|
Próximo Texto | Índice
SÃO PAULO SUBMERSA
Mauro Arce diz que obras não bastam e que só o crescimento menor da cidade evitará novas enchentes
Tietê está chegando ao limite, diz secretário
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tietê está chegando ao seu limite. Com o crescimento populacional da Grande São Paulo e a
contínua impermeabilização do
solo, nem as obras de mais de R$ 1
bilhão para a ampliação do leito
do rio e a construção de novos
piscinões impedirão um futuro
caótico de inundações nas marginais paulistanas.
A avaliação é do secretário estadual de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento, Mauro Arce,
que decreta: "Temos dez anos para reverter essa tendência. Ou tomamos juízo ou será o caos."
Para ele, é preciso impedir a
contínua ocupação das áreas de
manancial e haver mudanças nas
leis de uso e ocupação do solo que
obriguem as novas construções a
ter maior área permeável, para reduzir a velocidade com que a água
chega ao Tietê, a principal calha
da Grande São Paulo.
Leia abaixo trechos da entrevista concedida à Folha ontem, após
uma reunião com empresários
que cuidam das obras no Tietê:
Folha - A obra do rio Tietê foi muito afetada pela inundação?
Mauro Arce - Muito pouco. Só
perdemos uma barcaça e uma escavadeira. Mas as empresas têm
seguro e não haverá atraso.
Folha - Quando ficará pronta?
Arce - Até o início do próximo
verão, creio que até 30 de setembro esteja concluída. Só nos falta
escavar 5% do volume total.
Folha - Com a obra pronta não haverá mais inundações?
Arce - Difícil dizer por dois motivos. Primeiro, porque o volume
de chuva foi muito grande em
pouco tempo. Depois, e mais importante, é que estamos chegando
num limite do Tietê. Não há mais
espaço físico para grandes obras
de engenharia. Temos que continuar fazendo os piscinões previstos para a água chegar dos afluentes ao rio Tietê mais devagar. Mas
mesmo assim as áreas possíveis
estão acabando.
Folha - O que é possível fazer?
Arce - Uma chuva como a desta
semana não causaria tantos estragos há 40 anos, porque a área permeável da cidade era bem maior.
Havia menos construções e a
água não chegava tão rápido aos
rios Tietê e Pinheiros. Havia várzea, onde eu mesmo jogava bola.
Hoje, está tudo ocupado. É preciso mudar a lei de uso e ocupação
do solo na cidade, obrigando as
novas construções de casas e prédios a ter áreas verdes maiores,
por exemplo. Também temos de
controlar o crescimento da cidade, que ainda hoje explode nas periferias, principalmente nas áreas
de manancial [na zona sul], reduzindo a qualidade da água das represas. Caso contrário, ficaremos
sem água tratada e com mais enchentes no Tietê, a principal calha
da cidade. A natureza está nos
dando uma grande lição: ou tomamos juízo ou será o caos.
Folha - Mas e a obra no Tietê, que
já custou mais de R$ 1 bilhão? E os
piscinões que o Estado está construindo? Não vão surtir efeito?
Arce - Vão. Mas por um tempo
limitado, pois a impermeabilização da cidade é um processo contínuo. Já fizemos 20 piscinões, temos mais cinco em licitação e
construção e outros 27 em projeto. Mas em alguns anos não haverá áreas disponíveis para construir esses tanques de retenção.
Folha - Em quanto tempo? Dez
anos? Vinte anos?
Arce - Se continuarmos nesse ritmo, em mais dez anos chegaremos ao limite do Tietê. Além do
mais, a população não gosta de
piscinões. E é natural que seja assim. Ninguém gosta de lombada,
Febem e feira livre perto de casa.
Próximo Texto: São Paulo submersa: Vítimas da chuva fazem mutirão de limpeza Índice
|