São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2008

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JOENILSON XAVIER MENDES (1961-2008)

A vida e a morte no restaurante alemão

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com paciência de garçom e elegância de gerente, Joenilson Mendes servia mesas no Konstanz. Havia já perdido a conta dos copos que lavara até realizar seu sonho. Mas o restaurante era seu.
"Santos" era o apelido que ganhou ao nascer na cidade onde o pai trabalhou como pedreiro. Cresceu em Boninal (BA) labutando no açougue. E aos 17 tentou, também ele, a sorte em São Paulo, como servente. Isso até pôr os pés em um restaurante.
Tinha 18 quando virou copeiro do alemão Konstanz, em Moema -mas "foi demitido por quebrar um vidro de creme de leite", em 1986. Mendes foi garçom em outros lugares, sem deixar o anseio de ter seu próprio negócio. E eis que, 20 anos depois, ele comprava o velho Konstanz que o demitira.
Foi em 1º de julho de 2006 que o gerente exultou com a reabertura do lugar. Lá, servia mesa e até limpava chão, "com gosto", se precisasse. Mas sempre com sapato brilhando, cabelo alinhado e uma das 70 camisas bem passadas -que no armário organizava por tempo e cor, para nunca repetir. "Tinha um relógio para cada dia da semana", diz a filha. E cremes para manhã, tarde e noite. "Era totalmente metrossexual."
Assim ele enfrentava até 14 horas de trabalho. "Enfim, estava feliz." Até que, na madrugada de sábado, dois bandidos invadiram o restaurante, que já estava fechado. Ele reagiu, tomou três tiros e morreu. Tinha 46. Foi velado com camisa branca, sapatos engraxados -e um belo relógio no pulso.


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