São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

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Moradores começam a reconstruir suas casas

Enquanto alguns tentam recuperar os imóveis, outros buscam comida

Há uma semana, o desempregado Elaíde Tenório, 58, divide o cômodo que restou com outras 13 pessoas

ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PALMARES E BARREIROS (PE)

O sol forte não impediu que o aposentado José Alves da Silva, 82, passasse a manhã de sexta-feira no alto da casa atingida pelas enchentes, que assolaram há uma semana o município de Barreiros (a 114 km de Recife), onde ele mora.
Silva reaproveitava madeira e telhas velhas para consertar o telhado, destruído quando a água passou de três metros de altura. Na cidade, duas pessoas morreram por causa das fortes chuvas -foram 17 no Estado.
Alojado havia seis dias na casa de amigos, o aposentado não quis esperar a ajuda oficial. "Vou arrumar o que dá e voltar pra cá", disse ele, que já teve a casa atingida por duas outras enchentes.
Como o aposentado, muitos moradores das cidades atingidas têm pressa de reconstruir a vida.
Enquanto as prefeituras utilizam recursos liberados pelos governos federal e estadual para limpeza de ruas, reconstrução da rede de energia e vias de acesso, os habitantes tentam recuperar casas e móveis.
Ao contrário de Silva, que trabalhava sozinho, na mesma rua um grupo de parentes ajudava Laércio Sebastião Pires, 58, a colocar de pé novamente a moradia que teve as paredes rachadas.
Participavam do mutirão até pessoas cujas casas foram completamente destruídas e esperavam a chance de morar com Pires.
Nos bairros atingidos, o primeiro passo foi retirar a lama das casas. Algumas famílias se dividiam. Enquanto uns trabalhavam na reconstrução, outros iam atrás de água e comida. A regra mais valiosa era não abandonar a casa, para evitar saques.

SOFÁ LEVADO
Em Palmares (a 129 km de Recife), o auxiliar de serviços gerais Aloísio Machado, 25, usava a semana sem trabalho -por causa da tragédia- para recuperar sua casa, a cem metros do rio.
As paredes ficaram de pé, mas estão comprometidas.
Ao lado ficava a casa do irmão, que mora em São Paulo. Foi completamente destruída. Com a ajuda da mãe, Aloísio separava o que podia ser reutilizado, como telhas.
Ele pretendia ajeitar até hoje ao menos um cômodo para a família morar. Não é a primeira vez que a água do rio traz prejuízo. A cheia de 2000 invadiu a casa.
Aloísio nem pensa em deixar o terreno. "A terra é nossa, não tem pra onde ir."
Já o desempregado Elaíde Tenório, 58, se diz sem condições para reconstruir pela segunda vez a casa. Há uma semana ele divide um cômodo de 30 m2 que restou com outras 13 pessoas. "A situação é de calamidade, precisa de providência do governo."


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