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PASQUALE CIPRO NETO
Que venham os tedescos!
Bem que eu disse na semana passada que a garra seria fundamental. Os decisivos e garridos (não se esqueça do significado de "garrido") lampejos de Ronaldo e Ronaldo têm sido sustentados pela garra dos vários "carregadores de piano" da seleção.
Pois bem, agora é com os tedescos. E quem são os tedescos? São
os teutônicos, os teutões. Quem?
Os tudescos, germânicos. E quem
são esses? São os alemães, ora.
Nossos dicionários registram todas essas palavras como adjetivos
ou substantivos relativos à Alemanha ou à antiga Germânia.
"Tudesco", por exemplo, é variante de "tedesco", que vem do
italiano. Na língua de Dante Alighieri, a Alemanha é "Germania"
(lê-se "dgermánia"), mas o adjetivo pátrio é "tedesco".
Domingo, quando você assistir
à final da Copa do Mundo, não
estranhe quando vir na tela, em
inglês, o nosso Brasil virar "Brazil" e a Alemanha, "Germany".
Pois bem, dessa múltipla denominação relativa à Alemanha é
preciso tirar pelo menos uma lição, que diz respeito à forma reduzida do gentílico, usada nos
adjetivos compostos: "teuto". Poderíamos dizer, por exemplo, que
pela primeira vez a final da Copa
será "teuto-brasileira".
Em "final teuto-brasileira", como se vê, segue-se o padrão de flexão dos adjetivos compostos formados por dois adjetivos: só varia
o segundo elemento. Assim, se em
2006 essa final se repetir, poder-se-á falar das duas finais "teuto-brasileiras", ou dos dois embates
"teuto-brasileiros".
Talvez o leitor esteja pensando
na possibilidade de inverter a ordem dos adjetivos, ou seja, de começar com "brasileiro". Poderíamos, então, ter uma final "brasileiro-alemã"? Ao pé da letra, poderíamos, mas o fato é que essa
forma não tem tradição na língua. Além disso, deve-se levar em
conta um fato importante: quando se juntam dois adjetivos pátrios, costuma-se colocar em primeiro lugar o mais curto.
É por essa razão que se diz "tratado luso-brasileiro" (em vez de
"tratado brasileiro-português"),
"acordo franco-brasileiro" (em
vez de "acordo brasileiro-francês"), "cidadão ítalo-brasileiro"
(em vez de "cidadão brasileiro-italiano"), "tratado franco-espanhol" (em vez de "tratado hispânico-francês").
A esta altura, o leitor talvez
queira saber se há forma reduzida de "brasileiro". A mais citada
nos dicionários e gramáticas é
"brasilo": "acordo brasilo-uruguaio", "tratado brasilo-argentino", "acordo brasilo-canadense",
"final brasilo-alemã". Esta forma,
por sinal, seria preferível a "final
brasileiro-alemã", já que é de
praxe reduzir o primeiro adjetivo
pátrio -se houver a forma reduzida, é claro.
De novo, entra em cena a tradição. Formas como "brasilo-canadense" ou "brasilo-argentino"
não têm vida na língua, e é por isso que, nesses casos, costuma-se
recorrer a outras soluções ("O
acordo entre o Brasil e o Canadá", por exemplo).
Bem, alemães ou tedescos, teutônicos ou germânicos, o fato é
que, quando os vejo jogar futebol,
lembro-me de músicos americanos tentando tocar Tom Jobim: o
som é meio quadrado. Ronaldos e
Rivaldo neles! (Tomara!) É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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