São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

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Abrigos viram favela de teto único em Alagoas

Centenas convivem em espaço com higiene precária e falta de segurança

Desabrigados dividem salas de aula usando carteiras e lonas; em alguns cômodos, há mais de dez famílias

Daniel Marenco/Folhapress
Moradores de União dos
Palmares alojados em colégio


FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A UNIÃO DOS PALMARES (AL)

As escolas e prédios públicos cedidos para abrigar famílias que perderam as casas em Alagoas se transformaram em favelas de teto único. Nelas, centenas de pessoas convivem em um mesmo espaço com higiene precária, falta de segurança e sob risco de epidemias.
As enchentes em Pernambuco e Alagoas na semana passada mataram mais de 50 pessoas e obrigaram cerca de 150 mil a deixar suas casas. Sem privacidade, os desabrigados delimitam territórios usando carteiras escolares, lençóis e lonas plásticas.
Cercam pequenas áreas nos pátios e salas e instalam nelas o que restou das casas.
Na maioria dos abrigos, a situação é crítica. Em algumas salas, mais de dez famílias dividem o espaço. Colchões são colocados lado a lado no chão. O calor é grande, e o cheiro, nauseante. "Isso é um vulcão, que pode explodir a qualquer momento", afirma a professora Vera Lúcia Ferreira de Oliveira, 51, coordenadora do abrigo instalado na Escola Estadual Monsenhor Clóvis Duarte de Barros, em União dos Palmares (81 km de Maceió).
"Essa situação não pode continuar por muito tempo", diz ela. A aparente cordialidade entre os desabrigados esconde um clima de tensão e apreensão com o futuro.
"Como será isso daqui a um mês, se não levarem a gente para outro lugar?", questiona o lavrador Luiz Delmiro dos Santos, 38, que divide uma das salas de aula com outras oito famílias.

HOMENS ARMADOS
O abrigo improvisado era dividido por cerca de mil pessoas na sexta. Segundo a coordenadora, já foram registrados furtos e brigas. Os desentendimentos também ocorreram devido à presença de cachorros nos alojamentos e barulho das crianças nas áreas comuns.
Mas o caso mais grave aconteceu na quarta, quando dois homens armados entraram na escola procurando um dos desabrigados. Eles circularam pelas salas, mas não encontraram quem buscavam. Em seguida, repetiram a busca -sem sucesso- na Escola Municipal Mário Gomes de Barros. Não havia policiamento.
Também preocupa os coordenadores a falta de participação e a ociosidade dos desabrigados. Na Escola Monsenhor Clóvis Duarte, só sete pessoas aceitaram colaborar com as tarefas de manutenção do abrigo. "Há desunião, não há partilha", diz a diretora da escola Mario Gomes de Barros, Maria Madalena da Silva.
O abastecimento de água e energia foi interrompido.
O governo federal promete ajuda "sem limite". Anunciou até agora a liberação de R$ 550 milhões para ações de socorro e reconstrução das cidades destruídas.

Folha.com

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