São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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PASQUALE CIPRO NETO

Que venham os tedescos!

Bem que eu disse na semana passada que a garra seria fundamental. Os decisivos e garridos (não se esqueça do significado de "garrido") lampejos de Ronaldo e Ronaldo têm sido sustentados pela garra dos vários "carregadores de piano" da seleção.
Pois bem, agora é com os tedescos. E quem são os tedescos? São os teutônicos, os teutões. Quem? Os tudescos, germânicos. E quem são esses? São os alemães, ora.
Nossos dicionários registram todas essas palavras como adjetivos ou substantivos relativos à Alemanha ou à antiga Germânia. "Tudesco", por exemplo, é variante de "tedesco", que vem do italiano. Na língua de Dante Alighieri, a Alemanha é "Germania" (lê-se "dgermánia"), mas o adjetivo pátrio é "tedesco".
Domingo, quando você assistir à final da Copa do Mundo, não estranhe quando vir na tela, em inglês, o nosso Brasil virar "Brazil" e a Alemanha, "Germany".
Pois bem, dessa múltipla denominação relativa à Alemanha é preciso tirar pelo menos uma lição, que diz respeito à forma reduzida do gentílico, usada nos adjetivos compostos: "teuto". Poderíamos dizer, por exemplo, que pela primeira vez a final da Copa será "teuto-brasileira".
Em "final teuto-brasileira", como se vê, segue-se o padrão de flexão dos adjetivos compostos formados por dois adjetivos: só varia o segundo elemento. Assim, se em 2006 essa final se repetir, poder-se-á falar das duas finais "teuto-brasileiras", ou dos dois embates "teuto-brasileiros".
Talvez o leitor esteja pensando na possibilidade de inverter a ordem dos adjetivos, ou seja, de começar com "brasileiro". Poderíamos, então, ter uma final "brasileiro-alemã"? Ao pé da letra, poderíamos, mas o fato é que essa forma não tem tradição na língua. Além disso, deve-se levar em conta um fato importante: quando se juntam dois adjetivos pátrios, costuma-se colocar em primeiro lugar o mais curto.
É por essa razão que se diz "tratado luso-brasileiro" (em vez de "tratado brasileiro-português"), "acordo franco-brasileiro" (em vez de "acordo brasileiro-francês"), "cidadão ítalo-brasileiro" (em vez de "cidadão brasileiro-italiano"), "tratado franco-espanhol" (em vez de "tratado hispânico-francês").
A esta altura, o leitor talvez queira saber se há forma reduzida de "brasileiro". A mais citada nos dicionários e gramáticas é "brasilo": "acordo brasilo-uruguaio", "tratado brasilo-argentino", "acordo brasilo-canadense", "final brasilo-alemã". Esta forma, por sinal, seria preferível a "final brasileiro-alemã", já que é de praxe reduzir o primeiro adjetivo pátrio -se houver a forma reduzida, é claro.
De novo, entra em cena a tradição. Formas como "brasilo-canadense" ou "brasilo-argentino" não têm vida na língua, e é por isso que, nesses casos, costuma-se recorrer a outras soluções ("O acordo entre o Brasil e o Canadá", por exemplo).
Bem, alemães ou tedescos, teutônicos ou germânicos, o fato é que, quando os vejo jogar futebol, lembro-me de músicos americanos tentando tocar Tom Jobim: o som é meio quadrado. Ronaldos e Rivaldo neles! (Tomara!) É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br


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