|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Moradores começam a reconstruir suas casas
Enquanto alguns tentam recuperar os imóveis, outros buscam comida
Há uma semana, o desempregado Elaíde Tenório, 58, divide o cômodo que restou com outras 13 pessoas
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PALMARES E
BARREIROS (PE)
O sol forte não impediu
que o aposentado José Alves
da Silva, 82, passasse a manhã de sexta-feira no alto da
casa atingida pelas enchentes, que assolaram há uma
semana o município de Barreiros (a 114 km de Recife),
onde ele mora.
Silva reaproveitava madeira e telhas velhas para consertar o telhado, destruído
quando a água passou de
três metros de altura. Na cidade, duas pessoas morreram por causa das fortes chuvas -foram 17 no Estado.
Alojado havia seis dias na
casa de amigos, o aposentado não quis esperar a ajuda
oficial. "Vou arrumar o que
dá e voltar pra cá", disse ele,
que já teve a casa atingida
por duas outras enchentes.
Como o aposentado, muitos moradores das cidades
atingidas têm pressa de reconstruir a vida.
Enquanto as prefeituras
utilizam recursos liberados
pelos governos federal e estadual para limpeza de ruas,
reconstrução da rede de
energia e vias de acesso, os
habitantes tentam recuperar
casas e móveis.
Ao contrário de Silva, que
trabalhava sozinho, na mesma rua um grupo de parentes
ajudava Laércio Sebastião Pires, 58, a colocar de pé novamente a moradia que teve as
paredes rachadas.
Participavam do mutirão
até pessoas cujas casas foram completamente destruídas e esperavam a chance de
morar com Pires.
Nos bairros atingidos, o
primeiro passo foi retirar a lama das casas. Algumas famílias se dividiam. Enquanto
uns trabalhavam na reconstrução, outros iam atrás de
água e comida. A regra mais
valiosa era não abandonar a
casa, para evitar saques.
SOFÁ LEVADO
Em Palmares (a 129 km de
Recife), o auxiliar de serviços
gerais Aloísio Machado, 25,
usava a semana sem trabalho -por causa da tragédia-
para recuperar sua casa, a
cem metros do rio.
As paredes ficaram de pé,
mas estão comprometidas.
Ao lado ficava a casa do irmão, que mora em São Paulo. Foi completamente destruída. Com a ajuda da mãe,
Aloísio separava o que podia
ser reutilizado, como telhas.
Ele pretendia ajeitar até
hoje ao menos um cômodo
para a família morar. Não é a
primeira vez que a água do
rio traz prejuízo. A cheia de
2000 invadiu a casa.
Aloísio nem pensa em deixar o terreno. "A terra é nossa, não tem pra onde ir."
Já o desempregado Elaíde
Tenório, 58, se diz sem condições para reconstruir pela segunda vez a casa. Há uma semana ele divide um cômodo
de 30 m2 que restou com outras 13 pessoas. "A situação é
de calamidade, precisa de
providência do governo."
Texto Anterior: Minha história - Cícero Oscar Da Silva, 60: A situação vai melhorar Próximo Texto: Oceano mais quente influenciou clima Índice
|