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Docentes da USP criticam novo vestibular
Grupo de 90 professores aponta a falta de definição clara das regras do exame após as alterações anunciadas recentemente
Em texto distribuído, os autores afirmam que as mudanças na Fuvest podem colocar em risco o nível de ensino da universidade
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
As caixas postais da Universidade de São Paulo amanheceram ontem lotadas de e-mails
-mais de cem deles comentando o manifesto lançado por um
grupo de professores contrários à forma encontrada pela
instituição para mudar o seu
vestibular.
Figurões da vida acadêmica,
como os docentes Henrique
Fleming, do Instituto de Física,
Eunice Ribeiro Durhan, da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, e Sylvio
Ferraz Mello, do Instituto Astronômico e Geofísico, uniram-se a (até ontem à noite) 87 colegas na subscrição de um texto
que critica a "falta de definição
clara das regras do vestibular":
"Em qualquer concurso público, o formato dos exames deve
ser conhecido pelos candidatos
com antecedência".
O próximo vestibular, que escolherá os ingressantes de
2007 na USP, será o 30º da Fuvest (Fundação Universitária
para o Vestibular). Uma das alterações previstas é a redução
do número de questões da primeira fase. Os cem testes deverão ser reduzidos a 90, e as perguntas deverão ter "caráter interdisciplinar", ou seja, deverão
relacionar disciplinas -como
acontece no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), considerado mais fácil.
A discussão entre os professores da USP já vinha acalorada
desde que o Conselho Universitário aprovou "premiar" com
um bônus de 3% na nota final
do vestibular todos os candidatos que cursaram o ensino médio em escolas públicas -medida considerada "populista" por
muitos docentes. O tom elevou-se após a pró-reitora de
graduação (que tem assento no
conselho curador da Fuvest),
Selma Garrido Pimenta, dizer
em entrevista não saber se será
feita a divulgação prévia do número de questões por matéria,
como vem ocorrendo há anos.
Dirigentes de cursinhos e
vestibulandos criticaram a resposta, dizendo que gerava incertezas que aumentavam ainda mais a tensão do candidato.
Apesar disso, ontem, o professor José Coelho Sobrinho,
coordenador de Comunicação
da Fuvest e docente da Escola
de Comunicações e Artes, reafirmou que o manual do próximo vestibular, a ser ultimado
"em meados de julho", não deverá conter informações sobre
o número de questões de cada
disciplina. "Segundo as informações de que disponho, constará apenas o número total de
questões: 90", disse.
Os 90 signatários do manifesto são ainda poucos, se comparados ao total de docentes da
USP (5.000). Mas resolveram
fazer barulho porque acham
que as "mudanças bruscas nos
métodos de avaliação [dos candidatos a ingressar na universidade] feitas sem estudos e discussões mais aprofundadas podem levar a resultados indesejados, colocando em risco a
qualidade do ensino na USP".
A matriz das mudanças em
curso no vestibular da USP
atende pelo nome de Inclusp,
programa de inclusão social da
USP. A idéia-força do Inclusp é
aumentar a presença na universidade de estudantes provenientes da escola pública -hoje, apenas 23,6% do total de ingressantes na USP, contra 85%
do ensino médio.
Por intermédio da assessoria
de imprensa, a reitoria disse
"que as mudanças no vestibular
estão sendo analisadas há quatro, cinco anos pelos conselhos
de todas as unidades e que,
mesmo não tendo recebido oficialmente o texto do manifesto,
pedirá aos órgãos técnicos da
instituição que o analisem para
eventual aproveitamento".
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