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SAÚDE/ MEDICAMENTO
Dividir comprimidos pode afetar efeito terapêutico
Pesquisa mostra que as metades apresentam variação de conteúdo além do recomendado
Quando quebrado, o remédio pode sofrer alterações no teor ou se degradar em substâncias que tenham toxicidade
PAULO DE ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL
A prática de quebrar um
comprimido pela metade para
alcançar a dose prescrita pelo
médico pode prejudicar o tratamento ou expor o paciente a
uma superconcentração do remédio, deixando-o vulnerável a
efeitos tóxicos.
Uma pesquisa realizada por
farmacêuticos do setor de manipulação mostra que as metades obtidas na partição do comprimido apresentam uma variação de conteúdo além dos limites recomendados.
Foram analisados dois diuréticos -o furosemida 40 mg e o
espironolactona 25 mg. O estudo aponta que a partição resulta em "significativa diferença"
de massa entre as partes e perda de partículas.
Os comprimidos analisados
na pesquisa são de liberação
sustentada, ou seja, após a ingestão, são absorvidos pouco a
pouco pelo organismo.
"Esse tipo de medicamento
não deve ser partido em nenhuma condição", afirmou Vanessa
Pinheiro, coordenadora da pesquisa e integrante da Câmara
Técnica da Anfarmag (associação que representa o setor de
manipulação).
Segundo Vanessa, porém, a
quebra é desaconselhável em
qualquer caso, mesmo quando
o medicamento for fabricado
com um sulco para facilitar a
partição. "Vimos que a posologia (indicação de doses) acaba
comprometida quando o remédio é quebrado", disse ela.
Segundo a diretora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, Terezinha Andreoli
Pinto, a maioria dos comprimidos sulcados não se presta a
uma divisão "perfeita".
Quando quebrado, além da
falta de uniformidade, o remédio pode sofrer alterações no
teor ou se degradar em substâncias que tenham toxicidade.
"Em certos casos, há um limiar
muito estreito entre a perda do
valor terapêutico e uma agressão tóxica", disse Terezinha,
que diz ver um "risco grave", especialmente quando a quebra
ocorre sem orientação médica.
A pesquisa sobre partição de
comprimidos não analisou os
efeitos das meias doses em pacientes. "Não podemos precisar os males que essa prática
causa, mas certamente há um
prejuízo no tratamento", diz
Vanessa Pinheiro.
Problemas
O farmacêutico-chefe do Incor-SP, Valter Garcia Santos,
conta que já teve casos de pacientes que compraram comprimidos em concentrações
inadequadas, tiveram de parti-los e comprometeram o tratamento. "Alguns sofriam de hipertensão e, como partiam o
remédio, não conseguiam o
controle adequado da pressão".
Para o infectologista e conselheiro do Cremesp (Conselho
Regional de Medicina de São
Paulo) Caio Rosenthal, é sempre melhor evitar a quebra de
comprimidos, embora ele mesmo se veja obrigado a prescrever doses fragmentadas. O argumento é que o médico não
tem opção em certos casos.
"As doses são recomendadas
para pessoas com peso médio
de 70 kg. Se você tem um paciente de 50 kg e outro de 120
kg, é claro que será preciso fazer um ajuste", afirma.
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