a mão", afirmava a voz. Basto disse que a família Abagge irá processar o Estado.



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