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São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

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BARBARA GANCIA

Arma na mão é ilusão

Toda vez que esta coluna versa sobre a necessidade de reduzir a quantidade de armas de fogo em circulação, o mundo vem abaixo. Imediatamente, minha caixa postal eletrônica é inundada por e-mails de gente muito bem organizada e cheia de argumentos, dizendo-se contrária a qualquer tipo de restrição na venda ou na posse de armas de fogo.
Posso até concordar que, nas áreas rurais, onde a presença da lei muitas vezes inexiste, o cidadão tenha o direito de possuir uma espingarda para se defender. Mas, a esta altura dos acontecimentos, defender a livre circulação de armas como direito fundamental soa como alucinação ou como opinião interessada.
Muitos dos e-mails enviados a mim na semana passada pela turma que acredita que a liberdade deva ser defendida a bala me acusam de ingenuidade. "A senhora por acaso acha que bandidos compram armas em lojas?" é uma das perguntas mais frequentes que me fazem, como se fosse função do cidadão comum, e não da polícia, enfrentar malfeitores.
Existem armas demais no país, e a ilusão de que alguém possa sentir-se seguro carregando uma pistola semi-automática ganha fôlego à medida que os grupos que defendem o uso irrestrito de armas continuam a produzir estatísticas muito diferentes daquelas com que trabalham os grupos antiviolência.
Em vez de se prontificar a investir algum tutu na vigilância de nossa fronteira com o Paraguai e dos galpões de material bélico das Forças Armadas, as duas maiores fabricantes de armas do país, a Taurus e a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), gastam rios de dinheiro para eleger deputados (no momento, contam com o apoio de 14, eleitos com a ajuda de suas doações), que trabalham para defender seus interesses no Congresso Nacional.
Diante do lobby feroz, o cidadão deve, sim, armar-se. Não com o tipo de arma que cospe metal, mas com a única que realmente pode debelar a violência: a informação. É ficar de olho na "bancada da arma" ou deixar que eles deitem e rolem no governo Lula, como fizeram no de FHC.
 
Saí extasiada do lançamento do novo Harry Potter, na Livraria Cultura. Que um livro seja motivo de festa já é excelente. Mas ver a molecada no caixa, com uma cópia do novo livro do mago teen, em inglês, debaixo de um braço e um dicionário "Oxford" debaixo do outro, é emoção demais para esta eterna adolescente.


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