|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BARBARA GANCIA
Arma na mão é ilusão
Toda vez que esta coluna
versa sobre a necessidade de
reduzir a quantidade de armas
de fogo em circulação, o mundo
vem abaixo. Imediatamente, minha caixa postal eletrônica é
inundada por e-mails de gente
muito bem organizada e cheia de
argumentos, dizendo-se contrária a qualquer tipo de restrição
na venda ou na posse de armas de
fogo.
Posso até concordar que, nas
áreas rurais, onde a presença da
lei muitas vezes inexiste, o cidadão tenha o direito de possuir
uma espingarda para se defender.
Mas, a esta altura dos acontecimentos, defender a livre circulação de armas como direito fundamental soa como alucinação ou
como opinião interessada.
Muitos dos e-mails enviados a
mim na semana passada pela
turma que acredita que a liberdade deva ser defendida a bala me
acusam de ingenuidade. "A senhora por acaso acha que bandidos compram armas em lojas?" é
uma das perguntas mais frequentes que me fazem, como se fosse
função do cidadão comum, e não
da polícia, enfrentar malfeitores.
Existem armas demais no país,
e a ilusão de que alguém possa
sentir-se seguro carregando uma
pistola semi-automática ganha
fôlego à medida que os grupos
que defendem o uso irrestrito de
armas continuam a produzir estatísticas muito diferentes daquelas com que trabalham os grupos
antiviolência.
Em vez de se prontificar a investir algum tutu na vigilância de
nossa fronteira com o Paraguai e
dos galpões de material bélico das
Forças Armadas, as duas maiores
fabricantes de armas do país, a
Taurus e a Companhia Brasileira
de Cartuchos (CBC), gastam rios
de dinheiro para eleger deputados (no momento, contam com o
apoio de 14, eleitos com a ajuda
de suas doações), que trabalham
para defender seus interesses no
Congresso Nacional.
Diante do lobby feroz, o cidadão deve, sim, armar-se. Não com
o tipo de arma que cospe metal,
mas com a única que realmente
pode debelar a violência: a informação. É ficar de olho na "bancada da arma" ou deixar que eles
deitem e rolem no governo Lula,
como fizeram no de FHC.
Saí extasiada do lançamento
do novo Harry Potter, na Livraria
Cultura. Que um livro seja motivo de festa já é excelente. Mas ver
a molecada no caixa, com uma
cópia do novo livro do mago teen,
em inglês, debaixo de um braço e
um dicionário "Oxford" debaixo
do outro, é emoção demais para
esta eterna adolescente.
Texto Anterior: Administração: Com déficit, contas de Marta são aprovadas Próximo Texto: Qualquer nota Índice
|